Processamento sensorial (às vezes chamado de “integração
sensorial”) é um termo que se refere ao modo como o sistema nervoso recebe
mensagens dos sentidos e as transforma em respostas motoras e comportamentais
adequadas. Se você estiver comendo um sanduíche ou andando de bicicleta, ou
lendo um livro, a realização bem sucedida dessas atividades necessita do
processamento das sensações ou da “integração sensorial”.
O Transtorno do Processamento Sensorial (antigamente
denominado de “disfunção da integração sensorial”) é uma condição que existe
quando os sinais sensoriais não são organizados em respostas adequadas.
Pioneiro da terapia ocupacional e neurocientista, A. Jean Ayres, Ph.D., ligou o
TPS a um congestionamento do tráfego neurológico que impede que certas partes
do cérebro recebam a informação de que precisam para interpretar a informação
corretamente. Uma pessoa com TPS tem dificuldade de processar e de agir com a
informação recebida por meio dos sentidos, o que cria desafios na realização
das inúmeras tarefas do dia-a-dia. Incoordenação motora, problemas de
comportamento, ansiedade, depressão, fracasso escolar e outros impactos podem
resultar desse transtorno, se não for tratado corretamente.
Um estudo (Ahn, Miller, Milberger, McIntosh, 2004) mostrou
que ao menos uma em 20 crianças tem sua vida afetada pelo TPS. Outra pesquisa,
feita pelo Sensory Processing Disorder Scientific work Group (Bem-Sasson,
Carter, Briggs-Gowen, 2009) sugere que uma em cada seis crianças apresentam
sintomas sensoriais que podem ser suficientes para afetar aspectos das funções
de sua vida diária. Os sintomas do TPS, como os da maioria dos transtornos,
ocorrem em um amplo espectro de gravidade. Enquanto muitos de nós temos
dificuldades ocasionais em processar a informação sensorial, para as crianças e
adultos com TPS, essas dificuldades são crônicas e perturbam sua vida
diariamente.
Com o que se parece o TPS
O Transtorno de Processamento Sensorial pode atingir as
pessoas em um único sentido – por exemplo, somente o tato ou o movimento – ou
em múltiplos sentidos. Uma pessoa com TPS pode responder exageradamente às
sensações e achar que as roupas, o contato físico, a luz, o som, os alimentos
ou outros estímulos sensoriais sejam insuportáveis. Outra pode responder pouco
e mostrar pequena ou nenhuma reação à estimulação, mesmo a dor ou calor e frio
extremos. Em crianças cujos processamentos sensoriais das mensagens dos
músculos e das articulações estejam prejudicados, a postura e as habilidades
motoras podem ser afetadas. Essas são as “floppy babies” (bebês hipotônicos,
“moles”), que assustam os pais e as crianças que no pátio da escola são
chamadas de desajeitadas ou imbecis. Outras crianças, em contraste, exibem um
grande e inesgotável apetite por sensações. Essas crianças geralmente são
diagnosticadas erradamente – e medicadas indevidamente – como TDAH.
O TPS geralmente é mais diagnosticado em crianças, mas
pessoas que chegam à idade adulta sem tratamento também apresentam sintomas e
continuam a ter suas vidas atingidas por sua incapacidade de interpretar
corretamente as mensagens sensoriais.
Esses adultos podem ter dificuldade em realizar as rotinas e
as atividades necessárias para o trabalho, para os relacionamentos pessoais e
para a recreação. Como os adultos com TPS já lutaram muito tempo em suas vidas
com essas dificuldades, eles podem apresentar depressão, insucesso
profissional, isolamento social e outros efeitos secundários.
Infelizmente, o diagnóstico errado é muito comum porque os
profissionais da saúde não são treinados para reconhecer os problemas
sensoriais.
As causas do TPS
As causas exatas do TPS – como as causas do TDAH e de tantos
outros transtornos do neurodesenvolvimento – ainda não foram identificadas.
Entretanto, os estudos e as pesquisas preliminares sugerem alguns principais
elementos.
O que provoca o TPS é uma pergunta que pressiona cada pai de
uma criança com o transtorno. Muitos se preocupam se são de alguma forma culpados pelos
problemas de seus filhos.
“Foi algo que eu fiz?”, eles querem saber.
As causas do TPS estão entre os assuntos que os
pesquisadores da “Sensory Processing Disorder Foundation” e seus colaboradores
em vários lugares estão estudando. A pesquisa preliminar sugere que o TPS
geralmente é herdado. Se for assim, as causas do TPS são codificadas no material
genético da criança. Complicações pré-natais e do parto também foram
implicadas, e fatores ambientais podem estar envolvidos.
Naturalmente, como acontece com qualquer transtorno do
desenvolvimento e do comportamento, as causas do TPS são provavelmente o
resultado de fatores que tanto são genéticos quanto ambientais. Somente com
mais pesquisa será possível identificar o papel de cada um deles.
Um resumo das pesquisas sobre a causa e a prevalência se
encontra em “Sensational Kids: Hope and Help for Children With Sensory
Processing Disorder” (New York: Perigee, 2006).
Impacto emocional e outros impactos do TPS
Crianças com TPS geralmente têm problemas com as habilidades
motoras e com outras habilidades necessárias para o sucesso escolar e para os
eventos da infância. Como resultado, elas geralmente se tornam socialmente
isoladas e sofrem de baixa autoestima e de outros problemas sociais e
emocionais.
Essas dificuldades colocam as crianças com TPS em alto risco
de muitos problemas emocionais, sociais e educacionais, incluindo a capacidade
de fazer amigos e de ser parte de um grupo, ter fraco autorrespeito, de fracasso acadêmico, de ser rotuladas de
desajeitadas, não cooperativas, beligerantes, briguentas e fora de controle.
Ansiedade, depressão, agressão ou outros problemas de comportamento podem
surgir. Os pais podem ser acusados pelo comportamento dos seus filhos pelas
pessoas que não estão cientes das dificuldades “escondidas” das crianças.
O tratamento eficaz para o TPS está disponível, mas muitas
crianças com sintomas sensoriais são mal diagnosticadas e não corretamente
tratadas. O TPS não tratado que persiste até a vida adulta pode afetar a
capacidade de o indivíduo ser bem sucedido no casamento, no trabalho e no
ambiente social.
Como o TPS é tratado
Muitas crianças com TPS são tão inteligentes quanto os
colegas. Muitas são intelectualmente bem dotadas. Seus cérebros são simplesmente
organizados de modo diferente. Elas precisam
ser ensinadas de modo adaptado ao jeito com que elas processam a
informação, e precisam de atividades de lazer que sejam adequadas às suas
necessidades próprias de processamento sensorial.
Depois de devidamente diagnosticadas com TPS, elas se
beneficiam de um programa de tratamento de terapia ocupacional (TO) com abordagem
de integração sensorial (IS).
Quando correta e aplicada por um clínico bem
treinado, a terapia auditiva (como o Sistema Auditivo Integrado) ou outras
terapias complementares podem ser combinadas eficazmente com a TO-IS.
A terapia ocupacional com a abordagem da integração
sensorial tipicamente se torna um ambiente sensorialmente rico, algumas vezes
chamado de “OT gym”. Durante as sessões de TO, o terapeuta guia a criança em
meio a atividades divertidas que são sutilmente estruturadas de modo que a
criança seja constantemente desafiada, mas sempre de modo bem sucedido.
O objetivo da TO é de criar respostas apropriadas à sensação
de modo ativo, com significado e divertido, para que a criança seja capaz de se
comportar de uma maneira mais funcional. Com o tempo, as respostas corretas se
generalizam para o ambiente além da clínica, incluindo o lar, escola e toda a
comunidade. A terapia ocupacional eficaz permite, assim, que crianças com TPS
tomem parte nas atividades normais da infância, tais como brincar com os
amigos, gostar da escola, comer, vestir-se e dormir.
Idealmente, a terapia ocupacional para o TPS é centrada na
família. Os pais são envolvidos e trabalham com o terapeuta para aprender mais
sobre os desafios sensoriais dos seus filhos e os métodos de engajamento nas
atividades terapêuticas (algumas vezes chamadas de “dieta sensorial”) em casa e
nos outros locais. O terapeuta da criança pode propor ideias aos professores e
outras pessoas fora da família e que interajam regularmente com a criança. As
famílias têm a oportunidade de comunicar suas próprias prioridades para o
tratamento.
O tratamento do TPS ajuda os pais e outras pessoas que vivem
e trabalham com as crianças atingidas a entenderem que o TPS é real, mesmo que
fique “escondido”. Com essa confirmação, eles se tornam melhores advogados dos
seus filhos na escola e na comunidade.
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