Uma nova maneira de avaliar o
processamento neural de crianças com TDAH revela que, ao contrario do
convencional, o transtorno não representa necessariamente um prejuízo do
aprendizado, tanto quanto um prejuízo da tomada de decisões.
"Indivíduos com TDAH não devem ser
caracterizados por um prejuízo do aprendizado per se, em contraste do que foi
sugerido por modelos teóricos", escreveram os autores, liderados por
Tobias U, Hauser, PhD., da University College London´s Wellcome Trust Centre
for Neuroimaging.
"Na verdade, eles têm um processo de
decisão menos preciso e avaliam mais vezes".
O estudo foi publicado online no dia 20 de
agosto no JAMA Psychiatry.
Nova
abordagem por imagem
O TDAH, afirmam os autores, tem sido ligado
a fraca tomada de decisões e dificuldade de aprendizado. Modelos de TDAH sugerem
que esses déficits "podem ser causados por deficiência no reconhecimento
de 'erros na previsão de recompensa' (RPEs), que são sinais que indicam
violação de expectativas, e sabidamente codificados pelo sistema
dopaminérgico".
Entretanto, os investigadores afirmam que
"o déficit preciso de aprendizado e de tomada de decisões, e seu
correspondente neurobiológico no TDAH, não é bem conhecido".
Para o estudo, 20 adolescentes, com idade
de 12 a 16 anos, com TDAH, e 20 indivíduos sadios, de controle, foram
submetidos a testes psiquiátricos durante a realização simultânea de
ressonância magnética funcional (fRMI) e eletroencefalograma (EEG).
A combinação das duas modalidades permite
uma avaliação que supera as fraquezas de cada método, segundo Dr. Hauser.
A ressonância magnética funcional (fRMI),
por exemplo, tem uma resolução temporal muito fraca, enquanto o EEG tem uma
falta de resolução espacial. A combinação dos dois permite não somente
localizar as deficiências mas, também, nos mostra em que instante a deficiência
acontece. Isso nos informa se ela ocorre no início ou no final do
"processo de pensamento".
Nos testes, os investigadores usaram uma
nova comparação de dois modelos de computação psiquiátrica - um modelo
Rescorla-Wagner avançado, que se mostra bem sucedido em demonstrar o
aprendizado de um participante em tarefas de aprendizado com reversão
probabilística, e um modelo de aprendizado Bayesiano mais flexível, que comanda
um processo de aprendizado mais refinado.
É o primeiro estudo que utiliza esses
modelos computacionais para entender as deficiências de tomada de decisão em
combinação com imagem multimodal, segundo Dr. Hauser.
Por meio dessa abordagem, é possível
entender os mecanismos por trás das dificuldades na tomada de decisões e seus
correlatos neurais, no TDAH.
Os desafios enfrentados pelos
participantes, enquanto eram submetidos às técnicas simultâneas de
neuro-imagem, geralmente envolviam o aprendizado, por tentativa e erro, de qual
de duas imagens resultava em melhor recompensa de dinheiro, com o objetivo de
ganhar a maior quantidade de dinheiro possível. As probabilidades de recompensa
eram mudadas ocasionalmente, requerendo que os participantes a elas se
adaptassem.
Implicações
clínicas ?
Os resultados não mostraram nenhuma
diferença significativa entre os grupos quanto aos tempo médios de reação, à
variabilidade do tempo de reação e ao número de erros. Entretanto, os
participantes com TDAH ganharam menos dinheiro (P = 0,08).
Adolescentes com TDAH mostraram
aprendizado mais simplista e também tiveram aumento do comportamento
exploratório, quando comparados aos participantes sadios (P = 0,02).
Por sua vez, a ressonância magnética
funcional mostrou deficiência no processamento dos RPEs, ou sinais que sugerem
violações das expectativas, que foram ligadas ao TDAH em modelos prévios da
condição. Deficiências de RPEs foram observadas no córtex pré-frontal medial -
uma área largamente associada com a tomada de decisões - durante o estímulo
assim como na apresentação do resultado.
Embora pesquisa anterior também tenha
implicado o córtex pré-frontal no TDAH, a imagem mostrou o momento preciso do
impacto, que ocorreu em um estágio inicial, aproximadamente meio segundo depois
do feedback.
Não é somente a deficiência dos RPEs do
córtex pré-frontal medial uma causa possível da seleção de escolhas sub-ótimas,
refletidas no comportamento mais exploratório, mas a imagem também ajudou a
apontar quais áreas do córtex pré-frontal medial são afetadas.
"As regiões do córtex pré-frontal
medial que foram descobertas como deficientes são adjacentes às regiões
principais sabidamente responsáveis pelo processamento dos RPEs",
escreveram os autores.
"Isso sugere que indivíduos com TDAH
podem não processar os RPEs de modo diferente nas regiões principais. Em vez
disso, parece que os RPEs são processados em áreas menos extensas".
Considerando o comportamento, os achados
oferecem uma possível explicação para os desafios de tomada de decisões e as
potenciais estratégias para superá-los, disse o Dr. Hauser.
"Adolescentes com TDAH possivelmente
tomam decisões mais fracas e mais impulsivas quando têm um tempo limitado para
decidir, ou se estão sob a pressão de outros adolescentes", ele explicou.
"Essa fraqueza poderia ser superada
se as pessoas com TDAH pudessem aprender a refletir profundamente sobre os
ganhos potenciais e os custos de suas decisões".
Achados
intrigantes
O estudo é importante ao somar para o
entendimento dos mecanismos subjacentes ao TDAH, o que é importante para o
desenvolvimento de intervenções para ajudar a combater e compensar os déficits,
disse Cathryn A. Galanter. MD., diretora do programa psiquiátrico de
treinamento de adolescentes no SUNY Downstate/Kings County Hospital Center, no
Brooklyn, em Nova Iorque.
"Esses achados são intrigantes e
precisam de replicação", ela disse ao Medscape Medical News.
"Embora seja muito cedo para tirar
implicações clínicas desses resultados, eles contribuem muito para a evidência
neurocientífica do que vemos clinicamente: que crianças com TDAH podem ter estilos
diferentes de aprendizagem e, assim, podem se beneficiar de diferentes
abordagens para ajudá-las a aprender".
"São necessários mais estudos para
nos ajudar a entender os processo subjacentes do aprendizado e da tomada de
decisões das crianças com TDAH, disse Dra. Galanter.
JAMA Psychiatry. Published online August
20, 2014.