Por William Dodson, M.D.
Explicações
para a compreensão dos nossos pensamentos e comportamentos - desde a
preferência pela companhia de amigos TDAH até o hiperfoco durante toda a noite,
e a duvidar de nossa capacidade de agir quando os outros querem nossa ação.
A vida
dos TDAHs
A maioria dos TDAHs sempre soube que eles são diferentes. Os
pais, professores, patrões e os amigos sempre disseram que eles não se
ajustavam ao modelo normal. Disseram para que eles aprendessem e se tornassem
iguais às outras pessoas. O principal obstáculo para entender o TDAH é a crença
de que os TDAHs podem e devem ser como o resto das pessoas. Para os
"normais" e para os TDAHs, aqui vai uma explicação do porquê dos
TDAHs fazerem o que fazem.
Por que
não nos damos bem em um mundo linear?
O mundo TDAH é curvo. Passado, presente e futuro nunca são
separados e distintos. Tudo é agora. Os TDAHs vivem um presente permanente e
têm muita dificuldade de aprender do passado ou de olhar para o futuro para ver
as consequências de seus atos. "Agir sem pensar" é a definição de
impulsividade, e uma das razões por que os TDAHs têm dificuldade de aprender
pela experiência.
Problemas
de A a Z
Os TDAHs não são bons em organização - planejar e fazer as
etapas de uma tarefa em ordem certa. Trabalhos no mundo neurotípico
["normal"] têm um começo, um meio e um fim. Os TDAHs não sabem onde e
como começar, porque não conseguem achar o início. Eles vão para o meio de uma
tarefa e agem em todas as direções ao mesmo tempo. A organização se torna uma
tarefa insustentável porque os sistemas organizacionais trabalham com
linearidade, importância e tempo.
Por que
ficamos oprimidos?
Os TDAHs sentem a vida de modo mais intenso do que os
outros. O sistema nervoso do TDAH quer se envolver com algo interessante e
desafiador. Atenção nunca é um déficit. Ela é sempre excessiva, constantemente
ocupada com envolvimentos internos. Quando os TDAHs não estão na zona de
conforto, no hiperfoco, eles têm muitas coisas rondando suas mentes, todas ao
mesmo tempo, e por nenhuma razão aparente, como cinco pessoas falando entre si
ao mesmo tempo. Nada consegue atenção sustentada e não dividida. Nada fica bem
feito.
Por que
sentimos o mundo todo?
Muitos TDAHs não conseguem selecionar os estímulos
sensoriais. Às vezes isso está relacionado somente a um reino sensorial, como a
audição. De fato, o fenômeno é chamado de hiperacusia (audição amplificada),
mesmo quando a atrapalhação vem de um dos cinco outros sentidos. Por exemplo, o
menor barulho na casa impede que pegue no sono. Os TDAHs têm seus mundos
constantemente perturbados por sensações que os neurotípicos não percebem.
Por que
gostamos de uma crise?
Às vezes, um TDAH pode atingir o limite de um prazo e
produzir muito trabalho em pouco tempo. Os "mestres do desastre"
podem lidar facilmente com a crise e perder o controle quando as coisas voltam
a ser rotina. Balançando de crise em crise, entretanto, é uma dura maneira de
viver a vida. Alguns portadores de TDAH usam a raiva para ter a descarga de
adrenalina que precisam para serem produtivos. O preço que pagam por sua
produtividade é tão alto que eles podem ser considerados como portadores de
transtornos de personalidade.
Por que
nem sempre terminamos as coisas?
Os portadores de TDAH
são iludidos e frustrados por sua intermitente habilidade de serem
super-homens quando interessados, e desafiados e incapazes de iniciar e manter
projetos que os aborreçam. Nunca estão confiantes de que podem se engajar
quando for necessário, quando os outros esperam que o façam, quando os outros
dependem de que o façam. Quando os portadores de TDAH se vêm como
independentes, eles começam a duvidar de seus talentos e a sentir vergonha de não
serem confiáveis.
Por que
nossos motores estão sempre ligados?
Quando a maioria dos portadores de TDAH fica adolescente, sua
hiperatividade se esconde. Mas ela está lá e ainda prejudica a capacidade de se
ligar no ato, de ouvir as pessoas e de relaxar o suficiente para dormir. Mesmo
quando tomam suas medicações, podem não ser capazes de fazer uso de seu estado
acalmado. Ainda são acelerados. Na adolescência, muitos portadores de TDAH já
adquiriram as habilidades sociais necessárias para disfarçar que eles não estão
ligados no aqui e agora.
Por que
a organização nos confunde?
A mente do TDAH é uma enorme e desorganizada biblioteca. Ela
contém vasta quantidade de informação, em pedaços, não em livros completos. A
informação existe em muitas formas - como artigos, vídeos, audioclipes, páginas
da internet. Mas não há cartões de catalogação. Cada portador de TDAH tem sua
própria maneira de guardar essa enorme quantidade de material. Itens
importantes (Deus nos acuda, importantes para mais alguém) não têm nenhum lugar
fixo, e podem muito bem estarem invisíveis ou completamente perdidos.
Por que
podemos nos esquecer?
Para o portador de TDAH, a informação e as memórias que
estiverem fora da vista estarão fora da mente. Sua mente é uma memória RAM de
computador, sem nenhum acesso confiável à informação no disco rígido. A mente
do TDAH está cheia de minúcias da vida ("Onde estão minhas chaves?"),
então, há pouco lugar para novos pensamentos e memórias. Algo tem de ser
descartado ou esquecido para dar lugar a informação nova. Geralmente a
informação de que os portadores de TDAH precisam está em sua memória, mas não
está disponível quando solicitada.
Por que
não nos vemos claramente?
Os portadores de TDAH têm pouca autopercepção. Enquanto
podem frequentemente entender bem os outros, para a média dos TDAHs é difícil
saber, de momento a momento, como eles mesmos estão se saindo. Os neurotípicos
interpretam isso de modo errado, como sendo insensibilidade, narcisismo,
descuido ou inaptidão social. A vulnerabilidade dos TDAHs ao feedback negativo
dos outros e a falta de habilidade de se avaliar no momento, pioram as coisas.
Por que
somos desafiados pelo tempo?
Como os portadores de TDAH não têm uma avaliação real do
tempo, tudo acontece agora ou nunca. Junto ao conceito de ordenação (o que deve
ser feito em primeiro lugar; o que vem em segundo lugar) também deve haver o
conceito de tempo. Oitenta e cinco por cento dos meus pacientes com TDAH não
têm ou não usam um relógio de pulso. Para os TDAHs, o tempo é uma abstração sem
significado. Ele é importante para as outras pessoas, mas os TDAHs nunca têm
noção dele.
ADDitude