domingo, 8 de janeiro de 2017

TDAH - O tratamento do seu filho é do tipo “pacote completo”? - 431

O tratamento do seu filho é do tipo “pacote completo”?

A medicação trata somente as deficiências neuroquímicas do deficit de atenção. Precisamos tratar, também, os problemas psicológicos e sociais. Por Larry Silver, M.D.

Fiz meu treinamento em Psiquiatria Geral, seguido por treinamento em Psiquiatria da Criança e do Adolescente, na metade dos anos sessentas. Minha especialidade médica era uma subespecialidade relativamente nova da Psiquiatria. Naquela época, a teoria para a compreensão e o tratamento de crianças era centrado na teoria psicanalítica e na psicoterapia psicoanaliticamente orientada. Todo meu treinamento e supervisão clínica foi baseado nesse modelo. Eu era fascinado pela psicologia da mente. Mas eu era igualmente interessado na compreensão do funcionamento cerebral e nas relações entre o cérebro e a mente.

Com a permissão do diretor do meu programa de treinamento, atendia discussões de casos para residentes em outra nova subespecialidade médica, Neurologia da Infância. Um dos casos era de um menino com algo chamado de “Reação Hipercinética da Infância”. Isso, agora, é chamado de Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade, ou TDAH. A criança era hiperativa e ia muito mal nos estudos. Foi medicado com dextro-anfetamina e seus sintomas melhoraram.

Eu lidava com uma criança que tinha sintomas semelhantes na terapia. Ela tinha todas as características da Reação Hipercinética da Infância. Discuti minha ideia de tentar a medicação. Meu supervisor não ficou contente com a minha ideia de tentar usar medicação em vez de psicoterapia, e encorajou-me a me concentrar na “psicodinâmica do caso”. Eu estava frustrado com a falta de progresso do caso e, então, assumi o risco de me meter em problemas. Em colaboração com o pediatra do meu paciente, providenciei para que ele começasse a tomar a medicação (dextroanfetamina). Os pais, os professores e o próprio paciente notaram uma dramática melhora. Ele se tornou capaz de ficar sentado durante as aulas e de se concentrar em seu trabalho. Seus comportamentos disruptivos cessaram. Eu não podia dizer ao meu supervisor que tinha ignorado suas ordens e providenciado o uso de medicação. Então, tive de exaltar como a psicoterapia e a orientação dos pais tinha resultado na melhora dos sintomas. Meu supervisor elogiou meu trabalho.

Como as coisas mudaram

A Psiquiatria da Infância e da Adolescência evoluiu muito desde então. Usamos um modelo biopsicossocial que leva em conta o funcionamento cerebral, assim como o funcionamento psicológico e social – tudo no contexto da vida da criança na família, na escola e com os colegas. As pesquisas com crianças TDAH nos ensinaram sobre as relações entre o funcionamento cerebral ou sua disfunção e os comportamentos clínicos observados.

Muitos acreditam que o TDAH foi o primeiro transtorno em que se demonstrou ser o resultado de uma produção deficiente de um neurotransmissor específico em áreas cerebrais específicas. A descoberta de que um grupo de medicações - chamadas de “estimulantes” porque estimulam células nervosas específicas a produzir mais desse neurotransmissor deficiente – causava uma diminuição ou interrompia a hiperatividade, a desatenção e a impulsividade, abriu o campo da psicofarmacologia da infância.

Atualmente, sabemos que outros transtornos são o resultado de uma deficiência de neurotransmissores específicos em áreas cerebrais específicas. (Até agora, não encontramos um transtorno que pareça ser o resultado de uma produção excessiva de um neurotransmissor específico em áreas específicas do cérebro.) Para cada um desses transtornos, temos medicações que aumenta a produção do neurotransmissor, levando à melhora. Foram as pesquisas com o TDAH que expandiram nosso conhecimento da neurociência e do tratamento de transtornos com base neurológica.

Lições Aprendidas

Deixem-me voltar à minha história. Depois dos meus anos de treinamento, liguei-me à faculdade de um centro médico universitário. Doze anos mais tarde, mudei-me para o National Institute of Mental Health (Instituo Nacional de Saúde Mental). Depois, voltei ao centro médico universitário. Nesses mais de 40 anos, minhas principais áreas de pesquisa, trabalhos clínicos escritos e atividade clínica focalizaram o TDAH e as Dificuldades de Aprendizagem. Durante esses anos, o pêndulo gradualmente balançou dos modelos psicológicos para os modelos biológicos, para o entendimento do comportamento normal e da psicopatologia. Atualmente o pêndulo mudou para o centro, com igual atenção nas disfunções cerebrais e nos desafios psicológicos e sociais.

Hoje, sabemos que uma deficiência de um neurotransmissor específico em áreas específicas do cérebro explica as dificuldades encontradas em uma criança ou em um adulto com TDAH. Sabemos que certos medicamentos corrigem a deficiência do neurotransmissor, resultando na redução ou eliminação dessas dificuldades. Aprendemos, também, que a medicação isoladamente não é o suficiente. Uma pessoa diagnosticada com TDAH vive em uma família e deve funcionar no mundo real, com todas suas expectativas e cobranças. Não podemos tratar somente a deficiência neuroquímica.

Ainda há médicos, incluindo alguns psiquiatras da infância e da adolescência, que parecem ter pendido para um lado do arco. Seu foco é muito centrado na medicação e pouco na exploração dos possíveis problemas psicossociais e familiares.

Deixem-me dar um exemplo. Um pai leva seu filho a um médico de família. O pai diz: “O professor dele diz que ele não consegue ficar sentado quieto e que não presta atenção na aula. Em casa, vejo a mesma coisa.” O médico ouve hiperatividade e desatenção, conclui que é TDAH e escreve uma receita de um estimulante. No que o médico possivelmente falhou? A inquietação e a desatenção podem ser o resultado de dificuldades acadêmicas, possivelmente devidas a uma Dificuldade de Aprendizagem. Ou as dificuldades podem refletir estresses na família por causa de problemas entre os pais. A hiperatividade poderia ser o resultado da ansiedade, não de TDAH.

Médicos e pais devem lembrar-se de que nem todos os indivíduos que são hiperativos, desatentos e/ou impulsivos têm TDAH. Os comportamentos vistos em crianças, adolescentes ou adultos que têm TDAH também podem ser vistos em indivíduos com outros transtornos – depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, para citar alguns. Também é possível que tais comportamentos sejam o resultado da frustração de um aluno na escola por causa de Dificuldades de Aprendizagem, outro transtorno de origem no cérebro.

Dicas para todos nós

É importante determinar se os comportamentos são neurologicamente baseados ou psicologicamente baseados. Temos guias clínicos em nosso DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) para ajudar a distinguir entre os dois. Se a inquietação, desatenção, dificuldades de organização ou impulsividade começam em uma ceerta época ou ocorrem somente em certas situações, provavelmente será um problema psicológico. Se os comportamentos são crônicos ( ou se foram notados desde a infância) e pervasivos (ocorrem em casa, na escola, no trabalho, e com os colegas), provavelmente será um problema cerebral, tal como o TDAH.

Para seu médico fazer um diagnóstico de TDAH, ele deve demonstrar que os comportamentos observados são o resultado de problemas com base cerebral, não psicológicos, familiares ou estresses sociais. Como isso é feito?
1- Documente quais comportamentos o adulto ou a criança tem.
2- Mostre que esses comportamentos são crônicos.
3- Mostre que esses comportamentos são pervasivos.

Se os comportamentos identificados começaram em certa época da vida ou se ocorrem em somente algumas circunstâncias, o TDAH não deve ser considerado.

Foram 40 anos maravilhosos para mim, ser parte da transição de um modelo psicológico para a compreensão do comportamento para um modelo que envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais. Em grande parte, o estudo do TDAH abriu o caminho.


ADDitude.

sábado, 19 de novembro de 2016

Oito motivos pelos quais os professores devem repensar as tarefas de casa - 430

Oito motivos pelos quais os professores devem repensar as tarefas de casa

Peça ao professor do seu filho para avaliar e implementar essas boas práticas de tarefa de casa, para tornar a noite de estudos mais simple e mais eficaz, para todos. Por Sandra Rief, M.A.

Os professores de crianças com TDAH e Dificuldades de Aprendizagem deveriam ter em mente que essas crianças precisam de mais tempo para fazer as tarefas de casa do que seus colegas neurotípicos. O que uma criança sem TDAH ou Dificuldade de Aprendizagem faz em 15 ou 20 minutos, frequentemente leva de 3 a 4 vezes mais tempo para uma criança com TDAH.

Menos estresse, por favor.

Além disso, os professores deveriam estar atentos para o fato de que as famílias têm conflitos em sua casa em relação às tarefas de casa. Em famílias com crianças com TDAH, o estresse em relação às tarefas de casa é intenso, tornando o relacionamento pais/criança estressante. Aqui estão oito dicas de sala de aula para tornar mais produtivas as tarefas de casa:

1- Seja receptivo aos pais que relatam grande frustração em relação às tarefas de casa. Esteja disposto a fazer ajustes, de modo que os alunos gastem um tempo razoável para fazer suas tarefas.

2- Entenda que os alunos com TDAH que recebem medicação durante o dia escolar (para ajudá-los a se manterem focalizados e ligados no trabalho) geralmente não recebem medicação à noite. Os alunos com TDAH estão na sala de aulas durante seu tempo ótimo de produtividade, e ainda assim não conseguem completar suas atividades. Não é razoável pensar que os pais sejam capazes de fazer com que seus filhos produzam em casa, à noite, o que não foram capazes de produzir na escola.

3- Muitos professores têm o costume de mandar para terminar em casa o trabalho não completado em classe. Evite ou reduza isso ao mínimo, se possível. Em vez disso, proporcione as modificações necessárias para os alunos com TDAH, de modo que trabalho de classe seja trabalho de classe e tarefa de casa seja tarefa de casa.

4- A tarefa de casa é um tempo para revisar e praticar o que os estudantes aprenderam em classe. Não dê tarefas que envolvam informação nova, que se espera seja ensinada pelos pais.

5- Tarefa de casa não deve ser muita tarefa. Faça a tarefa de casa ser relevante e com propósito, de modo que o tempo gasto nela reforce as habilidades e conceitos que você já ensinou.

6- Nunca dê mais tarefa de casa como punição para mau comportamento na escola.

7- Designe colegas de estudos que sejam responsáveis e dispostos a serem contatados depois das aulas, para os alunos com TDAH.


8- Faça as adaptações das tarefas de casa para cada estudante. Pergunte a si mesmo "O que eu quero que os alunos aprendam com essa tarefa?", "Esse aluno pode entender todos os conceitos sem ter de fazer tudo por escrito?", "Ele pode demonstrar que entendeu por meio de um formato mais motivador?".

Oito motivos pelos quais os professores devem repensar as tarefas de casa - 430

Oito motivos pelos quais os professores devem repensar as tarefas de casa

Peça ao professor do seu filho para avaliar e implementar essas boas práticas de tarefa de casa, para tornar a noite de estudos mais simple e mais eficaz, para todos. Por Sandra Rief, M.A.

Os professores de crianças com TDAH e Dificuldades de Aprendizagem deveriam ter em mente que essas crianças precisam de mais tempo para fazer as tarefas de casa do que seus colegas neurotípicos(= normais). O que uma criança sem TDAH ou Dificuldade de Aprendizagem faz em 15 ou 20 minutos, frequentemente leva de 3 a 4 vezes mais tempo para uma criança com TDAH.

Menos estresse, por favor.

Além disso, os professores deveriam estar atentos para o fato de que as famílias têm conflitos em sua casa em relação às tarefas de casa. Em famílias com crianças com TDAH, o estresse em relação às tarefas de casa é intenso, tornando o relacionamento pais/criança estressante. Aqui estão oito dicas de sala de aula para tornar mais produtivas as tarefas de casa:

1- Seja receptivo aos pais que relatam grande frustração em relação às tarefas de casa. Esteja disposto a fazer ajustes, de modo que os alunos gastem um tempo razoável para fazer suas tarefas.

2- Entenda que os alunos com TDAH que recebem medicação durante o dia escolar (para ajudá-los a se manterem focalizados e ligados no trabalho) geralmente não recebem medicação à noite. Os alunos com TDAH estão na sala de aulas durante seu tempo ótimo de produtividade, e ainda assim não conseguem completar suas atividades. Não é razoável pensar que os pais sejam capazes de fazer com que seu filho produzam em casa, à noite, o que não foram capazes de produzir na escola.

3- Muitos professores têm o costume de mandar para terminar em casa o trabalho não completado em classe. Evite ou reduza isso ao mínimo, se possível. Em vez disso, proporcione as modificações necessárias para os alunos com TDAH, de modo que trabalho de classe seja trabalho de classe e tarefa de casa seja tarefa de casa.

4- A tarefa de casa é um tempo para revisar e praticar o que os estudantes aprenderam em classe. Não dê tarefas que envolvam informação nova, que se espera seja ensinada pelos pais.

5- Tarefa de casa não deve ser muita tarefa. Faça a tarefa de casa ser elevante e com propósito, de modo que o tempo gasto nela reforce as habilidades e conceitos que você já ensinou.

6- Nunca dê mais tarefa de casa como punição para mau comportamento na escola.

7- Designe colegas de estudos que sejam responsáveis e dispostos a serem contatados depois das aulas, para os alunos com TDAH.


8- Faça as adaptações das tarefas de casa para cada estudante. Pergunte a si mesmo "O que eu quero que os alunos aprendam com essa tarefa?", "Esse aluno pode entender todos os conceitos sem ter de fazer tudo por escrito?", "Ele pode demonstrar que entendeu por meio de um formato mais motivador?".

domingo, 2 de outubro de 2016

domingo, 25 de setembro de 2016

Mais, além de remédios: Um guia para modificação do comportamento no TDAH - 429

Mais, além de remédios: Um guia para modificação do comportamento no TDAH

A terapia comportamental auxilia as crianças com TDAH a aprender a controlar seus sintomas diários. Esse é um fato estabelecido. Mas como implementá-la? E no que ela realmente implica? O treinamento de habilidades desmistificado. Por William Pelham Jr, Ph.D. e editores de ADDitude.

Mude seu foco, mude seus resultados

Quando os pais e profissionais tratam o TDAH, tipicamente eles focalizam em primeiro lugar a melhoria dos sintomas. Em geral, os medicamentos são a estratégia número 1. Entretanto, muitos profissionais acreditam que o tratamento comportamental psicossocial não medicamentoso seja igualmente importante.
De fato, os estudos mostram que o sucesso dos adultos é previsto por três coisas: as eficientes habilidades dos pais, acompanhar as outras crianças e o sucesso na escola.

Muitos especialistas argumentam que a terapia comportamental resolve todos esses domínios e pode ser iniciada muito precocemente, antes que os fracassos comecem a impactar a autoestima.

O foco da terapia comportamental é diferente daquele dos medicamentos, que tentam eliminar os sintomas. Em vez disso, ele se concentra nas maneiras pelas quais a hiperatividade ou a desatenção podem impactar o desempenho acadêmico, o relacionamento com os irmãos e a desobediência às determinações dos pais. Ele lida com os ambientes e domínios da incapacidade, e depende da forte colaboração entre as famílias, escolas, profissionais de saúde mental e de primeiros cuidados.

O que é uma incapacidade?

Nenhuma criança começa um tratamento para o TDAH porque sua mãe estava sentada em sua cama, à noite, lendo um artigo sobre os sintomas do TDAH no Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais (DSM). As crianças chegam para tratamento porque seus professores chamam os pais e dizem “Você precisa vir para uma conversa. Estou tendo dificuldade com seu filho na escola”. Ou porque as coisas não estão indo bem em casa com as tarefas diárias ou com as brigas entre os irmãos ou pelos problemas criados com a vizinhança.

A incapacidade é a dificuldade que determina o resultado a longo prazo, ou o sucesso de uma criança. Portanto é o que deve ser visado no tratamento.

Tratamentos a evitar

Esses tratamentos são geralmente usados para crianças após o diagnóstico de TDAH, mas não têm efeito comprovado:
1- A tradicional terapia um a um
2- Terapia cognitiva
3- Ludoterapia
4- Terapia neural de biofeedback e treinamento com EEG
5- Dietas de eliminação de alimentos
6- Quiropraxia
7- Tratamentos para alergia
8- Treinamento motor ou perceptivo / treinamento de integração sensorial
9- Tratamento para equilibrar os problemas
10- Terapia ocupacional
11- Suplementação dietética (mega vitaminas, algas verdes)

Qual é o melhor tratamento?

As únicas terapias que se comprovou serem eficazes para o tratamento do TDAH são a terapia de modificação comportamental, a medicação estimulante ou uma combinação de ambas. Costuma funcionar melhor quando se inicia com a terapia comportamental e, então ver se é preciso adicionar a medicação como um suplemento, se ela não resolver totalmente os problemas funcionais. Se necessária, a medicação deve ser dada muito gradualmente, para encontrar a menor dose possível que faça efeito.

Como o TDAH é um problema crônico, a coisa mais importante que os pais e os professores podem fazer é aprender como implementar de forma consistente as estratégias para o controle do comportamento das crianças.
A medicação tem efeitos de curto prazo mas não tem efeitos de longo prazo.
Ela não muda as partes do cérebro que fazem as crianças aprenderem melhor. Ela somente faz as crianças ficarem mais aptas a permanecer sentadas quietas e a fazer o trabalho sentado.

Como avaliar a deficiência

O primeiro passo para começar um programa de modificação do comportamento é completar uma avaliação das dificuldades diárias e das habilidades adaptativas.
Esse é o aspecto mais fundamental de uma avaliação inicial. Ele determina as áreas alvo do tratamento e estabelece uma linha de base para as avaliações futuras destinadas a aferir a resposta ao tratamento.

Escalas abreviadas de notas dos pais e professores são suficientes para indicar se o TDAH é um problema. Os pais e os professores usam a escala de avaliação das deficiências (IRS - Impairment Rating Scale) para descrever o que eles veem como os principais problemas das crianças em forma narrativa. Notas, então, quantificam como os sintomas das crianças afetaram cada um dos seguintes domínios:
1- relacionamento com os colegas e irmãos
2- relacionamento com os pais ou professores
3- o progresso acadêmico de cada crianças
4- o comportamento em sala de aula e em casa
5- a autoestima
6- problemas em geral e a necessidade de tratamento

Intervenção dos pais

A abordagem comportamental focaliza as habilidades dos pais, o comportamento da criança e os relacionamentos familiares. Os pais aprendem habilidades, tais como o modo de prestar atenção positiva na sua criança quando ela estiver fazendo alguma coisa que eles gostem, e como modificar as técnicas de acordo com as necessidades.

Os ABCs da modificação do comportamento para os pais são: Modificar os Antecedentes (coisas que acontecem antes dos comportamentos, por exemplo, uma solicitação à criança); Comportamentos (o que a criança faz em resposta e que os pais querem mudar); Consequências (coisas que acontecem depois do comportamento, por exemplo, a resposta à desobediência)

Não se trata de tentar ensinar a criança a pensar de modo diferente, mas, realmente, de ensinar os pais a usar a sua atenção e consequências positivas para moldar o comportamento da criança e reforçar coisas que eles querem que a criança faça mais, e consequências negativas brandas para ajudar a criança a aprender.

Programas de Habilidades dos Pais

A maneira mais comum de aprender essas habilidades é baseada em grupos, com sessões semanais com um terapeuta (de 8 a 16 sessões). Os pais aprendem uma técnica, vão para casa e a implementam do modo que aprenderam e discutem o progresso, a resolução dos problemas, e aprendem nova técnica a cada semana. Daí, as sessões geralmente diminuem para mensal ou trimestralmente, uma vez que o comportamento esteja sob controle.

As intervenções precisam ser factíveis e palatáveis para as famílias, de modo que elas possam ser mantidas por longo prazo. Os programas ensinam habilidades tais como sistemas de recompensas, e como dar ordens corretamente. A melhora geralmente é gradual, e deve haver um plano caso a criança desande, especialmente durante as transições mais importantes do desenvolvimento, como iniciar o ensino médio.

Treinamento de Habilidades para os Professores

A intervenção comportamental na escola somente pode acontecer se os professores focarem em um bom gerenciamento de práticas de sala de aulas, no desempenho acadêmico e nos relacionamentos entre os colegas.

O treinamento de professores é amplamente disponível e programas gerais que treinam todos os funcionários e administradores, ou seguem um modelo de consultoria (Isso nos Estados Unidos). Começam com sessões semanais com um terapeuta ou psicólogo da escola. As sessões vão se distanciando conforme os professores aprendem as habilidades que vão utilizar com as crianças TDAH nas horas de aula. Em geral, os professores precisam de 2 a 10 horas de treinamento. As técnicas comportamentais devem se integrar aos programas baseados na escola, tais como os planos IEPs e o 504 (Isso, nos Estados Unidos) e devem estar disponíveis a todos os membros relevantes da equipe escolar.

Cartão Diário de Avaliação

Uma coisa que é absolutamente essencial para as crianças com TDAH é um cartão de avaliação diário. É uma ferramenta para o monitoramento constante do progresso da criança e pode ser utilizado para ajustar a dosagem mais adequada da medicação, se necessário.

Um pai ou m terapeuta age em conjunto com a escola para determinar as metas para a criança – o que fará a criança atuar melhor na sala de aula, as coisas mais importantes que precisam ser reduzidas em termos de problemas ou de trabalho acadêmico. Então, juntos, eles estabelecem um sistema simples para o professor avaliar periodicamente como a criança se comporta durante o dia, para dar o reforço que ela precisa e fornecer uma nota para casa. Os pais seguem em casa com recompensas para a criança que está apresentando um bom dia escolar. Há um modelo de cartão de avaliação diária que pode ser baixado em www.ccf.fiu.edu

Essa ferramenta é necessária porque as crianças com TDAH precisam de reforço específico para seu comportamento com maior frequência do que uma vez por semana. Custa pouco e toma pouco tempo do professor, mas é eficiente para mudar o comportamento da criança na escola. Uma vez adotado o cartão diário de avaliação, ele reduz o tempo que os professores precisam gastar para lidar com os comportamentos problemáticos da criança e proporcionam uma ferramenta para o monitoramento contínuo do progresso da criança.

Intervenções com a Criança

A abordagem comportamental e de desenvolvimento usada com as crianças focaliza no ensino de competências acadêmicas, recreacionais e sociais/comportamentais, diminuindo a agressividade, aumentando a obediência, desenvolvendo amizades consistentes, melhorando o relacionamento com os adultos e construindo a autossuficiência.

Há vários níveis de tratamento: para-profissionais, tratamento intensivo (como programas de 8 semanas no verão), sessões depois das aulas, e sessões de 6 horas aos sábados. Todos os programas usam um núcleo de procedimentos que incluem treinamento (coaching), uso de exemplos, modelagem, representação teatral de papéis, reforço, recompensas e consequências, e prática.


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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

VINTE E UM COMENTÁRIOS IGNORANTES SOBRE O TDAH (E OS FATOS PARA REFUTÁ-LOS) - 428

VINTE E UM COMENTÁRIOS IGNORANTES SOBRE O TDAH (E OS FATOS PARA REFUTÁ-LOS)

O TDAH não é desobediência de propósito. Não é causado por muito açúcar ou muitos jogos eletrônicos. E castigo físico não é um método de cura. A seguir, nossos leitores compartilham 21 dos mais ignorantes comentários sobre o TDAH, e os fatos que usam para refutá-los. Pelos leitores e editores de ADDitude.

Os piores comentários sobre o TDAH

Quando de fala sobre o TDAH, os mitos e a desinformação abundam. Nossos leitores compartilham alguns desses comentários idiotas e sem pés nem cabeça que ouviram de estranhos, professores, médicos e membros da família, sobre o TDAH. Prepare-se para o massacre de insensibilidade.

1- É somente uma birra

Minha mãe ficou em minha casa por uns dias. Toda vez que meu filho “enlouquecia”, ela dizia “Bem, para mim, é só uma crise de birra”. Eu até poderia concordar com ela se esses descontroles não acontecessem todos os dias!

2- É um falha de caráter

Enquanto eu crescia, meus pais me faziam crer que era um “defeito no meu caráter”, e não desatenção, o que me impedia de ir bem no desenvolvimento das habilidades acadêmicas. Precisei reconhecer o TDAH nos meus próprios filhos para começar a me livrar do sentimento de culpa!

3- É um criador de caso

Quando meu filho estava no quarto ano, sua professora ficou cansada com o que ela descrevia como “mau comportamento” e “desrespeito às regras”. Ela começou a dizer que nós éramos uma família de “criadores de caso”. Um professor não devia ter mais conhecimento?

4- Hiperativo

Oh, ele é só um pouquinho hiper”. Bem, isso é uma subestimação.

5- Aprender a ser pai (mãe)

Antes de ser diagnosticado como TDAH, um pediatra sugeriu de verdade que eu tomasse aulas de como ser pai ou mãe. Foi preciso que eu me mudasse para outro estado e consultasse outro pediatra para que meu filho fosse corretamente diagnosticado com TDAH.

6- O melhor remédio

Um dia fui comprar a medicação do meu filho e o farmacêutico disse “Você sabia que economizaria um bom dinheiro se em vez de remédio lhe desse umas boas palmadas?”. Fiquei chocada!

7- A solução é o Esporte

Alguém uma vez me disse que se eu pusesse meu filho para praticar algum esporte os problemas de comportamento deles seriam resolvidos. “Ele só precisa ficar muito cansado”.

8- Pais que criticam

Eu nunca deixaria meu filho fazer isso”. Acho que seu filho não tem TDAH.

9- Por um freio nele

O que há de errado com essa criança?! Por que os pais não põem um freio nela?”. Se fosse assim tão simples.

10- Teste do tempo

Ela vai superar isso”. Já ouviu falar do TDAH do adulto? Suspiro.

11- Mal ajustado socialmente

Fui apelidado de “mal ajustado” pela minha professora de jardim de infância, mas, na verdade, eu ficava apenas aborrecido porque não estava aprendendo nada novo.

12- Desmotivado

Enquanto crescia, fui chamado de “preguiçoso e desmotivado” e foi dito que eu só precisava me aplicar mais.

13- A vergonha das drogas

Então há os que dizem “Oh meu Deus, você dá essas drogas para ela? Você não tem medo do que elas fazem a ela?” Humm...não. Estou mais preocupada com o que minha filha vai fazer se ela não tomar seus medicamentos!

14- Vantagem desonesta

O Plano 504 e os IEPs (Programas Individuais de Educação) são uma vantagem desonesta”. Oh, tá certo, porque ter TDAH é como dar um passeio na praça.

15- Esforce-se

Você não está vivenciando todas as suas potencialidades. Se você apenas se esforçasse mais um pouco...”. Nós todos já escutamos isso.

16- As dificuldades para a pender

Fui diagnosticada com TDAH no jardim de infância. Minha professora do primeiro ano disse “Bem, ela só é burra e não consegue aprender”. Hoje, tenho 4 graduações de bacharel e uma de mestrado, e estou me preparando para um doutorado. Adivinha se eu não provei que ela estava errada.

17- Os inteligentes

Gente inteligente não tem incapacidades e gente com incapacidades não é inteligente”. Isso, obviamente, não é verdade. Já ouviu falar de Einstein? Sim, ele tinha TDAH.

18- Um dia “tipo TDAH”

É uma neura pra mim quando um não TDAH brinca dizendo “Hoje estou tão TDAH”, quando estão distraídos. É o tipo de piada que faz as pessoas deixarem de considerar o TDAH um transtorno grave.

19- Um lar desfeito

Uma vez, alguém me disse que eu me comportava daquele jeito porque eu era o produto de um “lar desfeito”.

20- O que há num nome?

Irresponsável” é uma palavra que ouço constantemente enquanto cresço. Sinto que é o meu nome do meio, ou segundo nome.

21- Sobrecarga de TV

Tive um professor de psicologia que me disse que o TDAH era provocado por maus pais e por excesso de TV! Fiquei vermelho de raiva por vários dias. Doeu meu coração pensar que alguém pudesse realmente dizer isso.


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O TDAH da criança e o do adulto podem ser transtornos independentes. 427

O TDAH da criança e o do adulto podem ser transtornos independentes.

Novas pesquisas, polêmicas, sugerem que as pessoas, que não demonstram nenhum sinal de TDAH na infância, podem desenvolver a condição mais tarde na vida e, inversamente, crianças com o diagnóstico podem superar no crescimento os seus sintomas.
Duas novas pesquisas sugerem que o TDAH adulto não é uma simples continuação do TDAH da infância, mas, na verdade, um transtorno separado, com um desenvolvimento independente ao longo da vida. E, além disso, o TDAH com início na idade adulta pode ser realmente mais comum do que o de início na infância. Esses dois resultados vão contra o que se acredita popularmente, e pedem para serem confirmados com mais pesquisa.
Os dois estudos, publicados no número de julho de 2016 do JAMA Psychiatry, usaram metodologia semelhante e mostraram resultados muito parecidos. O primeiro, conduzido por uma equipe da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no Brasil, avaliou mais de 5 mil indivíduos nascidos em 1993 na cidade de Pelotas. Aproximadamente 9% deles foram diagnosticados como TDAH da infância – uma taxa bem dentro da média. Doze por cento dos mais de 5 mil indivíduos preencheram os critérios de TDAH quando adultos – significativamente mais do que era esperado pelos pesquisadores – mas havia superposição muito pequena entre os grupos. De fato, somente 12,6% dos adultos com TDAH tinham sinais diagnosticados como TDAH na infância.
O segundo estudo, que avaliou 2.040 gêmeos nascidos na Inglaterra e no País de Gales de 1994 a 1995, verificou que de 166 indivíduos que preenchiam os critérios para TDAH do adulto, mais da metade (67,5%) não tinham nenhum sintoma de TDAH na infância. Dos 247 indivíduos que preenchiam os critérios para TDAH na infância, menos de 22% retiveram tal diagnóstico como adultos.
Os resultados desses dois estudos confirmam os achados de uma pesquisa da Nova Zelândia, publicada em outubro de 2015, na qual foram seguidos indivíduos desde o nascimento até a idade de 38 anos. Dos pacientes que mostraram sinais de TDAH como adultos, naquele estudo, um surpreendente índice de 90% não mostraram nenhum sinal do transtorno na infância.
Os resultados combinados desses dois estudos sugerem que a definição mais amplamente aceita do TDAH (como um transtorno que se desenvolve na infância e ocasionalmente se resolve com o crescimento do paciente) pode estar precisando de uma revisão. Alguns especialistas permanecem em dúvida, entretanto, e sugerem que os autores dos estudos podem ter simplesmente ignorado os sintomas de TDAH na infância nos casos em que ele aparentemente surgiu na idade adulta.
Como essas dúvidas sugerem que as pesquisas do Reino Unido, Brasil e Nova Zelândia podem ter subestimado a persistência do TDAH e superestimado a prevalência do TDAH de aparecimento no adulto, seria um erro para os profissionais admitir que muitos adultos a eles encaminhados com sintomas de TDAH não tiveram uma história de TDAH na infância”, escreve Stephen Faraone, Ph.D., e Joseph Biederman, M.D., em um editorial alertando a comunidade TDAH a interpretar os dois mais recentes estudos como “um grão de sal”. Eles acham que os resultados são “prematuros”.

Em ambos os estudos, entretanto,os que tinham TDAH do adulto mostraram níveis elevados de comportamento criminoso. Abuso de substâncias, acidentes de tráfego e tentativas de suicídio. Essas preocupantes correlações permaneceram mesmo após os autores terem ajustado a análise para outros transtornos psiquiátricos – provando uma vez mais que quer se desenvolva na infância ou na idade adulta, o TDAH não tratado é um problema sério. Por Devon Frye. ADDitude.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Tome cuidado! Os médicos confundem TDAH com Transtorno Bipolar do Humor - 426

Tome cuidado! Os médicos confundem TDAH com Transtorno Bipolar do Humor

Para os médicos que são treinados em transtornos do humor, os sintomas do TDAH podem se parecer com Transtorno bipolar. Não deixe que seu médico erre o seu diagnóstico.
Dr. Willian Dodson, M.D.

As pessoas com o sistema nervoso do tipo TDAH são passionais. Elas sentem as coisas mais intensamente que as pessoas com sistema neurológico normal. Elas tendem a reagir exageradamente a pessoas e a acontecimentos em suas vidas, especialmente quando percebem que alguém as está rejeitando e retirando amor, aprovação ou respeito.

Os médicos veem o que estão treinados a ver. Se eles veem “oscilações de humor” somente em termos de transtornos de humor, eles mais provavelmente diagnosticarão um transtorno de humor. Se eles são treinados a interpretar a excessiva energia e o pensamento veloz em termos de mania, isso é o que eles provavelmente diagnosticarão.

De acordo com dados do National Comorbidity Survey Replication (NCS-R), todos os adultos com TDAH foram diagnosticados como tendo transtorno bipolar do humor (TBH). O TDAH não foi uma opção. Quando a maioria deles obteve o diagnóstico correto, eles já tinham se consultado com 2,3 médicos, em média, e fracassado em 6,6 tipos de tratamento com antidepressivos e estabilizadores do humor.

Antes de que um médico faça o diagnóstico, os pacientes precisam saber que as doenças do humor:

- Não são desencadeadas por eventos da vida diária; elas “caem do céu”
- São independentes do que está acontecendo com a vida da pessoa
(quando coisas boas acontecem, eles ainda se sentem “miseráveis”);
- Têm início lento, durante semanas ou meses;
- Duram semanas ou meses, a não ser que tratados.

Os pacientes também precisam saber que as oscilações de humor do TDAH:

- São uma resposta a algo que está acontecendo na vida da pessoa;
- Combinam com o que a pessoa percebe como fator desencadeante;
- Mudam instantaneamente;
- Desaparecem rapidamente, geralmente quando a pessoa diagnosticada com TDAH se engaja em algo novo e interessante.


Se você não consegue que seu médico veja essas distinções importantes, a probabilidade é de que você será mal diagnosticado e não receberá o tratamento adequado. 

terça-feira, 24 de maio de 2016

TDAH EM MENINAS E MULHERES - 425

Sábado, 14 Maio 2016 00:00

TDAH EM MENINAS E MULHERES

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A maior parte da literatura sobre TDAH é tradicionalmente direcionada ao gênero masculino, pois em tese somariam 80% dos portadores. Entretanto, há algum tempo, pesquisadores têm chamado a atenção, quanto à expressão do transtorno, para as diferenças entre homens e mulheres. Alguns autores vêm se dedicando ao estudo específico do TDAH em meninas e mulheres.
Atualmente mais mulheres estão sendo diagnosticadas, com a melhor identificação do tipo predominantemente desatento (SEM hiperatividade). Meninas e mulheres com TDAH lutam com uma variedade de problemas que são diferentes daqueles que os homens enfrentam.
Nem todos os pais ou professores ouviram falar em TDAH. E não devemos esquecer que a maioria deles, quando ouve esse termo, lembra com freqüência de um menino pequeno e agitado.overwhelmed-woman-juggling
A maior parte dos meninos com TDAH é mais facilmente identificável, seja na sala de aula seja no lazer, e com mais frequencia são levados para uma avaliação. A maior parte das escalas e questionários de avaliação enfatizam os aspectos da hiperatividade, da impulsividade e do comportamento desafiador. E apenas as poucas meninas que são parecidas com esses meninos é que são levadas a alguma avaliação. Com isso continuamos com a taxa enganosa de 4 : 1.
Pode-se traçar um paralelo entre as formas tradicionais (tipo misto, tipo predominantemente hiperativo-impulsivo e tipo predominantemente desatento) e a maneira como os sintomas se expressam nas meninas e nas mulheres. Esse paralelo é bastante útil para compreender as variações sobre esses três tipos.
O que se percebe agora é que muitas meninas não foram diagnosticadas porque seus sintomas se mostram diferentes. Uma grande diferença é que as meninas são menos rebeldes, menos desafiadoras, em geral menos " difíceis " que os meninos. Mas " ser menos difícil " em vez de ajudar, só dificultou o reconhecimento do problema. Enquanto meninos causam frequentes problemas com a disciplina, em casa ou na escola, e rapidamente se procura uma orientação, as meninas, por serem mais cordatas, dificilmente são identificadas, e vão passando ano após ano na escola sem usar todo o seu potencial.
No entanto, meninas com TDAH não são todas iguais. Quando seu comportamento é parecido com o TDAH em meninos o reconhecimento é mais fácil. Mas mesmo as que são do tipo Misto ou do tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo, nem sempre são tão parecidas com os meninos. E é aí que elas ficam sem diagnóstico.
As meninas e mulheres que apresentam sintomas de Hiperatividade e Impulsividade mais marcantes, os expressam de forma diferente da dos meninos. São frequentemente menos rebeldes, menos opositivas, e a Hiperatividade se expressa através da fala e da ação. Como a comorbidade com os Transtornos de Ansiedade e Depressão são os mais frequentes, costumam ter uma instabilidade emocional importante, com frequentes mudanças de humor.
As meninas com o tipo Predominantemente Desatento se mostram sonhadoras e tímidas. Se esforçam para não chamar a atenção sobre si mesmas. Aparentam estar ouvindo enquanto suas mentes divagam. Podem parecer ansiosas em relação a escola, esquecidas e desorganizadas com o dever de casa e atrasar a entrega de trabalhos. Costumam ter um ritmo lento e a sensação de sobrecarga. Algumas são ansiosas ou depressivas e vistas erradamente como menos inteligentes do que realmente são.
No tipo Misto apesar de terem um nível de atividade muito mais alto que as desatentas, elas não são necessariamente hiperativas. A agitação se mostra através da fala mais intensa. O discurso pode ser confuso pela dificuldade em organizar seus pensamentos, e tentam disfarçar a desorganização e o esquecimento. Na adolescência podem tentar compensar a pobre performance acadêmica se expondo a riscos com fumar, beber e iniciar vida sexual ativa, precocemente.
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Quanto mais inteligente, mais tarde os problemas acadêmicos tendem a aparecer. Muitas meninas com QI acima da média podem progredir até chegar ao nível secundário , ou mesmo à faculdade. À medida que a vida escolar se torna mais exigente e complicada, nos níveis superiores, a dificuldade com a concentração, organização e conclusão tem maior probabilidade de aparecer. As disfunções executivas ficam mais visíveis a medida que as exigências sociais progridem.
As pesquisas atuais já demosntram que a proporção de mulheres com TDAH é de 1 para 1 com relação aos homens, o que, portanto, significa, que o TDAH não faz distinção de sexo, e que tantos homens quanto mulheres são igualmente passíveis de sofrer do transtorno.
Neste sentido, é fundamental observar as meninas, especialmente se há ocorrências de casos de TDAH prévios na família, para que não cheguem a idade adulta sem diagnóstico, e acabem colhendo mais prejuízos.
Texto de Katia Beatriz – psiquiatra e membro da diretoria da ABDA
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quarta-feira, 4 de maio de 2016

O Impacto do TDAH no Casamento - 424

O Impacto do TDAH no casamento.

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O Impacto do TDAH no Casamento

shutterstock 110329328-e1441596315353Quem convive diariamente com pessoas que têm TDAH, sabe como essas relações podem se tornar difíceis e desgastantes. Estudos têm focado nas dificuldades que surgem em casamentos onde um ou ambos os cônjuges tem TDAH. Essas relações, usualmente, vivem sucessivas crises que em muitos casos, podem levar ao divórcio.
Alguns autores defendem a existência de um perfil consistente e previsível de casamentos prejudicados pelo TDAH e, que ao identificar esses aspectos é possível traçar uma estratégia de tratamento que permita que o casal se relacione melhor com as dificuldades impostas pela convivência com uma pessoa com TDAH.
Igual a todos os casamentos, os casamentos afetados pelo TDAH podem variar entre exemplos de grande sucesso ou de completo desastre, no entanto, os casamentos afetados negativamente pelo TDAH são especificamente mais problemáticos e com maiores chances de terminarem em divórcios e mais desgaste emocional.  
Existem muitas formas de se vivenciar os prejuízos do TDAH em um casamento. A primeira é que quando se está casado com uma pessoa com TDAH, muitas vezes, o cônjuge que não é TDAH se sente ignorado e solitário no relacionamento. Por ourto lado, o cônjuge que tem TDAH tem sempre a sensação de nunca conseguir corresponder às expectativas do seu parceiro(a). O cônjuge que convive com uma pessoa com TDAH frequentemente experimenta o sentimento de estar lidando “com mais uma criança em casa”, de que está sempre se queixando e cobrando que o outro cumpra com as suas obrigações, o que gera insatisfação e frustrações intermináveis. A médio prazo, o efeito deste ciclo na relação é extremamente negativo uma vez que pode suscitar no cônjuge que tem TDAH a sensação de estar sendo controlado justamente pela pessoa (seu marido/esposa) que deveria ocupar um lugar de parceria. 
Não importa o quanto o indivíduo com TDAH tente, ele nunca consegue satisfazer minimamente as expectativas do cônjuge, sempre responde com um desempenho inferior ao esperado, se sente constantemente cobrado, mas nunca satisfaz as demandas do outro. A sensação que ele experimenta é de estar vivendo continuamente um interminável ciclo de cobranças.
Se alguma dessas descrições parecerem familiares, é porque provavelmente o casamento está sofrendo com o efeito nocivo dos sintomas do TDAH. Vidas emocionais estão em risco. Os  estudos científicos mostram como as pessoas que tem TDAH são duas vezes mais suscetíveis a divórcios do que as pessoas que não tem TDAH (Bierderman et al. in 1993). Esses dados não significam que os que tem TDAH são incapazes de estabelecer bons relacionamentos afetivos. Nesses casamentos, na maioria das vezes o fracasso se deve ao fato de ambos os cônjuges serem vítimas de uma combinação de sintomas de TDAH não compreendidos e, portanto, interpretados como comportamento voluntário do outro.
cartoon-couple-arm-wrestlingO desencadeamento de uma série de respostas negativas previsíveis em ambos os cônjuges cria uma espiral descendente no casamento. As características destrutivas em um relacionamento não são exclusividade dos sintomas do TDAH, mas as consequências de um padrão de relacionamento que incluem os sintomas do TDAH e as respostas equivocadas a estes sintomas, geram crises conjugais, muitas vezes insolúveis. Esse padrão é conhecido como ciclo sintoma-resposta, que é a base da má comunicação que se instala no casamento com indivíduos com TDAH.
            Em casamentos que se encontram em situações extremas, onde a esperança parece ter desaparecido e onde um não reconhece mais no outro aquela pessoa por quem se apaixonou, existem estratégias que podem ser adotadas pelo casal para que juntos conseguam construir uma relação que possa coexistir com a presença do TDAH.

Para reconstruir com sucesso um casamento prejudicado pela presença do TDAH é necessário, primeiramente, que ambos os cônjuges estejam dispostos a buscar tratamento especializado e dispostos a fazer mudanças. A responsabilidade pelo casamento não pode recair somente sobre aquele que tem TDAH. Se o casamento se encontra em crise, é possível que seja consequência do comportamento do casal. Somente mudando a forma com que ambos interagem emocionalmente é que pode ser feita uma mudança na qualidade do relacionamento.
Em segundo lugar, ao entender qual o papel que o TDAH desempenha na dinâmica da relação, é possível com ajuda de um profissional especializado melhorar a comunicação entre o casal e evitar que as mesmas respostas que levaram o casal ao conflito permanente continuem se repetindo. Nesses casos, o conhecimento sobre o TDAH e seus efeitos no casamento é uma ferramenta fundamental e permite que o casal resignifique comportamentos que antes eram vistos como sendo “má vontade” e “preguiça”, possam ser vistos como sintomas do TDAH.
Algumas estratégias benéficas que o casal pode tentar estabelecer tendo como objetivo a melhora na comunicação do casal.
pop-art-gift 1. Restabelecer e cultivar a empatia pelo cônjuge, tentar entender o porquê do outro apresentar comportamentos específicos sem antecipar a intenção do outro. Olhar para si mesmo e para as suas responsabilidades e refletir de que maneira as suas ações reverberam no outro e quais as consequências delas.
 2. Evitar que as mesmas emoções acarretem nas mesmas respostas. Identifique onde o padrão se repete e trabalhe exaustivamente para ter uma reação diferente da comum, que você já sabe que não funciona.
3. Responder agressivamente à distração do(a) seu(sua) marido(esposa) é muito menos eficaz do que tentar apoiá-lo e motivá-lo a mudar o seu comportamento. Mesmo que pareça que seu cônjuge com TDAH mereça as suas reclamações, entenda que, na verdade, com esta atitude agressiva ele vai se sentir cada vez mais desmotivado e cada vez menos amado e compreendido.
4. A busca de tratamento especializado é fundamental para que as estratégias de convivência sejam eficazes a longo prazo;  frequentemente ambos os cônjuges precisam de algum tipo de tratamento (psicoterapia). Os anos de convívio dentro de um casamento com uma pessoa com TDAH podem desenvolver ou agravar outras condições psicológicas do cônjuge, como:  depressão, ansiedade, desesperança e outras questões subjetivas.
5. Finalmente, após todo um trabalho no sentido de melhorar a má comunicação que se instalou no casamento, o casal poderá resgatar uma posição positiva no relacionamento e empreender uma caminhada em direção à reconstrução de uma relação saudável.
Para maiores informações leia o livro:
ORLOV, M. The ADHD Effect on Marriage: Understand and Rebuild Your Relationship in Six Steps. Florida: Specialty Press, 2010.
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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O TDAH pode mascarar o Autismo em crianças pequenas (423)

O TDAH pode mascarar o Autismo em crianças pequenas
Os sintomas que se atribuem ao transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) poderiam mascarar um transtorno do espectro autista (TEA) em crianças muito pequenas, o que pode criar um significativo atraso no diagnóstico do autismo.
Para verificar se um diagnóstico precoce de TDAH interferiria na detecção de um TEA, os investigadores observaram os dados de 1.496 crianças com autismo recolhidos em uma enquete nacional americana de saúde infantil, de 2011 a 2012. Nessa enquete, perguntou-se aos pais se haviam diagnosticado de seu filho com um TDAH ou um TEA, e lhes solicitaram a idade em que receberam o diagnóstico. A 43% dos pais foi dito que os filhos sofriam dos dois transtornos.
Os investigadores descobriram que mais do que duas de cada cinco crianças, que tinham sido diagnosticadas com TDAH e TEA, tinham recebido inicialmente um diagnóstico de TDAH. A maioria dessas crianças (81%) acabou recebendo o diagnóstico de autismo depois dos 6 anos de idade. De fato, as crianças que receberam primeiro o diagnóstico de TDAH tinham quase 17 vezes mais probabilidade de serem diagnosticadas com autismo depois dos 6 anos de idade, quando comparadas com as crianças que foram diagnosticadas unicamente com autismo. Também tinham 30 vezes mais probabilidade de receber um diagnóstico de TEA depois dos 6 anos de idade do que as crianças nas quais se diagnosticou TDAH e TEA juntos ou inicialmente o autismo e, mais tarde, o TDAH.
Segundo os autores, esses resultados indicam que os médicos talvez estejam se precipitando ao diagnosticar TDAH em uma idade muito baixa (3 a 4 anos). Nesse caso, talvez devessem pensar em um transtorno do desenvolvimento, que é mais habitual para esse grupo de idade, como por exemplo o autismo.
Pediatrics 2015
Miodovnik A, Harstad E, Sideridis G, Huntington N

Publicado em Revista de Neurologia - Barcelona - Espanha - Outubro/2015



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