Depois de metade de uma vida de
lutas em casa e no trabalho, com medo de cada novo dia, sinto como se eu
tivesse nascido como nova pessoa, depois do meu diagnóstico de TDAH do adulto.
Por Donna Surgenor Reames.
Estou sentada no pequeno posto de
enfermagem, olhando para a pilha organizada de papéis com o trabalho
completado. É só uma da madrugada e já fiz tudo. O trabalho, que geralmente me
faria lutar para terminar antes do horário de mudança de equipe, às sete da
manhã, está terminado. Não só terminado: feito corretamente, com um nítido
foco.
Eu sorrio, me espichando na
cadeira. "Então, é assim que os normais se sentem? Penso, assombrada.
Toda a minha vida, briguei com a
vaga sensação de que algo era diferente comigo. Me sentia inferior, inadequada,
indisciplinada e desorganizada sem conserto. Todos esses sentimentos tinham
sido, uma vez ou outra, reforçados pelos outros na minha vida.
"Donna, você não pode nunca
ser pontual?"
"Você não pode viver nessa
bagunça".
"Como você pode não saber
onde estão os registros de nascimento das suas filhas?"
"Você deve ser uma dessas
pessoas que não conseguem se organizar".
Eu costumava me sentir cansada já
antes de sair da cama, com medo do novo dia e de suas várias obrigações. Eu
ficava exausta, lutando no trabalho e em casa, com meus filhos. Eu precisava de
cada tantinho de força física, mental, emocional e espiritual para viver minha
vida, até que, finalmente, encontrei alguém que escutou minha história e me deu
uma chance de fazer algo a respeito.
Ele não me deu uma agenda ou um
livro sobre organização. Ele não me criticou por preguiça ou me aconselhou
sobre criar filhos. Ele me deu uma receita.
"Tome isso e veja o que
acontece", ele disse. "Creio que você tem TDAH do adulto". Ele
foi a primeira pessoa a acreditar em mim quando eu disse que havia alguma coisa
errada além de depressão ou de uma personalidade fundamentalmente
desorganizada. Sempre senti que havia uma parte de mim que poderia ser
estruturada, que poderia ser organizada, que poderia funcionar com facilidade.
Só não sabia onde ela estava e como atingi-la.
Uma nova mãe
Outro dia, quando eu parei num
posto de gasolina, outro carro parou na nossa frente. A mulher estava gritando
e xingando. Fui até ela. "Olá! Me desculpe se eu a irritei", eu
disse. "Estou levando meus filhos para a escola, estávamos conversando e
talvez eu não tenha lhe dado o espaço suficiente".
A mulher se acalmou notavelmente
e balançou sua cabeça. "Não, é minha culpa" ela disse. "Estou
cansada logo cedo e fiquei brava. Não se incomode com isso". Quando voltei
para meu carro, minha filha mais velha, Zoë, me olhou com os olhos arregalados.
"Mãe", disse com
entusiasmo, "Não posso acreditar como você foi tão legal!" (Como é
duro descobrir que seus filhos acham que você é um babaca, na agonia da
irritabilidade diária ligada ao TDAH.) Dei uma risada. "Vocês têm uma nova
mãe, meninas!", disse enquanto seguíamos em frente.
No passado, uma situação como
essa provocaria em mim uma explosão. Eu gritaria e sairia do sério. Costumava
pensar que tinha um problema com minha raiva. Agora sei que meus nervos estavam
sendo postos no seu limite, e as coisas que os outros tiravam de letra, para
mim eram insuportáveis.
Em casa, nossa vida se acalmou.
Passamos a comer juntos mais frequentemente e minhas filhas gostam da minha
comida. Não tento mais fazer 15 coisas diferentes enquanto faço o jantar, por
isso já não me queimo como antes. Também consegui seguir um sistema para
organizar meus armários - e está funcionando!
Porque, agora, eu compreendo que
tenho um transtorno que requer que eu faça as coisas de modo um pouco
diferente, eu as faço sem
me sentir burra ou preguiçosa. O
que eu descobri sobre mim mesma é completamente o oposto: posso ser muito
organizada e disciplinada se eu me permito ser. Meu remédio acalmou algo dentro
de mim, permitindo que eu respire fundo e viva em ritmo mais lento.
ADDitude
Parabéns pelo texto. Me identifico com todos ( e quando digo todos , sim são tooooooodos) os textos, livros artigos, piadas , Vidrios ,depoimentos e tudo mais que fala sobre TDAH. O que é um alivio e uma agonia. Tenho procurado ajuda com neurologistas. Só consegui desdém e receitas de calmantes
ResponderExcluir. Como vc descobriu?
Obrigado pelo comentário. A autora do artigo poderia responder a sua pergunta. Ela se chama Donna Surgenor Reames. Eu só traduzi e publiquei. Dr Menegucci
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