sexta-feira, 20 de julho de 2012

222- O "Mito" do TDAH: Como entender o que você ouve por aí


Esclarecimento sobre o TDAH  - Prof. Dr. Paulo Matos


As dúvidas movem a ciência e permitem o progresso, porque impulsionam os cientistas a tentar esclarecê-las. Dúvidas, portanto, representam algo inestimável e imprescindível para todas as áreas da ciência; para a medicina não é diferente. Existe atualmente um grande número de questões não esclarecidas sobre diferentes aspectos de muitas doenças; são estas dúvidas que estão ocupando os cientistas do mundo inteiro neste exato momento e vão ocupá-los por toda sua vida profissional.

E o que fazem os cientistas? Eles fazem pesquisas com critérios rigorosos para testar suas hipóteses. Para isto, devem submeter seu projeto a um comitê de ética e ter cada etapa de seu trabalho avaliada e aprovada antes mesmo de começar. Quando a pesquisa termina, os cientistas publicam os resultados em revistas especializadas, para que os conhecimentos não apenas sejam conhecidos por todos os demais cientistas, como também para que outros possam verificar os resultados e tentar reproduzi-los para confirmá-los ou rejeitá-los. A isto chama-se de método científico e é a única maneira de se controlar os conhecimentos gerados por pesquisas.

Um cientista mal intencionado publicou resultados fraudulentos? A única forma será verificar os resultados de sua pesquisa (eles são obrigatoriamente armazenados durante muitos anos). Outro tirou conclusões erradas a partir dos resultados de sua pesquisa? Basta verificar a metodologia, conferir os resultados e ver se há outras conclusões possíveis. Alguém recebeu verba de um patrocinador que potencialmente influenciou a análise dos resultados? Informações sobre verbas são obrigatórias e caso haja uma infração, nenhuma revista científica publicará mais artigos deste pesquisador. Existiu alguma fraude com os dados? É possível saber verificando os materiais originais da pesquisa e os relatórios publicados; várias revistas publicam imediatamente editoriais quando descobrem algum tipo de erro ou fraude.

Portanto, somente o método científico nos dá a segurança de que uma determinada informação é segura, porque deste modo ela pode ser analisada, verificada, confirmada ou abandonada. Para isso existem as revistas científicas especializadas que só publicam pesquisas que respeitaram o método científico e que foram previamente avaliadas por um grupo de pesquisadores imparciais e com experiência. Quando ocorrem erros, de qualquer natureza, este é o único modo de eles serem descobertos e corrigidos: através de publicações científicas padronizadas.

Agora, imagine que alguém lhe diga que “determinada doença é causada por isto ou por aquilo” ou ainda que “determinado medicamento causa este ou aquele problema”. Você aceitaria, de bom grado? Sem pedir nenhuma comprovação científica? Sem pedir para ver os artigos científicos publicados em revistas especializadas?

Como você pode saber se algo que um profissional de saúde está dizendo é verdade? Qualquer ideia pode fazer algum sentido e mesmo assim ser falsa; nem toda lógica é verdadeira, obviamente. Muitas vezes, um discurso inflamado, aparentemente bem intencionado, é cheio de conclusões que não tem qualquer fundamento científico e não se baseia em nenhum achado de pesquisa. No Brasil, frequentemente pessoas fazem discursos e até mesmo iniciam campanhas sobre saúde baseadas em suas opiniões pessoais ou suas crenças políticas; ou seja, no que elas “acham”- é o famoso “achismo”.

E quanto ao TDAH? Existem dúvidas sobre inúmeros aspectos específicos do TDAH, assim como existem com relação ao câncer, ao diabetes, ao infarto do miocárdio, ao Parkinson, etc. Mas não existe nenhuma dúvida, no meio científico, quanto a sua existência: o TDAH é um dos transtornos mais bem estudados em toda a medicina e é descrito por médicos há mais de 2 séculos.

Mas por que algumas pessoas insistem em dizer que “TDAH não existe”?

Em primeiro lugar, vamos esclarecer quem reconhece o TDAH como uma doença: a Organização Mundial da Saúde. Além disso, no Brasil, temos a Associação Médica Brasileira, a Associação Brasileira de Psiquiatria, a Academia Brasileira de Neurologia e a Academia Brasileira de Pediatria. Você não acha estranho que alguém conheça “uma verdade” que é ignorada por todas as organizações médicas?

Bem, o modo mais simples e rápido de terminar uma discussão sobre “a existência do TDAH” seria pedir que os indivíduos que negam sua existência forneçam artigos científicos que sustentem sua opinião. Mas eles jamais o farão, porque tais artigos.... não existem! O seu discurso sempre será baseado no “achismo” e sempre dará a impressão de que estão lutando por uma causa justa, para “defender” a população de algum mal terrível. Por outro lado, artigos mostrando que existem bases neurobiológicas e genéticas no TDAH somam mais de 10.000 atualmente (isto mesmo, dez mil, você leu corretamente).

Algumas pessoas, talvez, fiquem na dúvida sobre a existência do TDAH porque “todo mundo tem um pouco”. O que ocorre é que todo mundo tem alguns sintomas de TDAH; este diagnóstico é feito pela quantidade de sintomas e não na base do “tudo ou nada”. Exatamente como no diabetes, na hipertensão arterial, no glaucoma, na osteoporose, etc.: o que dá o diagnóstico é a intensidade ou quantidade.

Existem também indivíduos que acreditam que todo e qualquer problema de comportamento (TDAH nem sempre causa problemas de comportamento, ressalte-se) é causado “pela sociedade”. Geralmente estas pessoas estão fortemente envolvidas com grupos políticos que pregam intervenções do governo na sociedade (também chamada de “engenharia social”, muito comum nos regimes ditatoriais comunistas). Tais movimentos remontam à ideia comprovadamente equivocada de que os homens nascem invariavelmente bons e puros e é a sociedade que os corrompe. Estas ideias, que datam do século XVIII, não sobreviveram aos achados da genética e das neurociências, que não existiam naquela época.

Outros, ainda acreditam que todo e qualquer problema psíquico é causado por fatores psicológicos, apesar da farta literatura científica sobre as bases neurobiológicas e genéticas do TDAH. Desnecessário dizer que geralmente tais indivíduos ganham a vida fazendo tratamento psicológico para as doenças; raramente, entretanto, falam sobre o seu próprio conflito de interesses.

Por fim, ainda há aqueles que tomam conhecimento de diagnósticos errados de TDAH, de prescrições equivocadas de medicamentos, de automedicação para fins recreativos ou para aumento do desempenho em provas e passam então a dizer que “o diagnóstico é falho” ou “o tratamento é similar ao uso de uma droga”. Não é difícil enxergar que a existência destes erros em nada comprometem nem o diagnóstico nem o tratamento do TDAH. Pense nos antibióticos: eles são muito prescritos de modo errado. Usam-se antibióticos, por exemplo, para infecções de garganta com muita frequência, um uso sabidamente equivocado (elas são causadas na maioria das vezes por vírus, que não são combatidos com antibióticos). Nem por isso deve-se abolir os antibióticos, que curam e salvam vidas quando usados corretamente. O mesmo exemplo ainda serve para aqueles indivíduos que dizem que “os medicamentos para TDAH são inespecíficos e agem em qualquer pessoa”: de fato, os antibióticos matam as bactérias em qualquer um, mas só curam aqueles que estão com pneumonia.

TDAH não é um mito. Muito daquilo que se fala contrariamente ao seu diagnóstico e tratamento são simplesmente “achismos”, crenças sem fundamento objetivo ou científico; ou seja, são mitos. E mitos, definitivamente, não são algo em que você deva confiar quando se trata de sua saúde ou da saúde de seus filhos.

Paulo Matos
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Mestre e Doutor em Psiquiatria e Saúde Mental
Pós-doutor em Bioquímica
Presidente do Conselho Científico da ABDA

quarta-feira, 18 de julho de 2012

221- TDAH - Quando você decide que é hora de terminar o casamento?


Quando você decide que é hora de terminar o casamento?
JustwannagiveupCouples With One ADHD Partner30 Comments
Olá, sou nova aqui. Hubby e eu estamos casados há 8 anos, juntos há 10 anos e temos dois filhos, de 4 e de 1 ano. Ele é o esposo com TDAH e eu não. Antes de termos os filhos, ele era definitivamente TDAH, mas não tão ruim como agora. Ele toma seu remédio durante a semana (90 mg de Adderal XR) para ajudá-lo a prestar atenção no trabalho, mas não gosta de tomá-lo nos fins de semana, para dar uma pausa livre de remédios para seu organismo. Mas eu sinto que parece que ele sofre como se fossem os sintomas de abstinência, por causa disso. Ele se torna maníaco, especialmente junto da família. Ele também fica um pouco assim perto dos amigos mas não tanto quanto perto da minha família e da dele. Acho que o que me incomoda tanto agora é que ele está ensinando ao nosso filho que está tudo bem em ficar amolando as pessoas até que elas gritem com você. Entretanto, durante a semanas, quando ele está usando os remédios, ele fica constantemente dizendo ao filho para não amolar sua irmã. Totalmente dois pesos e duas medidas e muito hipócrita. Tentei falar disso com ele na noite passada, sobre como ele se comportou mal no último final de semana, mas ele parecia que não entendia. Não sei como falar com ele porque se eu começo ele parece desligar ou não me dar atenção. Ele tente ser o centro da atenção até o ponto de gritar com as pessoas e interromper as conversas, e se comporta maldosamente comigo quando não está usando a medicação. Sinto como se o Adderal estivesse piorando o TDAH, especialmente quando ele está sem o remédio. Não quero que meus filhos cresçam pensando que seja legal ser um imbecil com as pessoas. E é exatamente isso que ele está ensinando ao nosso filho. Minha pergunta é, como eu posso ajudá-lo a controlar isso? Eu tento e dou a ele artigos para ler, livros etc., e ele não consegue prestar atenção o suficiente para os ler... ele lê o mesmo parágrafo várias vezes e não consegue aprender nada. Então, conversar não adianta, ler não adianta. Eu deveria dizer a ele que gostaria de conversar com seu médico, juntos, para ver se conseguimos descobrir outro modo de tratamento? Quando você decide que já fez tudo o que podia e desiste? Não quero isso, porque ele ainda seria uma influência sobre nossos filhos se eu o deixasse, mas, do jeito que as coisa andam atualmente, eu me sinto totalmente frustrada e o pai deles é um mal exemplo para eles. E eu não tenho nenhum apoio financeiro para cuidar deles. Poderia morar com minha família por algum tempo, e eles me sustentariam por algum período, mas eu não tenho educação universitária e nenhuma experiência de trabalho. Teria de começar do zero. É aterrorizante. Eu gostaria que ele assumisse comigo os compromissos e que lidasse com seu problema, em vez de usá-lo como uma muleta. Ele ficou verdadeiramente insuportável no último final de semana.

terça-feira, 17 de julho de 2012

220- Carta de Esclarecimento à Sociedade sobre o TDAH, seu diagnóstico e tratamento.

Brasília, 13 de Julho de 2012

Recentemente, uma série de matérias sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem sido veiculada pela mídia jornalística não especializada. Em boa parte dessas matérias, profissionais apresentados como especialistas em saúde e educação (embora seus currículos informem não terem publicações científicas sobre o assunto) transmitem opiniões pessoais como se fossem informações científicas. Pior, suas opiniões não refletem os conhecimentos atuais sobre o transtorno, que é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e sobre o qual constam centenas de publicações em bancos de dados (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/) descrevendo claramente as graves consequências nas esferas acadêmica, familiar, social e profissional. Tais opiniões equivocadas são nocivas para pacientes, familiares e para a população como um todo.
A afirmação de que o TDAH “não existe”, de que os medicamentos aprovados pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o tratamento desse transtorno são “perigosos” e tornam as crianças “obedientes” é, na melhor das hipóteses, expressão pública de ignorância em relação ao tema, investigado cientificamente de modo extenso por pesquisadores de todo o mundo, muitos deles brasileiros. Na pior das hipóteses, configura crime porque veicula informações erradas sobre tema de saúde pública. Incontáveis Associações Médicas ao redor do mundo já se posicionaram não deixando dúvidas sobre a validade do TDAH (vide posicionamento da Associação Médica Americana em Referências no final do texto).
Tais matérias induzem os leitores à falsa conclusão que há dúvidas não apenas quanto à existência do TDAH, como sobre os benefícios do tratamento medicamentoso. Obviamente, tais textos jamais citam qualquer artigo científico, nenhum dado de pesquisa, demonstrando os tais efeitos “perigosos” ou graves. E, numa prova incontestável da natureza parcial e enganosa, em desrespeito aos princípios básicos do jornalismo, deixam de citar centenas de artigos científicos que documentam fartamente os benefícios, a eficácia e a segurança dos medicamentos usados no tratamento do TDAH. Recentemente, um grande estudo publicado no mais importante jornal Inglês de Psiquiatria documentou que o metilfenidato é a medicação mais eficaz em Psiquiatria e uma das mais eficazes em toda a Medicina (vide em Referências no final do texto).
Os sintomas que caracterizam o TDAH não são comportamentos infantis comuns, meras variações da normalidade, que médicos, pais e professores querem “controlar”. Seria o mesmo que dizer que diabete é um mero aumento de açúcar no sangue, uma simples variação do normal observado na população. Noventa e cinco por cento das crianças e adolescentes não tem a intensidade e gravidade de sintomas que os portadores de TDAH, do mesmo modo que 90% dos adultos não têm níveis elevados de açúcar. Diagnósticos são frequentemente estabelecidos pela intensidade e gravidade. A lista é grande: hipertensão arterial, glaucoma, osteoporose, hipertireoidismo, etc. Todos eles, à semelhança do que ocorre no TDAH, cursam com graves consequências para o indivíduo. Proposições do tipo “quem não esquece alguma coisa de vez em quando?” ou “quem não responde impulsivamente de vez em quando?” são, além de superficiais, irrelevantes: todos os sintomas do TDAH ocorrem em frequência e intensidade não observada em indivíduos normais.
O diagnóstico do TDAH é realizado através de entrevista clínica e há extensa literatura científica sobre a fidedignidade deste procedimento. A sugestão de que a ausência de exames complementares tornaria o diagnóstico “frágil” novamente reflete inacreditável desconhecimento de saúde mental: também não há exames para os diagnósticos de Depressão, Autismo, Transtorno do Pânico, Esquizofrenia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Bipolar, etc.
A comunidade científica Brasileira, aqui representada por mais de 20 associações e grupos de pesquisa, reitera que o TDAH pode ser diagnosticado de modo fidedigno e seu tratamento, se bem conduzido, tem grandes chances de diminuir os prejuízos que esses indivíduos apresentam ao longo da vida. Embora tratamentos não farmacológicos possam auxiliar bastante no manejo terapêutico do TDAH, todos os artigos científicos disponíveis indicam que o tratamento farmacológico é a primeira escolha para a maioria dos portadores.
Fornecer informações equivocadas e ocultar dados científicos bem documentados é dificultar ou retardar o acesso da população ao diagnóstico ou a tratamento, é a expressão de uma das mais perversas formas de discriminação social: a Psicofobia.

Referências

1. Diagnosis and Treatment of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in Children and Adolescents. Larry S. Goldman, MD; Myron Genel, MD; Rebecca J. Bezman, MD; Priscilla J. Slanetz, MD, MPH; for the Council on Scientific Affairs, American Medical Association - JAMA. 1998;279(14):1100-1107

2. Putting the efficacy and general medicine medication into perspective: review of meta- analysis. Stefan Leucht, Sandra Hierl, Werner Kissling, Markus Dold and John M. Davis. British Journal of Psychiatry, 2012, 200:97-106

Entidades signatárias
1 - Associação Brasileira de Psiquiatria
2 - Associação Brasileira do Déficit de Atenção
3 – Sociedade Brasileira de Pediatria
4 – Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil
5 – Associação Brasileira de Neurologia, Psiquiatria Infantil e profissões afins
6 – Academia Brasileira de Neurologia
7 – Sociedade Brasileira de Neuropsicologia
8 – Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul
9 – Sociedade Interdisciplinar de Neurociência Aplicada à Saúde e Educação
10 – Associação Brasileira de Dislexia
11 – Ambulatório dos Estudos de Aprendizagem do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Neurologia e Pediatria)
12 – DISAPRE – Laboratório de Pesquisa em Distúrbios da Aprendizagem e da Atenção – Faculdade de Ciências Médicas - Universidade de Campinas
13 – Laboratório de Investigações Neuropsicológicas – Universidade Federal de Minas Gerais
14 – Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento – Universidade Federal de Minas Gerais
15 - Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência (UPIA) da Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP-EPM)
16 – Centro de Referência para Criança com TDAH Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira – Universidade Federal do Rio de Janeiro
17 – Ambulatório de Neuropsicologia Pediátrica do Serviço de Neurologia do Complexo Hospitalar Professor Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia
18 – Ambulatório de Distúrbio de Aprendizagem da Santa Casa da Misericórdia de São Paulo
19 – GEDA - Grupo de Estudos e Pesquisa do Déficit de Atenção da Universidade Federal do Rio de Janeiro
20 – NANI – Núcleo de Atendimento Neuropsicólogo Infantil – Universidade Federal do Estado de São Paulo
21 - Comunidade Aprender Criança – Instituto Glia
22 – Núcleo de Investigações da Impulsividade e da Atenção da Universidade Federal de Minas Gerais
23 – Centro de Orientação Escolar - Hospital da Criança Santo Antonio da Santa Casa de Porto Alegre
24 – Laboratório de Clínica Cognitiva do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia
25 - Programa de Déficit de Atenção/ Hiperatividade do Hospital de Clinicas de Porto Alegre da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
26 – Serviço de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio de Janeiro
27 - Grupo de Pesquisa em Neurodesenvolvimento, escolaridade e aprendizagem – CNPq
28 - Ambulatório de Déficit de Atenção (AMBDA) da Universidade Federal de Minas Gerais
29 – Instituto ABCD

sexta-feira, 6 de julho de 2012

219- Tenha coragem de perdoar seu esposo com TDA



Ter um companheiro com TDA não é fácil, mas perdoar - e planejar para prevenir os problemas - é um passo na direção certa. O especialista Dr. Ned Hallowell oferece conselhos de relacionamento.

Se você está casado com alguém com o déficit de atenção (TDA/TDAH), você provavelmente se terá perguntado quantas vezes terá de perdoá-lo. TDA não é fácil - para os que o têm ou para os que vivem com quem tem! Por isso que todos os casamentos TDAH podem se beneficiar de algum aconselhamento sobre o relacionamento.

Nós, que temos TDA (eu, inclusive), geralmente não aprendemos com nossos erros. Nós os repetimos seguidamente. Se a pergunta for "Quantas vezes tenho de lhe dizer?", a resposta pode ser "Centenas, no mínimo!" Isso significa que merecemos um salvo-conduto? É claro que não. O TDAH não é uma desculpa para a irresponsabilidade. É uma explicação para o comportamento, e um sinal de que a pessoa precisa aprender a assumir responsabilidades de maneira mais efetiva.

Mesmo os tratamentos mais perfeitos para o TDAH não produzem resultados perfeitos. Peça ao seu esposo TDAH para levar o lixo para fora. Ele concorda e passa pelo cesto de lixo distraído com uma nova idéia que o invadiu.

Você pede ao seu esposo que ele a elogie de vez em quando, porque acha difícil lembrá-lo de que você necessita da atenção dele. Sem jeito e envergonhado ele se desculpa e decide prestar mais e melhor atenção em você. Você sabe que ele realmente sente o que diz. Mas, ele cumpre o prometido? Não. Você pede ao seu esposo TDA para que pare de fazer compras por impulso no cartão de crédito. Novamente, algo constrangido, ele concorda. Ele não quer aumentar a dívida mais do que você. Mas, no dia seguinte, ele vê uma coisa à qual não resiste e, bingo!, um novo item foi acrescentado à conta.

O que você pode fazer? Esquecer? Divorciar-se dele? Bater na cabeça dele com um porrete?

Acabo de escrever um livro chamado "Dare to Forgive" (Tenha coragem de perdoar). Uma das afirmações que faço no livro é que o perdão não é licença para repetir o mesmo erro em seguida. Então, se você perdoa seu esposo - e eu espero que sim - você também deve estabelecer um plano para que o mesmo problema não apareça repetidamente. Se o plano não funcionar, reveja-o e tente novamente. Revisar planos é tudo o que é a vida.

Entenda que esses problemas não indicam uma desconsideração consciente de você ou da responsabilidade, mas  realmente uma desconsideração involuntária, intermitente, sobre todas as coisas. Essa é a natureza diabólica do TDAH. Tenha isso em mente (e as boas qualidades dele) quando você tiver vontade de estrangulá-lo. Enquanto ele quiser continuar a viver com você - e pode ser como um profissional, também - pode ser feito algum progresso. Vitória total? Cura completa? Não. Mas, progresso.

Conforme você notar que ele se esforça para ter um melhor comportamento, tenha compaixão. Construa o pensamento positivo e o faça crescer. Mantenha seu senso de humor. Fique em contato com outras pessoas que podem ajudar. E lembre-se de que sob a casca do TDA bate um coração e há uma mente cheia de calor, criatividade, jovialidade, e imprevisibilidade. Quase sempre há algo de bom que supera o ruim.

Até mesmo o suficiente para tornar um casamento feliz e uma vida agradável.

Este artigo foi publicado no número de abril/maio de 2004 de ADDitude

segunda-feira, 2 de julho de 2012

218- A Impulsividade do TDAH: Ajude as crianças a pensar antes de dizer ou fazer algo de que se arrependerão.



Pais de crianças com TDA/TDAH oferecem sugestões para ajudar seu filho a evitar e a controlar a fala e as atitudes impulsivas. Pelos Editores de ADDitude.

ADDitude perguntou: Como você controla a impulsividade do seu filho com TDAH para que ele não diga ou faça algo de que se arrependerá?
É um grande desafio, mas muitos de vocês tentarão conseguir isso com suas próprias estratégias inovadoras.

“Eu o encaro, olho nos olhos dele, ponho minhas mãos em seus ombros e converso com ele sobre as consequências de suas ações”. – Adrienne, Flórida

“Digo ao meu filho para que fique quieto por dois minutos e que respire fundo comigo. Esta pausa permite que ele reavalie a situação. Isto geralmente o acalma e permite que ele adote uma atitude diferente”. – Helen, Arizona

“Tenho uma conversa franca com meus filhos e explico que toda ação tem consequências, e que eles podem escolher as ações que levam a consequências positivas”. – Christine, Massachusetts

“Pedimos ao nosso filho que tente ouvir, em sua mente, o que ele quer falar alto. Se ele ficar inseguro sobre o que deveria dizer, ele não deve dizer. Também dizemos a ele que, se não for algo que ele diria ou faria na frente de Deus ou de sua avó, ele não deve dizer ou fazer”. – Karen, Wisconsin

“Eu ergo minha mão, como se fosse um sinal de pare. É um aviso para parar e pensar – para nós dois”. – Brenda, California

“Eu digo, ´Parem, parem já, olhem para mim e escutem. Falo deliberadamente, usando os seus nomes completos. Então, eles sabem que é importante”. – Cassie, Connecticut

“Meus filhos sabem que, quando eu assumo certa postura, é melhor que eles parem e reavaliem o que estão fazendo ou dizendo. Tenho de me lembrar de fazer isso a cada dia”. – Brandi, California

“Não controlo. Quem tem TDA/TDAH aprende com a dor que suas palavras ou ações provocam. Só demora mais tempo para que eles aprendam”. – Frank, California

“Geralmente digo ´Não faça isso!´ Mas se fizer, então ele perde um ou dois privilégios”. – Jodi, Texas

“Tento prever quais as situações que ela pode enfrentar e a previno. Se não for assim, geralmente não dá tempo de evitar”. – Cecilia, Minnesota

“Uso empatia. Digo ´Lembre como você se sentiu quando...´”. – Dee, Maine

“Cada vez que ele grita ou fica bravo comigo, eu lembro a ele, no auge da situação, que em uma ou duas horas ele vai se sentir mal por causa do que disse ou fez. Estou fazendo assim já há algum tempo e parece que está começando a funcionar”. – Tammy, British Columbia, Canada

“Às vezes, pergunto a ele ´Vale a pena?´ e isto faz a mágica”. – C., Kansas

“Se eu soubesse a resposta, eu a engarrafava e vendia – e faria uma fortuna!” – Debbie, New York

Este artigo apareceu no número de verão de 2011 de ADDitude.

 O tratamento do autismo se distancia do “conserto” da condição Existem diferentes maneiras de ser feliz e funcionar bem, mesmo que seu cér...