Por Maureen Connolly
Outra razão porque as meninas ficam sem diagnóstico por
tanto tempo tem a ver com o modo diferente como cada sexo enfrenta a escola. A
Dra. Quinn dá um exemplo: “Um menino e uma menina com TDAH recebem um trabalho
de longo prazo. Cada um deixa o trabalho por fazer durante semanas. Então, na
noite anterior à entrega do trabalho, cada um se lembra do prazo. Em vez de
tentar fazer o trabalho, o menino resolve assistir vários episódios de um
seriado na TV. Por sua vez, a menina se apavora e tenta fazer um trabalho
perfeito durante a noite. (Perfeccionismo é outro comportamento comum nas
meninas com TDAH). Ela pede a ajuda de sua mãe e ficam acordadas até a
madrugada para terminar a tarefa. Quando ela entrega o trabalho pela manhã, a
professora não tem nenhuma pista de que ele foi feito no último minuto.”
As meninas parecem ser levadas a fazer sua tarefa escolar
porque nossa cultura as encoraja a serem socialmente mais conscientes.
Elas querem agradar mais do que os meninos, e se espera que elas sejam bem sucedidas na escola.
Como as notas desde o jardim de infância até o nono ano não
são tão desafiadoras quanto as dos graus superiores, uma menina com TDAH não
diagnosticado pode se sair bem na escola elementar – e então fracassar. “Na
escola média e no colegial, as exigências sobre a atenção são maiores para os
alunos, de modo que ela não consegue sucesso trabalhando com 50% de eficiência”,
diz o doutor Andrew Adesman, diretor da divisão de transtornos do comportamento
e do desenvolvimento do Schider´s Children´s Hospital, em New Hyde Park, Nova
Iorque, e membro do National Board de diretores do CHADD. “E porque as crianças
no ensino fundamental e médio frequentemente mudam de classes, os professores
não têm tempo para conhecê-las e para identificar problemas.”Elas querem agradar mais do que os meninos, e se espera que elas sejam bem sucedidas na escola.
Algumas meninas também compensam o problema por meio do
desenvolvimento de estratégias que mascaram seu TDAH. Como foi mencionado
anteriormente, pode ser o perfeccionismo. Por exemplo, uma menina pode gastar
horas tomando notas em cada capítulo que será testada ou para obter uma boa
nota. Ou pode tornar-se obsessivo-compulsiva, checando e revendo seu material
para ter certeza que tem tudo o que precisa.
As diferenças de sexo no TDAH também se mostram em classe. A
pesquisa revela que as meninas com TDAH podem ser rejeitadas mais
frequentemente por suas colegas do que os meninos. A razão é que, comparadas
aos meninos, as amizades das meninas requerem maior sofisticação e maior
manutenção. “Dois meninos podem se encontrar no pátio e começar a cavar um
buraco até a China com suas pás, e em instantes são amigos. A amizade entre as meninas
é mais complexa, mesmo nas idades mais baixas. Ela exige afetividade e a
percepção das dicas sociais”, diz a Dra. Quinn.
Com tendências à impulsividade, hiperatividade e esquecimentos,
pode ser difícil ficar de boca fechada, não interromper constantemente, ou
lembrar-se do aniversário do melhor amigo. E quando todos no grupo estão
admirando os brincos novos da Jéssica e a menina com TDAH fala alguma coisa
totalmente sem nexo, as outras meninas olham para ela e se perguntam de onde
que ela vem. Esse tipo de dificuldade social torna difícil para uma menina
sentir-se bem consigo mesma e manter relacionamentos.
Infelizmente, esses sinais geralmente não são suficientes
para suspeitar de TDAH. No caso de Danielle Cardali, de 14 anos de idade, de
North Babylon, Nova Iorque, foram necessárias duas avaliações até que sua
professora e seus pais percebessem por que suas notas eram tão baixas. Sendo
classificada com TDAH na quarta série, ela foi submetida a reforço em sala de
recursos por 45 minutos por dia, com uma professora somente para ela. Mas a
melhora real somente aconteceu na sétima série, quando ela foi medicada com
Strattera e Concerta. “Depois do primeiro trimestre com a medicação, eu
consegui notas C altas e B baixas”, diz Cardali. “Parecia ter um melhor
entendimento do que acontecia em classe”.
Em alguns casos, um pai tropeçará no TDAH depois que uma dificuldade
de aprendizado for descoberta. (Eles frequentemente coexistem, daí ser
importante quando avaliar um deles, avaliar também o outro.) Esse foi o caso
com Allison Isidore, de 7 anos, de Montclair, Nova Iorque. Sua mãe, Liz Birge,
teve a oportunidade de ver sua filha em atividade na sala de aula por 45
minutos, uma vez por semana, quando ela se ofereceu voluntariamente para ajudar
em treinamento de escrita. Liz descobriu que sua filha estava apresentando
muita dificuldade para ligar os sons às letras e que não tinha nenhum interesse
em tentar escrever. Testes revelaram que Allison tinha uma dificuldade de
aprendizagem e TDAH.
Obtendo Ajuda
Se os pais suspeitam que sua filha tenha TDAH (ou uma
dificuldade de aprendizagem), as doutoras Quinn e Wigal aconselham a não
esperar, mesmo se os professores não tenha se preocupado. Como dito
anteriormente, os professores geralmente procuram hiperatividade,
desorganização ou esquecimentos como os sinais do TDAH, antes de recomendar uma
avaliação. Mas, o modo como o TDAH geralmente se manifesta nas meninas – falar excessivo,
baixa autoestima, preocupação, perfeccionismo, assumir riscos, e ser barulhenta
– raramente é visto como tal.
O pediatra de sua filha poderá fazer uma avaliação (se a sua
filha for adolescente, primeiro procure um médico que se sinta bem lidando com
adolescentes). Certifique-se de que o médico dela obtenha uma história médica completa
(incluindo a história da família, por causa da grande herdabilidade do TDAH). O
médico deve também trabalhar em conjunto com a escola de sua filha para obter
mais informação sobre os comportamentos dela. “E, como adolescentes são uma
grande fonte de informação sobre sua própria experiência, encoraje um
adolescente a falar diretamente com seu médico”, aconselha Dra. Wigal.
Por fim, para uma menina que sofre de TDAH, um diagnóstico
oficial pode ser boa notícia. “Todos acham que um diagnóstico de TDAH seja um
estigma”, diz a doutora Quinn. “De fato, 56% das meninas em nossa pesquisa
disseram que se sentiam melhor depois de, finalmente, terem um nome para o que
sentiam. Somente 15% disseram que se sentiram pior. Para a maioria, foi um
alívio descobrir que elas não eram preguiçosas, loucas ou burras”.
Mais boas notícias: Pais de meninas diagnosticadas com TDAH
têm mais probabilidade de procurar tratamento do que os pais de meninos
diagnosticados com TDAH, porque apenas os casos mais graves são diagnosticados
nelas. “As meninas podem ter uma pequena vantagem sobre os meninos em um
aspecto”, escreveram as doutoras Quinn e Wigal em seu trabalho. “Uma vez
suspeitas de terem o TDAH, seus pais tendem a ser mais desejosos de procurar
ajuda médica”. E isso é um bom presságio para elas.
Maureen Connolly, ADDitude,
2010