sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A verdade sobre o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) (396)


O TOC é difícil de entender e de manejar, mas é possível ser controlado! Veja, a seguir, o que você precisa saber sobre o transtorno obsessivo-compulsivo. Por Roberto Olivardia, Ph.D.

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é uma doença mental incômoda, que atinge aproximadamente 1 em 100 pessoas, ou 3 milhões de adultos, e 1 em 200 crianças e adolescentes, ou 500 mil jovens, nos Estados Unidos. As pessoas com TOC, e que também foram diagnosticadas com TDAH, têm muito trabalho para lidar com os dois problemas.

O ABC do TOC

O TOC é caracterizado por obsessões e/ou compulsões. Obsessões são pensamentos persistentes, ou imagens que são inoportunas, intrusivas, e causam estresse e ansiedade. Preocupações com os problemas da vida real não são a mesma coisa que obsessões. As pessoas com TOC tentam ignorar as obsessões ou neutralizá-las com algum pensamento ou ação. Mesmo que a lógica diga que as obsessões são irracionais, é difícil ignorá-las.

Obsessões comuns incluem contaminação (medo de contrair uma doença), dano (medo de ser responsável por algo de mal que aconteça com uma pessoa amada), perfeccionismo (uma necessidade de ter tudo simétrico, tudo correto, ou ideal), escrúpulos ou obsessões religiosas (medo de ofender a Deus), e pensamentos intrusivos sexuais ou violentos.

Compulsões são comportamentos físicos repetitivos (tais como lavar as mãos ou rezar) ou atos mentais (tais como dizer palavras silenciosamente, contar, criar imagens) que uma pessoa se sente compelida a fazer para não fazer ou para controlar a obsessão. A compulsão pode não ter nada a ver com a obsessão.

Compulsões comuns incluem conferir (ligar para um membro da família para ter certeza de que seu pensamento de eles terem sofrido algum mal, de fato não causou mal a eles), lavar e limpar, rituais mentais (contar, rezar, rever cada momento do dia para ter certeza de que não cometeu nenhum ato ofensivo), e evitação (recusa de ir à escola dos filhos por medo de se expor aos germes).

Tal como o TDAH, o TOC tem um forte componente genético e tende a ocorrer em famílias. Embora alguém com TOC possa não ter um membro da família com TOC, ele provavelmente terá um membro da família com um transtorno do espectro do TOC: anorexia nervosa, transtorno dismórfico corporal, transtorno de ansiedade social, tricotilomania (arrancar compulsivo dos cabelos), dermatotilomania (transtorno de escoriação), transtorno de pânico, hipocondria, acumulação, transtorno de Tourette, ou transtornos do espectro autista. O TOC tem uma forte base biológica. Os estudos descobriram desequilíbrios químicos do neurotransmissor serotonina associados ao TOC. Uma grande massa de pesquisa tem sugerido que os gânglios basais e os lobos frontais do cérebro não funcionam corretamente nos pacientes com TOC, levando a pensamentos rígidos, obsessivos e a movimentos repetitivos.

A idade de início do TOC geralmente cai em duas faixas de idade. A primeira é entre as idades de 10 e 12 anos, a segunda é no final da adolescência e início da idade adulta.

Os sintomas do TOC interferem com o funcionamento social, acadêmico, ocupacional e da vida diária. A batalha exaustiva com o TOC resulta em baixa autoestima, depressão, problemas com abuso de substâncias, problemas de relacionamento, fracasso escolar e problemas no trabalho.

Como o TOC e o TDAH se relacionam um com o outro?

Não está claro quantas pessoas com TDAH têm TOC, mas os estudos têm focado na prevalência de TDAH na população com TOC e estimam que aproximadamente 30% dos pacientes com TOC também têm TDAH.

À primeira vista, TDAH e TOC podem ser vistos como condições clínicas opostas. Os portadores de TDAH são caracterizados por serem espontâneos, impulsivos e orientados para o prazer e a estimulação. Os portadores de TOC tipicamente são metódicos, compulsivos (pensam muito antes de agir), e orientados a evitar tudo que possa gerar ansiedade.

Entretanto, se os dois transtornos forem considerados em termos de funções executivas, fica claro que os portadores de TOC têm algum déficit de atenção e de funções executivas semelhantes aos dos que têm TDAH.

> As pessoas com  TOC têm um problema com a atenção seletiva. Elas prestam muita atenção a algo que elas vêem como uma ameaça.

> Elas acham que é difícil afastar-se de certos estímulos, e são incapazes de filtrar dados irrelevantes, para que não se esqueçam de algo que possa trazer uma consequência negativa.

> Priorizar pode ser desafiador. Um estudante com perfeccionismo freneticamente anota tudo que o professor fala na sala de aula. Para o estudante, não anotar tudo pode significar que ele perderá a lição. Entretanto, isso pode levar o aluno a perder a noção geral do assunto.

> Os que têm TOC são incapazes de filtrar os pensamentos obsessivos, que são uma distração das tarefas.

> Os que têm TOC apresentam déficits cognitivos nas tarefas de memória visual, quando prestam atenção em um pequeno detalhe e não podem lembrar-se do problema maior.

Os estudos têm demonstrado que ter TOC e TDAH está associado a mais problemas de atenção, sociais, acadêmicos e familiares do que ter cada um deles isoladamente. A idade de início do TOC é mais cedo nos que também têm TDAH.

Tratamento do TOC

Duas intervenções se demonstraram, por numerosos estudos, eficazes no tratamento do TOC. A primeira é a TCC - Terapia Cognitivo Comportamental,  especificamente a Terapia de Prevenção de Resposta à Exposição (TPRE). A segunda é a medicação. A parte cognitiva da TCC focaliza atingir os pensamentos negativos, identificar as distorções e reprogramar os pensamentos com uma visão correta.

O tratamento mais importante do TOC é a TPRE. Implica a confrontação do pensamento, imagem, objeto ou situação que faz a pessoa com TOC ficar ansiosa. A TPRE também implica confrontação de um sintoma exagerado do TOC. Se alguém evita tocar uma maçaneta, por medo de contaminação,  um terapeuta de TPRE fará a pessoa por suas mãos no assento da privada de um banheiro público por 15 minutos.

A prevenção de resposta se refere a fazer uma escolha de não ter o comportamento compulsivo depois da exposição. Não lavar as mãos ao menos por uma hora depois de ter tocado o assento da privada. Nenhum ritual mental para desfazer o pensamento ofensivo. A TPRE trabalha com a noção de que o que sobe, precisa descer. O propósito é aumentar o nível de ansiedade, enfrentá-la, sem evitação, até que o corpo, eventualmente, a tolere.

A medicação é muito eficaz para o tratamento dos sintomas do TOC. A classe de medicamentos mais eficiente é a dos antidepressivos conhecidos como Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS). Entre eles estão fluvoxamina, sertralina, citalopram, escitalopram, fluoxetina e paroxetina. Esses medicamentos aumentam a quantidade de serotonina no cérebro.
Os medicamentos para o TOC não pioram os sintomas do TDAH. Entretanto, a medicação estimulante para o TDAH pode, às vezes, fazer piorar os sintomas do TOC. Pacientes com TDAH e TOC às vezes acham que os estimulantes pioram sua capacidade de prestar atenção em tudo, exceto em suas obsessões. Para outros, os estimulantes podem afetar positivamente o TOC, ou podem não ter nenhum efeito sobre os sintomas do TOC. A psicoterapia também é útil face às dificuldades relacionadas com o TOC, tais como a vergonha e a baixa autoestima. A terapia de casais e a terapia de família também são recomendadas.

O essencial é trabalhar com os especialistas em TDAH e TOC. Nem todos os terapeutas são treinados em TCC ou em TPRE. Se você tiver TOC, seu terapeuta deverá ter experiência em seu tratamento. o tratamento correto pavimentará a via para uma vida livre de obsessões e compulsões torturantes.

TDAH versus TOC: desembaralhando os sintomas

É importante diagnosticar corretamente os sintomas quando alguém sofre com o TOC, TDAH, ou ambos.

Quando as pessoas têm os dois, um deles geralmente passa despercebido. A seguir, alguma maneiras comuns pelas quais o TDAH ou o TOC podem não ser diagnosticados ou confundidos um com o outro:

1- O TDAH é menos diagnosticado na população adulta com TOC, por causa da falta de reconhecimento do TDAH em adultos

2- É senso comum que todos os que têm TDAH fracassam academicamente, quando muitos com TDAH se desempenham adequadamente nas atividades escolares. Os pacientes que têm ambos os transtornos relatam que seu TDAH torna a escola difícil, mas os sintomas do TOC mascaram seus esforços, criando grave ansiedade em relação ao fracasso.

3- O TDAH desatento é sub-diagnosticado, assim, a falta de sintomas de hiperatividade pode resultar no não aparecimento do TDAH no radar das pessoas que têm TOC e TDAH.

4- Às vezes, os sintomas do TDAH e do TOC se misturam ou um imita o outro. Um paciente com os dois transtornos tem de arrumar seu quarto meticulosamente antes de escrever um relato, dizendo que ficaria muito distraído se houvesse qualquer desarrumação ou bagunça em seu quarto. Embora o comportamento de limpeza possa ser visto como TOC, ele é mais devido ao seu TDAH. Quando ele não tem de escrever um relato, ele não se importa com um quarto bagunçado.

5- Outra confusão comum é a que ocorre entre a especificidade relacionada ao TDAH e o perfeccionismo relacionado ao TOC. Uma pessoa pode ter preferência por uma caneta específica para escrever, ou usar um certo modelo de roupa para ir às aulas. Tudo isso é para criar um ambiente ótimo para prestar atenção.

Além disso, certos TDAHs são sensíveis a algumas texturas, roupas e sons. Isso pode ser incorretamente diagnosticado como perfeccionismo do TOC, que é diferente. O perfeccionismo do TOC é mais sobre um desejo de atingir uma "moral correta". Se alguém fracassa em atingir a perfeição, a pessoa é imoral ou má e se sente desvalorizada. às vezes é difícil dizer por que alguém precisa que as coisas sejam perfeitas. As pessoas com TOC geralmente procuram o sentimento "bem correto", o que é menos que uma experiência sensorial. Alguém pode lavar as mãos 30 vezes e obter o sentimento "bem correto" na trigésima vez, mesmo que a experiência sensorial tenha sido idêntica nas 30 vezes.

6- O hiperfoco visto nos TDAHs o foco exagerado visto no TOC podem ser confundidos um com o outro. Hiperfoco é um nível intenso de atenção quando os TDAHs se sentem produtivos e fluidos. Isso é muito diferente de ter o foco exagerado, o que deixa alguém paralisado e preso.

7- O TOC pode ser ignorado em populações TDAH por causa dos falso conceito sobre o TOC. Uma ideia errada comum é a de que todas as pessoas com TOC são limpas e altamente organizadas. Ser bagunçado não exclui o diagnóstico de TOC, porque há muitas manifestações do TOC.


Roberto Olivardia, Ph.D. - ADDitude

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Irmã. Mulher. Mãe. TDA adulto (395)


As mulheres adultas não têm TDA, têm?!? Oh, sim. De fato, as mães são o grupo populacional recentemente diagnosticado com TDAH que cresce mais depressa. Em outras palavras, você não está sozinha - em suas emoções conflitantes, nas suas dores, ou em sua chance de um novo começo. Nós estamos aqui para ajudar. Por Zoe Kessler.

O TDAH Feminino 

Muitas mulheres diagnosticadas com TDAH (ADHD) na idade adulta experimentam um momento "Aha!" quando seu filho é diagnosticado. De repente, você também começa a se reconhecer, e às suas dificuldades, no diagnóstico. Você sempre soube que havia alguma coisa estranha, e agora, depois de aprender sobre o transtorno, você acha que tem TDAH. O que você deve fazer? Leia para descobrir o que pode realmente saber, e achar as fontes de informação para seguir em frente.

1. Torne-se uma especialista

Sua vida parece uma grande batalha? Você está sempre desapontada ou frustrada? O primeiro passo em sua jornada com o TDAH é procurar um diagnóstico correto. Comece aprendendo tudo o que puder sobre o TDAH do adulto - até o ponto em que ficar mais informada sobre o transtorno do que seu médico! Fale com ele sobre suas comorbidades - como ansiedade, depressão, ou problemas da tireoide - para ajudar a explicar sintomas ignorados ou mal diagnosticados no passado.

2.  Permita sentir-se de luto

Ter o diagnóstico é o primeiro asso. O segundo passo  é começar a ver a sua vida em duas fases distintas: pré­ e pós-diagnóstico. Depois que seu médico lhe diz que você tem TDAH, é um começo totalmente novo! Mas, antes, você precisa encerrar a fase de pré-diagnóstico, para ter segurança ao lidar com suas emoções. Você precisa de um tempo para sofrer e se inteirar da informação. Somente após ter elaborado seus sofrimentos, você poderá iniciar sua caminhada para diante, com uma visão clara de sua vida pós-diagnóstico.

3. Procure ajuda profissional

Depois de ter aceitado seu diagnóstico, comece a estudar suas opções de tratamento, incluindo medicação, dieta, exercícios e Terapia Cognitiva Comportamental (TCC). A TCC é uma forma de terapia que se baseia na teoria de que a maneira como pensamos e sentimos tem um impacto direto em nosso comportamento. A pesquisa nos mostra que ela realmente reduz os sintomas do TDAH. Eu sugiro que você comece por ela.

4. Avalie as condições comórbidas

O TDAH raramente vem sozinho. Muitas pessoas com TDAH têm ao menos uma condição comórbida coexistente - depressão, transtorno bipolar e transtorno obsessivo-compulsivo são exemplos comuns. Se você estiver preocupada com um transtorno relacionado, o primeiro passo é encontrar um médico que possa separar os sintomas e descobrir onde acaba o TDAH e onde começa o outro transtorno. Se houver uma clínica de TDAH por perto, comece por ela - eles poderão lhe indicar médicos especialistas em ambas as condições.

5. Regule seus hormônios

Os hormônios durante a menopausa, puberdade, e um ciclo menstrual modificam a maneira como os sintomas do TDAH se manifestam e como a medicação afeta as mulheres. Durante a menopausa, por exemplo, os níveis de estrogênio caem 60 porcento, o que significa menos dopamina e serotonina. O resultado é menos clareza mental, dificuldade de  concentração, e mais distração - o que, quando combinado aos sintomas do TDAH, pode tornar a vida um formidável desafio. Mais pesquisa é necessária, mas, em minha experiência, as terapias alternativas podem ajudar a manter sob controle os níveis hormonais flutuantes.

6. Medite

Aprenda a estabilizar seu humor por meio da meditação. Por meio da alteração da sua percepção do tempo, a meditação pode lhe ajudar a sentir como se houvesse mais horas no dia. Se você é hiperativa e ficar sentada ainda faz com que você entre em pânico, nunca tema! Você pode tentar outros tratamentos alternativos, como exercícios físicos e ervas. Não sou especialista em ervas, então consulte um especialista antes de começar a usar qualquer erva.

7. Ensine sua família sobre o TDAH

Às vezes, os outros membros da família não têm o TDAH. Se você for diagnosticada tardiamente em sua vida, isso pode ser desolador. - todo nós queremos ser aceitos pelo que somos. Sua família pode aderir e crescer junto com você, ou eles podem brigar com você. Ajude-os a encontrar o caminho certo dividindo com eles o que você sabe sobre o TDAH e ensinado os modos respeitosos de falar sobre TDAH. Lembre-se, entretanto, que seu diagnóstico é para você, não para sua família. Se eles não conseguirem agir de acordo, você vai precisar se manter por si mesma.

8. Revisite suas paixões

Muitos adultos com TDAH têm dificuldade de manter um emprego, ou de lidar com a estrutura da vida de um escritório. Mas, em minha opinião, a estrutura é superestimada! É claro que todo trabalho tem alguma estrutura, mas o segredo é achar um trabalho que lhe permita ter o tempo mais desestruturado dentro de uma maior organização. Dê uma boa olhada nas paixões de sua vida e pergunte a si mesma qual o trabalho que obteria de você o máximo de suas raras capacidades e potencial.

9. Faça o marketing de si mesma

Para encontrar a carreira perfeita, você precisa fazer o seu próprio marketing, principalmente nas entrevistas. Seja franca sobre suas dificuldades, mas fale sobre elas de um modo positivo sempre que for possível. Não há nenhuma necessidade de usar a palavra "TDAH". Se você for uma aprendiz lenta, conte a eles, "às vezes levo mais tempo para aprender coisas novas, mas, depois que aprendo, nunca mais esqueço!" Fale abertamente sobre os problemas, sem se rotular a si mesma.

10. Nunca se sinta inferior

Se você foi diagnosticada com atraso, pode ter gastado um bom tempo com sentimentos de ser "inferior" a outras mulheres. Isso é difícil de superar, e pode deixar uma marca mesmo depois do diagnóstico. Depois que tiver um tratamento que funcione para o seu TDAH, é importante voltar e desaprender as conversas internas negativas. Aprenda a se amar. Não há melhor conselho do que este.

ADDitude

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Quando o déficit de atenção (TDA) é real (394)


Por Suzana Herculano-Houzel

As tirinhas do menino Calvin e seu tigre de pelúcia, Haroldo, desenhadas pelo americano Bill Waterson, me acompanharam pela adolescência. Calvin sempre é retratado como um menino inteligente, criativo, espirituoso, de espírito saudavelmente rebelde, e com uma certa preferência por viajar por outros planetas a ouvir a professora falar. 

Mas algum fã resolveu "tratar" Calvin de uma suposta doença, e na tirinha adulterada, fácil de achar na internet, os diálogos mostram Calvin, medicado, tratando Hobbes laconicamente, sem querer brincar, até que Hobbes volta a ser apenas o tigre que é. 
A impressão que fica é de uma tentativa de protesto contra a suposta "medicalização" das crianças e jovens hoje em dia. O pior é que há até quem acredite no diagnóstico: Calvin sofreria de distúrbio de déficit de atenção. 

Eu protesto duplamente, como neurocientista e como leitora. A tirinha modificada pressupõe que Calvin só poderia ser criativo e brincalhão se sofresse de DDA, e pior, ainda perderia sua criatividade se fosse tratado com medicamentos. Trata-se de um desserviço àquelas pessoas que sofrem realmente do transtorno e precisam de tratamento, pois fica a impressão negativa de que corrigir o déficit de atenção equivale a fazer uma lobotomia.

Quem sofre do transtorno, ou acompanha de perto alguém afligido, sabe que a verdade é bem diferente. Ou, pior, sofre sem saber que poderia se tratar e não sofrer mais. Entre 0,5 e 5% da população, dependendo dos critérios diagnósticos usados, sofre de um legítimo déficit de atenção, associado a um funcionamento subnormal dos sistemas dopaminérgicos e noradrenérgicos que servem à alocação do foco de atenção e sua manutenção sobre o alvo da vez, resistindo a distrações ao redor. 

Não é surpresa, portanto, que essas pessoas sejam facilmente distraídas, sucumbindo a qualquer novidade que passar pela frente ao invés de se concentrar no trabalho ou dever de casa. Por causa dessa dificuldade de sustentar a atenção, ler um texto até o fim é uma tarefa que pode durar horas e se tornar desmotivante, levando a desinteresse e a uma aparência de preguiça, dificuldade de memória e de aprendizado. 

Pior ainda, para a criança que sofre desse déficit, é a falta de informação dos pais e professores, que reclamam de um comportamento que não depende de escolha da criança. Retorno negativo, na forma de comentários do tipo "você é preguiçoso" ou "você não está se esforçando", só faz criar uma autoimagem ainda mais negativa, daquelas que se tornam profecias autorrealizáveis. 

Para quem consegue ser atendido por um bom profissional que reconhece o problema e oferece tratamento, contudo, a vida muda da água para o vinho. A criança, o jovem ou adulto finalmente descobre o que é a vida "normal", em que é possível manter o foco da atenção em um mesmo assunto por mais do que poucos segundos; onde é possível fazer uma prova em poucas dezenas de minutos, e não horas; onde é possível ler um livro enquanto outras pessoas conversam na sala. Poder tomar remédio, quando o remédio é necessário, é uma maravilha para quem sofre de déficit de atenção. Quem tiver dúvida é só perguntar a eles. 

Não vejo o tal "problema da medicalização da infância" de que falam alguns psicanalistas. Vejo, sim, o problema dos maus profissionais, seja psicólogos, médicos, professores ou pedagogos, que tacham um diagnóstico errado em pessoas que sofrem de outros problemas, não tratáveis com os medicamentos que trazem tanto alívio para quem realmente tem um déficit de atenção verdadeiro.


SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autora do livro Pílulas de neurociência para uma vida melhor (Sextante, 2009). Publicado na revista Scientific American MENTE E CÉREBRO jan/2015 pg. 16

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Então, você acha que tem TDAH? Como escolher um profissional. (393)


Escolher o médico certo para fazer o diagnóstico e tratar seu TDAH adulto não é nada fácil. Aqui estão dicas para encontrar o profissional certo para você. Por Michele Novotni, Ph.D.

Pode ser que algum dos seus amigos tenha sido avaliado para TDAH recentemente, ou que tenha tido um momento "a-há!", depois de dar uma olhada na sua mesa de trabalho. Você voltou à sua juventude e percebeu que sempre foi desorganizado e impulsivo. Ou, talvez, você levou seu filho a um profissional, para um diagnóstico, e conforme o médico enumerava os sintomas, você queria dizer "Eu também!". Aí, você pensou em ligar para um profissional para falar com ele sobre isso.

Antes que você procure alguém para ajudá-lo, tenha em mente esses fatos:

> Um psicólogo, um psiquiatra, ou um neurologista são os profissionais mais bem preparados para fazer o diagnóstico de TDAH do adulto. Um terapeuta de nível superior é recomendado somente para a triagem inicial.

> Somente um psiquiatra, neurologista ou médico de família pode receitar medicação para o TDAH do adulto.

> Se você precisa de aconselhamento, escolha um psicólogo ou um terapeuta de nível superior. um psiquiatra será uma boa escolha, dependendo da habilidade dele em prover aconselhamento para ajudar na resolução de problemas.

> Lembre-se de que seus problemas não desaparecem logo após o seu TDAH ser descoberto e tratado medicamentosamente. Há geralmente um grande número de problemas restando, para os quais o aconselhamento é necessário.

Como o TDAH do adulto é uma especialidade relativamente nova, muitos profissionais não têm ainda recebido o treinamento formal como parte de seus estudos acadêmicos. É dever de cada um dos profissionais manter-se a par do TDAH por meio de comparecimento a seminários e "workshops", e pela leitura de revistas profissionais e livros sobre o assunto. Alguns profissionais são mais interessados nessa área e mais experientes do que outros. Alguns acham que o TDAH seja um transtorno verdadeiro.

Se você vai contratar alguém para limpar sua casa, babás dos seus filhos, ou para consertar o seu carro, seria razoável que pedisse referências, de modo que possa verificar as qualificações da pessoa que vai contratar. Quando você vai contratar alguém para ajudá-lo com seus desafios saúde mental, você deve fazer a mesma coisa.

Muitos de nós temos tanto temor de médicos que achamos difícil fazer
perguntas, especialmente se estivermos questionando as habilidades do médico. Isso não é descortês? O médico não irá se ofender? É seu direito saber as qualificações do profissional com quem você poderá se relacionar, e muitos médicos compreendem isso. Veja as cinco perguntas que todo adulto deveria fazer ao seu médico:

1- Quantos pacientes com TDAH do adulto você tratou?

2- Há quanto tempo você trabalha com adultos com TDAH?

3- O que faz parte da sua avaliação e do processo de tratamento? Testes escritos, entrevistas? História familiar? Modificação do comportamento? Medicação?

4- Quanto custa o tratamento?

5-Você recebeu qualquer treinamento especial no diagnóstico e tratamento do TDAH do adulto?

Você não precisa insistir em fazer pessoalmente essas perguntas ao seu médico ou conselheiro. Geralmente a secretária pode lhe dar a informação que você precisa para tomar uma decisão informada. Sinta-se à vontade para imprimir essas perguntas para seu uso pessoal.

Um método eficiente de encontrar um médico que tenha experiência em diagnosticar e tratar do TDAH do adulto é fazer um contato com sua organização local de adultos com TDAH [Isso é na América!]. Se você não conhece um grupo local [Isso é no Brasil!], entre em contato com a ABDA, Associação Brasileira do Déficit de Atenção, em http://www.tdah.org.br e pergunte sobre profissionais que poderiam atendê-lo em sua cidade.


ADDitude

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Como a música faz desabrochar o cérebro TDAH (392)


Aprender um instrumento ajudou meu filho a aumentar sua atenção e a impulsionar seu desempenho. Veja aqui como você pode usar a música para dar também ao seu filho, com TDAH ou Dificuldade de Aprendizagem, uma vantagem. Por Sharlene Habermeyer.

As crianças não vêm em pacotes organizados - elas vêm com espontaneidade, energia e deliciosa individualidade. Algumas têm desafios de aprendizagem que as afeta fisicamente, cognitivamente, emocionalmente e no comportamento. A notícia boa é que a música pode ajudar a maioria delas.

Em 1982, meu terceiro filho, Brandon, sofreu um traumatismo de parto que o deixou com danos no córtex pré-frontal. Ele era um bebê inquieto, chorava o tempo todo, e tinha infecções de ouvido constantemente, atraso da fala e da linguagem, e grave ansiedade de separação. Aos seis anos, foi diagnosticado com TDAH, e problemas no processamento auditivo, na discriminação auditiva, problemas visuais e na percepção visual, além de problemas motores e sensoriais. A diferença entre seu QI escrito e oral era de 38 pontos, indicando graves dificuldades de aprendizagem. Uma equipe de profissionais da escola e de especialistas concluiu que ele teria muita dificuldade de aprender, prestar atenção e de se concentrar. Disseram que ele poderia não se graduar no ensino médio e que a faculdade estava fora de questão.

Eu decidi aceitar as conclusões dos especialistas como uma possibilidade, e não ficar desencorajada. Pesquisei sobre o TDAH e sobre as Dificuldades de Aprendizagem, fazendo perguntas e me comunicando agressivamente na internet. Aprendi que demora algum tempo para resolver esses desafios. Aprendi que todas as dificuldades de aprendizagem começam com o processamento auditivo - a criança pode ouvir, mas tem dificuldade de processar o que escuta. Isso pode afetar sua habilidade de se concentrar e de prestar atenção. Matriculei Brandon em programas de aprendizagem, muitos dos quais ajudaram. Entretanto, a música foi a chave que abriu a porta da sua capacidade de aprender.

Ritmo de Mudança

A música reforça as áreas cerebrais que, na criança com TDAH, são fracas. A música constrói e reforça o córtex auditivo, visuo-espacial e motor do cérebro. Essas áreas são ligadas à fala e linguagem, leitura, compreensão da leitura, matemática, resolução de problemas, organização cerebral, focalização, concentração e problemas de atenção. Os estudos indicam que quando crianças com dificuldade de aprendizagem e crianças com TDAH aprendem um instrumento musical, a atenção, concentração, controle do impulso, funcionamento social, autoestima, autoexpressão, motivação e a memória melhoram. Alguns estudos mostram que crianças com dificuldade de focalizar quando há barulho no ambiente são particularmente beneficiadas por lições de música.

Começando desde o nascimento, Brandon ouviu música clássica, e aos três anos de idade estava recebendo lições de música em grupo. Aos cinco anos, eu estava lhe ensinando piano, por meio de teclas coloridas no teclado. Aos oito anos, ele estava frequentando aulas particulares.

Para dar apoio a Brandon na escola, criei jogos musicais. Por exemplo, fiz um jingle musical para ensiná-lo a soletrar. Batiamos palmas ritmadas enquanto aprendia as regras de somar, subtrair e multiplicar. Criei canções, jingles e versos rimados para as matérias que ele estava aprendendo em estudos sociais, ciência e artes de linguagem. Associados às lições musicais, os conceitos se tornaram mais fáceis para ele entender e guardar. Sua habilidade de se concentrar e focalizar por longos períodos aumentou a cada ano. Depois de uma longa e difícil subida, Brandon foi aceito para quatro anos de universidade, e graduou-se ao final com notas A em filme e filosofia.

Aqui estão as sólidas estratégias que usei com Brandon. Não tenho nenhuma dúvida que elas também funcionarão com seu filho.

> Comece as lições de música em grupo. Quando ele tiver 18 meses de idade, descubra um programa de música em grupo para seu filho.

 > Entre no ritmo. Nossos sistemas biológicos funcionam com ritmos precisos (pense nos batimentos cardíacos). Se esses ritmos estiverem fora de sincronia, será difícil para qualquer um focalizar e permanecer na tarefa. Usar instrumentos musicais é um modo poderoso de sincronizar os biorritmos naturais do corpo, permitindo que a criança se sinta em sintonia com o meio ambiente. Assim, ponha música com uma forte batida - o CD "Baby Dance" é bom - e batuque, bata palmas ou ressoe o ritmo da música junto com seu filho.

> Dance com a música. Para uma criança com TDAH, o movimento é uma obrigação. De fato, o movimento é uma parte indispensável do aprendizado, do pensamento e da focalização. Conforme uma criança se move em diferentes cadências e ritmos, sua coordenação física e sua habilidade de se concentrar melhoram.

> Desenhe o que você escuta. muitas crianças com TDAH são criativas e estão à procura de saídas criativas. Desenhar ou rabiscar emprega as habilidades motoras, organiza o cérebro e estimula os humores artísticos. Depois de um dia ocupado na escola, e antes que ele se debruce sobre os deveres de casa, dê-lhe papel e crayons, ponha alguma música clássica para tocar e deixe que ele desenhe.

Eu costumava jogar com Brandon um jogo chamado "Draw What You Hear" ("Desenhe o que você escuta"). punha uma música clássica e Brandon desenhava ou rabiscava a música. Depois, quando ele já estava no colegial, esses exercícios o ajudaram a bloquear os ruídos externos e a relaxar sua mente.

> Leia livros de música. Sou forte advogada de ler diariamente para seus filhos. A leitura constrói o foco, a concentração, o vocabulário, a fala, a linguagem e as habilidades de escrita. leio muitos livros para meus filhos, alguns dos quais ligados à musica: "Swine Lake" (Lago dos Porcos), de James Marshall (um grande livro para seus filhos aprenderem sobre o balé Swan Lake (Lago dos Cisnes), e "Lentil" (Lentilha), de Robert McCloskey.

> Inicie as lições de música entre os cinco e seis anos de idade. Se você é um pai com TDAH, tome as lições de música junto com seu filho.

> Descubra um instrumento bom para o TDAH. O baixo de cordas, as madeiras de sopro, e os instrumentos de percussão são boas escolhas porque a criança pode ficar de pé e se mexer enquanto toca. Deixe seu filho escolher seu próprio instrumento. Se ele decidir pela bateria, compre protetores de ouvido!

> Marche pela manhã. Crianças com TDAH geralmente têm muita dificuldade para iniciar tarefas nas horas ocupadas da manhã. Toda manhã, toque marchas (John Philip Sousa tem marchas excelentes) e marche de atividade para atividade - vestir-se, arrumar a cama, tomar o café da manhã, escovar os dentes - com os pés se mexendo e os braços balançando.

> Cante no caminho da escola. Os professores querem alunos prontos para aprender quando estiverem na sala de aula. Então, no seu caminho para a escola, cante no carro ou toque música clássica. Cantar exige atenção total. "The Alphabet Operetta" (A Opereta do Alfabeto), de Mindy Manley Little, é perfeita.

> Orquestre o trabalho de casa. Algumas músicas clássicas mudam o jeito com que o cérebro processa a informação por meio da mudança das suas frequências eletromagnéticas. Como resultado da audição, crianças e adultos se tornam aptos a melhor absorver, reter e recuperar a informação. Quando estiver fazendo as tarefas de casa, tente ouvir Water Music (Música Aquática), de George Frederic Handel, ou os Concertos de Brandenburgo, de Johann Sebastian Bach.

> Combine música com a natureza. Os estudos mostram que ouvir música enquanto caminha na natureza tem um efeito benéfico sobre o seu cérebro. A combinação reprograma o cérebro, aumentando o foco e o preparando para o aprendizado.

Como vai indo Brandon atualmente? 
Ele tem 31 anos de idade, está casado, trabalha na industria de filmes e escreve blogs sobre filosofia. A música ainda é uma parte importante de sua vida. Ele ouve música clássica enquanto dirige para o trabalho, diariamente, e, semanalmente, toca piano. Brandon tem as ferramentas e a compreensão para fazer o TDAH eu "amigo". Ele sempre será como um bloco redondo querendo se encaixar em um buraco quadrado, mas ele é um adulto feliz, bem sucedido, que aceita as diferenças nas pessoas.


Sharlene Habermeyer - ADDitude

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

10 grandes ideias erradas sobre o transtorno bipolar (bipolar disorder) (391)

Separe os fatos da ficção conferindo estes dez mitos comuns sobre o transtorno bipolar. Pelos editores de ADDitude.

A verdade sobre o Transtorno Bipolar

Existe uma grande quantidade de desinformação a respeito do transtorno bipolar; muitas delas são perigosas para os que vivem com a doença. Leia a seguir, para saber a verdade e educar-se sobre a doença.

1- "Se você é bipolar, toda alteração de humor é causada pela doença"

É fácil descrever um mau humor como só uma química cerebral bipolar. É uma armadilha em que se cai facilmente - e que pode até mesmo ajudar os pacientes e a família deles a lidar com a doença de tempos em tempos. Mas, na maior parte do tempo, as pessoas com o transtorno bipolar reagem aos eventos diários de modo igual ao de qualquer pessoa - nem tudo é mania ou depressão. Você tem direito aos seus sentimentos. Não acredite que cada repente ou momento de tristeza seja de apenas outro "episódio".

2- "Mania é um sentimento feliz"

Embora a mania possa incluir alguns sentimentos de euforia, isso nem chega perto de toda a história. A mania geralmente é caracterizada por aumento da irritabilidade, raiva irracional e incapacidade de dormir - o que pode exacerbar os sintomas e levar a riscos desnecessários. Durante essa fase, os pacientes relatam sentir que os pensamentos e as ações estão fora de controle, de modo que, mesmo que a mania comece feliz, ela pode se transforma no pior.

3- "A medicação é o único tratamento para o transtorno bipolar"

Embora a medicação seja um tratamento eficaz para o transtorno bipolar, está longe de ser o único. A psicoterapia e a terapia cognitiva comportamental são ótimas para ensinar sobre os gatilhos e ajudar a obter mais controle emocional. Dieta alimentar, exercícios e sono adequado podem também ajudar a manter contidos os sintomas negativos.

4- "Pessoas bipolares mudam da depressão profunda para a mania apavorante diariamente"

Somente uma pequena porcentagem de pessoas com transtorno bipolar sofrem de "ciclagem rápida" - uma mudança diária, ou de hora em hora, entre depressão e mania. Na vasta maioria dos casos, essa mudança demora muito mais tempo - às vezes com semanas "normais" no intervalo. Além disso, nem todo episódio de mania ou de depressão é grave; muitas pessoas, que são diagnosticadas com Bipolar II, sentem uma forma mais suave de mania, chamada hipomania, que pode passar virtualmente despercebida.

5- "Quando um episódio maníaco ou depressivo acabar, o tratamento pode ser interrompido"

Essa não é uma boa ideia. O transtorno bipolar é uma doença para a vida toda - você não vai se livrar dele depois de um episódio particularmente ruim. A meta do tratamento bipolar é estabilizar o paciente ao longo do tempo. Assim, os médicos recomendam continuar o tratamento (medicação e/ou terapia) mesmo que você esteja se sentindo bem.

6- "Há um teste fácil para o transtorno bipolar"

Infelizmente, ainda não. Um teste laboratorial para transtorno bipolar fez algum barulho alguns anos atrás. Mas foi comprovado que não é conclusivo. Ele testa apenas alguns genes que se pensam estarem ligados ao transtorno. Na melhor das hipóteses, ele pode lhe mostrar se você tem uma predisposição genética para a doença - não se você tem a doença propriamente. A imagens cerebrais também mostraram alguma promessa na identificação de padrões cerebrais irregulares em pacientes bipolares, mas os seus resultados estão ainda longe de serem definitivos.

7- "O transtorno bipolar é só uma incapacidade de controlar suas emoções"

O transtorno bipolar não tem nada a ver com controle. Dizer a alguém com o problema para que "se acalme" ou que "se esforce" é contraproducente porque o transtorno bipolar é uma doença mental verdadeira, que não pode ser dominada ou superada sem força de vontade ou ajuda. As mudanças de humor não são uma escolha, e adotar essa visão "livre-se disso" somente causará danos a longo prazo.

8- "O transtorno bipolar não pode ser diagnosticado até a idade adulta"

Até recentemente, o transtorno bipolar era considerado uma doença do adulto, que se iniciava por volta da idade de 18 anos. Entretanto, agora, a comunidade médica reconhece uma condição denominada "Transtorno Bipolar de Início Precoce", que pode atingir crianças a partir de 6 anos de idade. Os sintomas são um pouco diferentes, mas o padrão geral da mania e da depressão é o mesmo.

9- "O abuso de drogas causa transtorno bipolar"

o abuso de drogas não pode causar transtorno bipolar, do mesmo modo que o açúcar não pode causar TDAH. O uso de drogas pode exacerbar os sintomas e tornar mais difícil para o médico o diagnóstico correto, porém as drogas não podem fazer alguém repentinamente se tornar bipolar. Se em sua família há casos de transtorno bipolar, é melhor se manter livre de drogas e de álcool - eles podem lhe afetar mais fortemente do que às outras pessoas.

10- "Depois de diagnosticado como bipolar, diga adeus à sua felicidade"

Não deixe que ninguém o leve a adotar essa visão devastadora. O transtorno bipolar é altamente tratável, e os pacientes que o tenham sob controle podem levar uma vida feliz e produtiva.


ADDitude

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Em crianças com TDAH, o tratamento melhora o resultado acadêmico? (390)



Os problemas acadêmicos são extremamente comuns em crianças com TDAH e geralmente são o motivo que as leva a uma avaliação para TDAH. Infelizmente, as significativas dificuldades acadêmicas que muitas crianças com TDAH experimentam podem comprometer seu sucesso a longo prazo nas áreas que vão muito além da educação formal.

Dados esses fatos, uma importante questão é se o desempenho acadêmico de longo prazo em jovens com TDAH melhora com o tratamento. Por ser esta uma questão de importância fundamental, e o TDAH é a condição mental mais bem estudada nas crianças, alguém pode pensar que a resposta está claramente definida. Por uma variedade de razões, talvez a mais importantes das quais seja a dificuldade inerente de conduzir estudos de tratamento de longo prazo, isso não é o caso.

Os estudos iniciais analisaram o desempenho acadêmico por duas formas diferentes - a conquista acadêmica e o desempenho acadêmico. A conquista acadêmica se refere à informação e habilidades que as crianças adquirem e, tipicamente, é medida por testes acadêmicos padronizados de conquistas. O desempenho acadêmico focaliza nas medidas diretas de sucesso na escola, tais como as notas, repetição de ano, formatura no ensino médio e matrícula na universidade. Assim, as medidas de conquista acadêmica focalizam o que as crianças demonstram terem aprendido com uma simples prova. As medidas de desempenho focalizam, em contraste, como as crianças realmente se saíram na escola durante um período extenso. Ambos os tipos de resultados estão comprometidos em crianças com TDAH.

O impacto do tratamento do TDAH nas conquistas e no desempenho permanece controverso. Alguns estudos verificaram que enquanto o tratamento do TDAH claramente melhorava o comportamento em classe, o impacto sobre o funcionamento acadêmico era menos evidente. Em outros estudos, há evidência de que o tratamento melhora alguns aspectos do desempenho acadêmico mas não melhora as conquistas. Outras pesquisas questionaram se o tratamento medicamentoso ou comportamental tem efeitos positivos de longa duração em qualquer dos dois tipos de resultado acadêmico.

Um estudo publicado recentemente online no Journal of Attention Disorders [Arnold et al. (2015). Long-term outcomes of ADHD: Academic achievement and performance. Journal of Attention Disorders, representa um esforço valioso de organizar estudos relevantes sobre esse problema, para que possam ser tiradas conclusões mais abrangentes sobre como o tratamento do TDAH influencia os resultados acadêmicos de longo prazo.
Os autores começaram por conduzir uma sistemática pesquisa na literatura, para identificar todos os estudos potencialmente relevantes. Especificamente, eles viram todos os estudos publicados em jornais com revisão por pares entre 1980 e 2012, os quais examinavam os resultados acadêmicos associados ao tratamento em período de ao menos dois anos. Alguns desses estudos comparavam os resultados acadêmicos em crianças tratadas e não tratadas, outros, não tinham nenhum grupo de comparação mas avaliaram as medidas de conquistas e/ou de desempenho antes e depois do tratamento, enquanto outros, ainda, compararam os resultados entre jovens tratados e jovens sem TDAH.

Ao final, os autores identificaram 14 estudos que verificaram os resultados das conquistas acadêmicas e 12 em que as medidas dos resultados de desempenho foram comparadas - houve alguma sobreposição nesses estudos. Para criar uma medida de resultados comum em meio aos múltiplos estudos, que utilizaram vários métodos, os estudos foram agrupados nos que tinham mostrado algum benefício e nos que não tinham mostrado. Então, eles simplesmente contaram o número de estudos nos quais havia evidência do encontro de benefícios do tratamento.

Para  os estudos que compararam jovens tratados com jovens não tratados, ou o funcionamento acadêmico antes e depois do tratamento, o benefício foi definido como um ganho estatisticamente significativo associado ao tratamento. Nos que os jovens tratados foram comparados com jovens sem TDAH, o benefício foi assumido quando os resultados acadêmicos para jovens com TDAH não eram significativamente piores do que os dos controles não-TDAH.

Resultados

O tratamento promoveu melhora nas notas das provas de conquista em 7 de 9 estudos (78%), quando a comparação era com a linha de base pré-tratamento, e em 4 de 5 estudos (80%) quando jovens tratados e não tratados eram comparados.

Para os resultados de desempenho acadêmico, a melhora foi encontrada em 1 de 2 estudos que usaram comparações de pré versus pós-tratamento, e em 4 de 10 estudos que compararam jovens tratados e não tratados.

Portanto, no geral, houve maior evidência de benefícios do tratamento nos resultados de conquistas do que nos resultados de desempenho.

Os autores também examinaram como os resultados do tratamento variaram para tratamento médico, não-médico, e tratamentos que combinaram ambas as  abordagens combinadas, isto é, tratamento multimodal. Embora o número de estudos  em que essas comparações foram baseadas fosse pequeno, a evidência disponível confirmou o valor do tratamento multimodal. Tal tratamento trouxe benefícios em 100% dos estudos que examinaram os resultados de conquista e em 67% dos que examinaram os resultados de desempenho acadêmico. Para o tratamento somente com medicação as porcentagens foram de 75% e de 33% respectivamente; para os tratamentos não médicos os números foram 75% e 50%.

Por fim, houve 5 estudos nos quais os resultados de conquistas e de desempenho acadêmico foram comparados entre crianças tratadas para TDAH e jovens sem TDAH. Mesmo com tratamento, os resultados foram significativamente piores para os jovens com TDAH em 4 de 5 estudos que examinaram os resultados de conquistas e em 3 de 5 que examinaram os resultados de desempenho acadêmico.

Resumo e implicações

O resultado geral desse resumo de pesquisa, que examinou como o tratamento influencia os resultados acadêmicos de longo prazo, em jovens com TDAH, é positivo. muitos estudos verificaram melhoras com o tratamento para o TDAH tanto para os resultados de conquista como para desempenho acadêmico, com evidências sugerindo que o tratamento tinha impactos mais consistentemente positivos nas conquistas do que no desempenho acadêmico.

Uma descoberta interessante - embora baseada em número limitado de estudos - foi a indicação de que resultados acadêmicos melhores eram mais prováveis quando abordagens médicas e não médicas eram combinadas. Isso é consistente com a visão geralmente tida de que a maioria dos jovens com TDAH deveria receber tratamento multimodal em oposição às abordagens isoladas médicas e não médicas. Entretanto, como foi dito em um artigo recente - veja em www.helpforadd.com/2014/december.htm - um estudo que examinou as práticas de tratamento com um grande número de pediatras verificou que, enquanto o tratamento médico foi recomendado em 90% dos jovens diagnosticados com TDAH, o tratamento comportamental foi recomendado em menos de 15% das vezes. Assim, muitas crianças podem não estar recebendo o tratamento multimodal no sistema de saúde da comunidade.

Embora a mensagem geral desse estudo seja basicamente positiva, os resultados dos estudos que comparam jovens tratados para o TDAH e controles não TDAH indicam que o tratamento geralmente não "normaliza" os resultados acadêmicos nos jovens com TDAH. Assim, enquanto os jovens tratados possam geralmente se dar bem melhor do que se dariam sem o tratamento, o tratamento geralmente não os traz para o nível dos seus colegas.

É importante avaliar esses achados no contexto da base limitada de dados sobre os quais eles foram obtidos. Em primeiro lugar, apesar da procura sistemática de pesquisas relevantes ao longo de um período de 32 anos, os autores identificaram somente 5 estudos que comparavam especificamente os resultados acadêmicos de longo prazo em jovens tratados versus não tratados. E, esses estudos não eram necessariamente experimentos randomicamente controlados, o que torna impossível concluir que os resultados positivos associados ao tratamento possam ser atribuídos especificamente ao tratamento em si mesmo. Essa será uma limitação continuada na base de pesquisa porque, conduzir experimentos randomizados de longo prazo nos quais o tratamento é negado a um grupo de jovens com TDAH, por um período longo, não é algo que possa ser feito eticamente.

É também o caso em que a análise dos autores somente indica que jovens tratados geralmente têm melhores resultados acadêmicos de longo prazo. Entretanto, a magnitude dos benefícios do tratamento não foi discutida. Há uma importante diferença entre significância estatística e significância clínica, e não se sabe se o tratamento teve a tendência de produzir ganhos que os pais e educadores teriam considerado serem significativos do ponto de vista educacional. Para mim não está claro por que os autores não incorporaram tais análises em seus artigos e por que esse problema não foi resolvido em suas discussões.

Então, enquanto esse estudo traz uma bela contribuição para resumir a relevante literatura, de um modo que permite ao menos conclusões genéricas sobre o impacto do tratamento do TDAH nos resultados acadêmicos de longo prazo, ele também evidencia que um número significante de questões sobre esse assunto permanece. Os autores concluem que, apesar do número de estudos que foram realizados, ainda restam dados para guiar "... (a) os educadores a como orientar melhor cada criança, (b) o gerenciamento de acordo com o nível do sistema escolar, e (c) a formação de uma conduta em nível nacional. A tudo isso, eu acrescentaria que as decisões baseadas nos dados sobre o curso da ação que mais propicia uma melhora nos resultados acadêmicos de longo prazo para cada criança são difíceis de derem tomadas, com base nos dados de pesquisa disponíveis.

Nos próximos anos, espera-se que a pesquisa necessária para melhor resolver esses importantes assuntos se torne mais disponível.

Dr. David Rabiner, Ph.D. Duke University, Durham, NC 27708 - USA





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