Problemas de relacionamento com colegas são consistentemente
encontrados como sinal de resultados negativos no desenvolvimento. Crianças
rejeitadas (particularmente as que agem agressivamente com os colegas) se saem
significativamente pior na adolescência e na vida adulta do que crianças com
relações de amizade mais harmoniosas. Isso pode ocorrer porque as crianças
rejeitadas geralmente gravitam uma em torno da outra durante a adolescência e
reforçam ou pioram o comportamento antissocial uma da outra. A rejeição pelos
colegas também pode ter um efeito negativo na autoestima das crianças e
contribuir para o desenvolvimento de solidão e depressão.
Infelizmente, muitas crianças com TDAH têm dificuldade em
suas relações com colegas e geralmente se tornam não queridas ou rejeitadas
pelas outras depois de alguns poucos contatos. Por que isso ocorre? O que elas
fazem de errado quando tentam negociar a importante tarefa social de se unir a
um novo grupo social? Há diferenças importantes em como elas tentam se integrar
com os novos colegas sem TDAH? Essa foi uma questão interessante pesquisada em
um estudo publicado há dois anos no Journal of Abnormal Child Psychology [Ronk
et al,. (2011). Avaliação da competência social de meninos com Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade: Aceitação problemática pelos colegas,
respostas e avaliações dos anfitriões. Journal of Abnormal Child Psychology,
39, 829-840.]
Ser capaz de se juntar com sucesso a novos colegas é um
importante primeiro passo para desenvolver relações positivas de amizade. Todos
nós tivemos a experiência de tentar se juntar a outros que ainda não
conhecemos, mas que já eram amigos entre si. É uma tarefa desafiadora e requer
a habilidade de usar comportamentos verbais e não verbais. É uma tarefa
importante porque se unir com sucesso a um novo grupo dá às crianças a
oportunidade de desenvolver novos amigos; crianças que consistentemente têm
dificuldade de enfrentar o processo de entrada no grupo têm menos oportunidades
subsequentes para interações positivas.
Quais os tipos de comportamento associados à entrada
competente no grupo? Pesquisas anteriores sugerem que as crianças
socialmente competentes empregam um espectro de comportamentos de entrada que
vão do baixo risco ao alto risco. Comportamentos de baixo risco são os que têm
menor probabilidade de provocar reações positivas ou negativas dos colegas aos
quais uma criança esteja tentando se unir.
Por exemplo, uma estratégia de baixo risco seria ficar por
perto de colegas que estejam brincando juntos e somente observar sua atividade.
Usando essa abordagem, a criança poderia gradualmente ter uma noção de quais
sejam as atividades e as normas do grupo, e eventualmente comentar sobre o que
acontecia, por exemplo, “parece um jogo divertido – vocês se importam se eu
ficar olhando um pouco?”. Com esse tipo de ação, a criança competente age para
gradualmente misturar-se ao grupo.
Crianças socialmente menos competentes nunca vão além do
estágio de ficar observando, ou se envolvem em estratégias de alto risco, que
podem produzir reações positivas ou negativas. Isso inclui comentários e
perguntas que tirem a atenção dos colegas do que eles estão fazendo e chamem a
atenção sobre si mesmo. Crianças menos habilidosas têm dificuldade de casar sua
atividade com a escala de referência do grupo e de se unir de modo não
incomodativo.
O foco desse estudo foi observar como os meninos com e sem
TDAH lidavam com a admissão ao grupo de colegas. Os participantes foram 1.477
meninos de 12 anos de idade recrutados de vários locais da comunidade. Quarenta
e nove serviram de “indivíduos de entrada”, isto é, os meninos que tinham de
tentar entrar para o grupo. Vinte e seis deles tinham TDAH e vinte e três não.
Todos os meninos com TDAH preenchiam os critérios para os subtipos combinado ou
hiperativo/impulsivo; meninos com somente os sintomas de desatenção não foram
incluídos. O restante dos meninos – nenhum dos quais tinha TDAH – era do grupo
anfitrião, isto é, colegas aos quais os “meninos de entrada” teriam de se unir.
O paradigma experimental foi o seguinte: meninos eram
levados ao laboratório em grupos de 3. Dois meninos – anfitriões – já eram
amigos um do outro, e o “menino de entrada” não conhecia nenhum deles. Os
anfitriões eram levados a uma sala e instruídos a brincar com um dos vários jogos até que o pesquisador voltasse. Minutos
mais tarde, a “criança de entrada” era trazida sem ter recebido nenhuma
instrução específica sobre o que fazer. Desse ponto em diante, as interações
das crianças eram filmadas. Depois de vários minutos, a “criança de entrada”
era retirada pelo pesquisador. A criança era trazida novamente um pouco mais
tarde para que fosse observada uma segunda tentativa de entrada. Todo o
procedimento levava cerca de uma hora.
Meninos com TDAH que estavam medicados não tomavam a
medicação no dia do estudo; isso permitia que seu comportamento não medicado
fosse observado.
Codificando o comportamento de entrada dos
meninos.
Vídeos das interações foram codificados para captar as
tentativas de entradas dos meninos e as reações dos anfitriões às tentativas.
Os códigos para os comportamentos de entrada competentes das
crianças eram:
• Esperar e andar – aproximando-se dos
anfitriões e observando seu comportamento sem falar.
• Comportamento sincronizado –
aproximando-se dos anfitriões e imitando o que eles estavam fazendo sem falar
ou brincar com eles.
• Declaração dirigida ao grupo – uma
declaração verbal relevante dirigida diretamente aos anfitriões ou sobre a
brincadeira.
• Pergunta – uma pergunta relevante dirigida
aos anfitriões.
Comportamentos considerados como reflexos de entrada
incompetente eram:
• Declaração pessoal – uma declaração
descrevendo-se a si mesmo, que não era relacionada com a atividade corrente dos
anfitriões.
• Chamar a atenção – um comportamento verbal
ou não verbal com a intenção de chamar a atenção dos anfitriões.
• Interferência – um comportamento verbal ou
não verbal aversivo.
• Autoelogio – fazer declarações descrevendo
habilidades próprias.
Codificando os comportamentos dos anfitriões
O comportamento dos anfitriões em relação às “crianças de
entrada” foi codificado como segue:
• Iniciação – comportamento não solicitado
convidando a “criança de entrada” para brincar.
• Positivo – resposta à “criança de entrada”
que fosse positiva ou neutra.
• Negativo – resposta à “criança de entrada”
que fosse de rejeição ou desfavorável.
• Ignorar – nenhuma resposta de aceitação da
“criança de entrada”.
Os codificadores também classificaram quão bem a “criança de
entrada” parecia se relacionar com os anfitriões, assim como a habilidade da
criança em manter o padrão de referência do grupo, isto é, se adequar ao jeito
de falar e ao comportamento do grupo nas atividades correntes.
RESULTADOS
Comportamento da “criança de entrada”
Comportamento de entrada competente – nenhuma diferença foi
encontrada na quantidade de comportamento de entrada que os meninos com e sem
TDAH mostraram.
Comportamento de entrada incompetente – Meninos com TDAH
mostraram mais comportamento de chamar a atenção, mais comportamento
perturbador, mais comentários pessoais e mais autoelogios. Diferenças nesses
comportamentos entre meninos com e sem TDAH foram geralmente grandes em
magnitude. Meninos com TDAH também foram classificados como menos hábeis para manter
o padrão do grupo, e suas tentativas de conversação foram julgadas menos
relevantes para a atividade corrente.
Comportamento favorável dos anfitriões e pontos
da “criança de entrada”.
Meninos com TDAH receberam menos respostas para entrada do que os meninos de comparação. Embora não houvesse nenhuma
diferença de grupo nas respostas negativas dos anfitriões durante o primeiro
episódio de entrada, meninos com TDAH tenderam a receber mais reações negativas
no segundo episódio. De modo semelhante, meninos com TDAH não eram menos
queridos pelos anfitriões depois do primeiro episódio de entrada, mas eram
menos queridos depois do segundo episódio.
RESUMO E IMPLICAÇÕES
Os resultados desse estudo indicam claramente que meninos
com TDAH são menos hábeis do que os outros na importante tarefa social de se
juntar a colegas não conhecidos. Como tal, eles têm menos oportunidades de
desenvolver relacionamentos novos e positivos do que os outros.
Foi notável que, no segundo episódio de entrada, meninos com
TDAH já haviam se tornado menos queridos pelos outros meninos. Isso não parece
relacionado com a ausência de comportamento competente de entrada; de fato,
eles mostraram tantos comportamentos competentes como os outros. Na verdade,
isso é mais bem explicado pelos graus significativamente mais altos de
comportamentos incompetentes que eles exibem. Isso incluía mais declarações
para chamar a atenção, mais autoelogios, mais comportamento de chamar a atenção
e mais comportamento perturbador. Em vez de dominar a situação, mantendo o
padrão de referência e silenciosamente se misturar, eles tendem a se intrometer
nas atividades dos anfitriões de um jeito que os colegas não gostam. Assim, a
entrada no grupo de colegas é provavelmente um aspecto da interação social
habilidosa em que os meninos com TDAH precisam de ajuda.
Como os meninos não estavam medicados durante o estudo,
seria interessante saber se taxas elevadas de comportamento incompetente seriam
significativamente reduzidas pela medicação. É possível, mas não se sabe. Seria
também interessante saber se as dificuldades de entrada exibidas pelos meninos
com TDAH seriam da mesma forma exibidas pelas meninas com TDAH. Meninas com
TDAH podem não mostrar déficits comparáveis, ou, podem mostrar padrão diferente
de comportamento de entrada incompetente.
Essas questões, junto com os esforços de melhorar o
comportamento de entrada no grupo de colegas de meninos com TDAH, seriam todas
interessantes para se verificar em pesquisa subsequente.
Novamente, obrigado por seu interesse continuado em nosso
boletim. Espero que você tenha apreciado o artigo acima e o achado útil. Sinceramente,
David Rabiner, Ph.D. – Research
Professor, Dept. of Psychology & Neuroscience, Duke University, Durham, NC
27708 - USA