terça-feira, 30 de julho de 2013

290- PELA PRECISÃO DO DIAGNÓSTICO

Professor Dr. Luis Augusto Rhode em entrevista nas páginas amarelas de VEJA.  - Por Adriana Dias Lopes

O brasileiro que ajudou a fazer o novo manual americano de psiquiatria diz que apenas uma em cada quatro pessoas com transtornos é diagnosticada e tratada adequadamente.

Em 2007, o psiquiatra gaúcho Luis Augusto Rohde, de 48 anos, recebeu um convite até então inédito para um médico brasileiro. Diretor do Programa de Déficit de Atenção e Hiperatividade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ele foi convidado pela reputada Associação Americana de Psiquiatria a contribuir para a atualização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM, o mais respeitado documento científico da psiquiatria mundial, em sua quinta versão. Na fase final de edição da cartilha, Rohde fazia parte de um grupo internacional de 160 especialistas. Eles se reuniam -algumas vezes por teleconferência, outras pessoalmente - de quinze em quinze dias para discutir os progressos na detecção de doenças da mente nos últimos vinte anos. O DSM-5 foi lançado em maio, pleno de controvérsias. Nesta entrevista a VEJA, Rohde discute as novidades do trabalho - e indica que mudanças ele representará para a medicina.

O que há de realmente novo e significativo no recente manual americano de diagnóstico?

Ele estabelece uma nova maneira de o médico diagnosticar a doença mental. Hoje, a maioria dos psiquiatras tende a se centrar na hipótese principal de diagnóstico - ou seja, a mais grave ou a queixa que motivou o paciente a procurar um profissional. O novo manual, o DSM-5, no entanto, determinou que um transtorno psiquiátrico não precisa ter um único e solitário foco de atenção. O resultado não pode ser exageradamente categórico. As informações na psiquiatria são extremamente subjetivas, diferentemente do que ocorre em outras áreas da medicina. Para completar o quadro de complexidade, são raríssimas as vezes em que um transtorno se manifesta de forma isolada. Cerca de metade dos doentes psiquiátricos é portadora de pelo menos dois transtornos. Nos casos mais graves, isso ocorre 80% das vezes. Tal mecanismo faz parte intrínseca da formação cerebral. As doenças mentais precisam ser avaliadas na forma mais ampla possível. O médico deve abordar absolutamente todas as possibilidades. Há treze grandes áreas a ser verificadas. Entre elas, o nível de atenção, a ansiedade, o humor, as psicoses, a cognição e a interação social.

Um paciente com transtorno do humor bipolar e com transtorno de ansiedade, por exemplo, deve passar pela mesma abordagem médica?

Muitos pacientes são tratados a vida toda como portadores de bipolaridade, quando, na verdade, sofrem também de transtorno de ansiedade. Mas, sem tratar a ansiedade, eles dificilmente conseguirão manter uma rotina dentro dos padrões de normalidade. Uma abordagem mais ampla, investigativa, reduz a possibilidade de erro no diagnóstico. Talvez as empresas responsáveis por reembolsos médicos não gostem muito dessa postura, por implicar consultas longas. Mas assim deve ser.

A nova abordagem poderá levar a uma explosão do registro de doenças mentais?

Sim. Haverá um aumento no reconhecimento das doenças dentro dos consultórios, já que a nova forma de diagnóstico ajudará o médico a fazer uma detecção mais fidedigna dos problemas que não eram tratados ou eram tratados incorretamente. Mas um ponto tem de ficar muito claro: cada alteração desse manual é resultado de uma minuciosa e intensa análise do que está sendo proposto na literatura de primeira linha. O objetivo nunca foi e nunca será aumentar ou reduzir o espectro de doenças diagnosticáveis. O psiquiatra americano Allen Frances, professor emérito da Universidade Duke e editor-chefe da versão anterior do manual, afirmou que o DSM-5 estimula a frouxidão nos limites entre transtorno mental e normalidade. Consequentemente, haveria um aumento no número de pessoas submetidas a tratamentos psiquiátricos sem necessidade.

E não é o que pode acontecer?

Em minha opinião, Frances tinha uma expectativa de continuar no comando do DSM-5. Mas suas críticas acabaram de certa forma exercendo um papel decisivo. Elas nos estimularam a ser absolutamente transparentes. Nunca na história da elaboração de um manual de psiquiatria houve tal comportamento. Todas as decisões passaram por avaliação da classe médica do mundo todo. Os novos critérios foram submetidos três vezes ao site da Associação Americana de Psiquiatria e receberam milhares de sugestões. Mas a crítica em si de Frances é completamente infundada. O risco de afrouxamento sempre existiu, desde as primeiras tentativas de catalogar as doenças psiquiátricas, na década de 50, com o DSM-1. É o que acontecerá até termos marcadores biológicos na psiquiatria.

Eles já foram identificados?

A grande meta inicial do DSM-5 era mudar o paradigma da psiquiatria justamente com a adoção de marcadores biológicos que facilitassem o diagnóstico. Mas, infelizmente, isso ainda não é possível. O que conseguimos fazer foi agrupar algumas doenças conforme um marcador. Mas não indicá-lo como triagem. A esquizofrenia, por exemplo. Sabe-se que os pacientes tendem a ter níveis de dopamina alterados. Mas, entre os doentes, há também aqueles que possuem quantidades normais do neurotransmissor. Assim como há pessoas com taxas elevadas que não sofrem de esquizofrenia. Temos de refinar os marcadores. Acredito que, em dez anos, já teremos marcadores eficazes para algumas doenças psiquiátricas. Mas isso será assunto para o próximo DSM.

Uma das mudanças mais polêmicas do DSM-5 refere-se a uma contribuição do seu grupo de pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sobre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). O manual eleva de 7 para 12 anos a idade em que essa doença continue sendo oficialmente diagnosticada. Qual o motivo dessa mudança?

Em países como os Estados Unidos, em que o sistema de saúde segue rigorosamente as orientações do DSM, essa ampliação foi fundamental. Lá, até então, se o início dos sintomas ocorresse em pessoas com mais de 7 anos, os médicos não dariam a devida atenção ao caso ou o tratamento não teria reembolso dos planos de saúde. Dados de grupos internacionais e de nosso grupo, na universidade Federal do Rio Grande do Sul, no entanto, conseguiram provar que 96% dos casos de déficit de atenção são diagnosticados até os 12 anos. Agora, nesse caso, eu pergunto: é melhor passar a infância sendo chamada de criança incompetente, malcriada, preguiçosa, que são julgamentos morais, ou ser vista como portadora de déficit de atenção? Afirmo que para os primeiros predicados não há tratamento. Para o último, sim.

Em fevereiro deste anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou um levantamento mostrando o aumento, entre crianças, de 75% na prescrição de cloridrato de metilfenidato, o princípio ativo do principal medicamento contra o TDAH. O que esse aumento significa?

Quando o estudo da Anvisa foi publicado, acusaram os psiquiatras de exagero na medicação dos portadores de TDAH. Lembro bem que a situação em Porto Alegre, onde trabalho, foi apontada como dramática, por se tratar da cidade com o maior índice de prescrição da medicação. Ora, temos em Porto Alegre o maior centro de pesquisa em déficit de atenção da América do Sul. Em João Pessoa, em termos de comparação, não há mais que cinco psiquiatras especializados em crianças e adolescentes. Em que lugar o consumo de medicamentos para a doença  seria maior? Em Porto Alegre, claro. Mesmo se seguirmos as estatísticas mais conservadoras, teremos uma subnotificação de TDAH, e, claro, um número enorme de pessoas que deveriam tomar remédios. Apenas um quarto dos doentes com transtorno de comportamento está devidamente diagnosticado e tratado no Brasil. [Veja neste blog a postagem 276- O TDAH é subtratado no Brasil]

Mas, quanto mais avançados são os conhecimentos psiquiátricos, não são maiores os riscos de medicalização do comportamento?

Esse risco existe, embora não no caso do TDAH. Somos capazes agora de identificar muitos sintomas dos transtornos em sua fase inicial, e isso pode tornar os limites entre doença e normalidade mais tênues. Erros de diagnóstico existem em qualquer área da medicina. Há muita infecção viral sendo tratada com antibiótico, por exemplo. No entanto, a medicalização do comportamento, quando feita sem critérios, é má medicina. Nesse sentido, uma das áreas mais delicadas e nebulosas é a que trata dos transtornos de sexualidade, quando as fronteiras entre normalidade e patologia sã ainda mais tênues, como no transtorno do exibicionismo. Exibir o corpo nu, dentro de casa, com as janelas abertas, por exemplo, sabendo que alguém (um adulto, apenas) está olhando, pode dar prazer e não ser uma doença. Para ser considerado distúrbio, o gesto deve nesse caso ser a forma predominante de prazer e também estar associado ao sofrimento, quando a pessoa sente culpa ou se escraviza àquele ato.

Quais foram as principais alterações na classificação das doenças do DSM-5?

Entre as que ganharam um status próprio, estão o ato de comer compulsivamente, o acúmulo exagerado de objetos desnecessários e o transtorno disfórico menstrual, uma versão severa da tensão pré-menstrual. Há também aquelas doenças que estiveram prestes a se tornar "independentes", digamos assim, como o transtorno da automutilação não suicida. Mas não encontramos evidências suficientes para alçá-lo a uma categoria de diagnóstico isolado. A automutilação pode pertencer ao transtorno fronteiriço da personalidade, mas também pode fazer parte da depressão. A nova classificação, a meu ver, mais inovadora, no entanto, é o transtorno da desregulação do humor e do comportamento. A doença deriva do transtorno bipolar. o transtorno bipolar se caracteriza pela oscilação do humor. Observamos que os pacientes que sofriam na infância de oscilações crônicas não desenvolviam bipolaridade na fase adulta - mas, sim, depressão ou ansiedade. Essas pessoas não são bipolares, portanto. É bem possível que elas não devam ser tratadas com medicamentos para o transtorno bipolar, como estabilizador do humor.

Ainda há resistência ao diagnóstico de doenças mentais?

Os transtornos psiquiátricos são subnotificados como um todo, sobretudo quando eles se manifestam na infância e na adolescência. Eu poderia dizer que se trata apenas da falta de psiquiatras especializados. Ainda existe um enorme preconceito da sociedade de maneira geral - o estigma de que doença psiquiátrica é sinal de loucura é muito presente ainda. Tal pensamento fez sentido somente por volta dos anos 70. Além disso, há uma forte influência de um grupo dentro da psicologia social para quem os transtornos mentais se configuram apenas como sofrimentos e conflitos emocionais. Ou seja, simplesmente se descartam os aspectos neurobiológicos das doenças mentais. Esses profissionais não representam a maioria na psicologia. Mas têm voz ativa porque ainda ocupam os cargos-chave das associações de classe.

Será possível um dia a prevenção das doenças psiquiátricas?

Não tenho dúvida sobre isso. Cerca de 60% dos transtornos psiquiátricos começam na infância. Ao sabermos disso, por que não focar a identificação precoce dos sintomas, quando a doença é mais fácil de ser evitada? Citamos um exemplo de prevenção no DSM-5, mas ainda em fase de estudo - não como proposta de diagnóstico, portanto. É o caso da esquizofrenia. Uma criança pode apresentar sintomas psicóticos muito breves e sutis, como, por exemplo, achar que os colegas mexeram em seu estojo. Isso se repete pelo menos uma vez por semana, durante três meses. Somando-se a isso, a criança passa a ter dificuldade para dormir . Dificilmente uma mãe considerará a possibilidade de delírio. Mas, pelo perfil dos sintomas, sabe-se que essa criança terá um risco até 40% maior de se tornar esquizofrênica em relação à criança que não apresentou os sintomas. Diagnosticada e tratada, o risco de desenvolver a doença cai pela metade.

Essas estatísticas dão a impressão de que todo mundo é meio louco. Afinal, normalidade existe?

Seis em cada dez pessoas não são portadoras de nenhuma doença psiquiátrica. ou seja, a maioria é clinicamente normal. E quando digo isso estou incluindo nos 40% restantes portadores de distúrbios simples como a dificuldade de dormir no escuro e tiques leves.

VEJA - 31 de julho, 2013

segunda-feira, 22 de julho de 2013

289- A Escolha de Profissionais Para Tratar do Seu Filho Com TDAH - parte 2

(continuação da postagem 287)

À procura de um especialista

Diante de um pediatra que se mantém lhe dizendo que não há nada com que se preocupar, provavelmente você deveria pedir um encaminhamento para um especialista em desenvolvimento e comportamento infantil, para que seu filho seja mais bem avaliado. Dependendo da sua situação financeira ou do seu seguro de saúde, você poderá preferir um especialista ou uma clínica local por conta própria e marcar uma consulta. Mas, se o seu seguro de saúde pedir um encaminhamento do pediatra, como muitos fazem, lembre-se de que você terá todo o direito de pedir esse encaminhamento.

Um local de confiança  a ser procurado é o hospital infantil mais próximo ou um grande centro universitário. Muitas áreas metropolitanas devem ter ao menos um deles, ou ambos. Haverá uma clínica de avaliação do desenvolvimento pediátrico em cada um deles. Se você estiver procurando uma recomendação para certo tipo de especialista, e o seu pediatra não pode ou não sabe de um que possa satisfazer você, tente a internet. Peça a um diretor da escola do seu filho ou a um vizinho com criança com dificuldades de aprendizado, ou a mais alguém em quem você confie e que tenha experiência nos assuntos de desenvolvimento.

Não demorará para você descobrir que há um amplo espectro de ajuda disponível. Há muitos tipos de especialista, com treinamento diferente, orientação diferente e diferentes ferramentas de avaliação, que poderão oferecer a você diversos tipos de informação.

Alguns podem ser mais orientados para o funcionamento prático diário, outros podem ser mais ligados ao reconhecimento de síndromes e à realização de diagnósticos. Você pode encontrar especialistas no ambiente escolar ou em um centro médico, trabalhando sozinhos ou como parte de uma organização maior.

Programas de intervenção precoce, serviços federais para crianças com necessidades no desenvolvimento durante os três primeiros anos de vida estão disponíveis em todos os estados [Nota do tradutor: Viva a América!]. Para crianças menores do que três anos, sua companhia de seguro pode insistir em uma intervenção precoce  antes de pagar por qualquer outro teste.

Outra opção é solicitar uma avaliação escolar, por pensar que ajudará a fornecer algumas respostas ou porque sua companhia de seguro a exige ou ainda porque a escola geralmente paga os gastos [N.T.: Mais uma vez, Viva a América!] As avaliações escolares são frequentemente razoáveis pontos de partida, mas há alguns problemas:

          + A fila de espera pode ser longa
          + A qualidade das avaliações varia imensamente
          + Não há nenhuma garantia de que um dos avaliadores tenha                                      experiência com as necessidades da criança diferente.

Temos escutado queixas de pais sobre as avaliações escolares que parecem apressadas, ou superficiais, ou focadas em classificar cada criança em uma ou poucas categorias. Por outro lado, também temos trabalhado com muitos profissionais de escola talentosos, que ajudaram enormemente a muitas famílias. A perspectiva baseada na escola pode dirigir a avaliação especificamente para os problemas de aprendizagem que são de importância vital para as crianças.

Embora você possa precisar ou querer começar com uma avaliação pela escola, e ela pode fornecer informação de valor, você deverá ir além em sua procura.

Resolvendo o quebra-cabeças

Conforme você progride nesse labirinto de especialistas, seu trabalho será obter e avaliar a informação oferecida e tomar decisões importantes sobre quando prosseguir e quando parar.

Entenda o conjunto de caracteres. Pergunte aos especialistas que encontrar sobre suas qualificações e seu campos particulares de conhecimento. É importante saber se você está lidando com um neurologista ou com um neuropsicólogo.

Mesmo que você não esteja completamente seguro de como integrar o conjunto de especialistas com a avaliação e conselhos que você receba, seu pediatra e os outros especialistas que você consultar poderão entender melhor as opiniões que você já coletou se você puder apresentá-las a quem estiver fazendo a avaliação.

Fale! Faça perguntas! Tome notas! Alguns pais não conseguem ou não podem ter suas perguntas respondidas em detalhe pelos profissionais que estão avaliando a criança. às vezes isso acontece porque há testes que ainda precisam ser pontuados ou conversas que precisam ser feitas entre os membros da equipe de avaliação. Ao final, você poderá ir embora sabendo quando e como terá os resultados da avaliação.

Apoio para o tratamento

Alguém que já passou um tempo com seu filho deveria ser capaz de lhe dar algumas indicações e observações. É muito razoável deixar os avaliadores saberem que você gostaria de ter uns minutos ao final das sessões para saber o que eles estão pensando. Sempre tome notas. Você poderá estar mais tenso do que pensa, e poderá ser difícil lembrar-se exatamente do que você ouviu ou não ouviu.

Peça para que os termos não familiares sejam soletrados e explicados e solicite fontes de informação que você possa consultar. Se você tiver feito uma avaliação multi-especializada, pense em marcar um novo encontro para discutir os resultados.

Tenha um notebook. Conforme o tempo passa, você pensará em perguntas que gostaria de fazer, observações sobre seu filho que parecem significantes, ideias para avaliação ou terapia posterior. Escreva tudo em um notebook. Nele você poderá anotar os especialistas que consultou, os testes que eles fizeram e as informações que eles forneceram.

Escreva os números dos telefones dos especialistas ou dos programas que você obteve de outros pais, assim como os dados para contato com alguém que pode não ser útil agora, mas que poderá ser em alguns anos. Um notebook o ajudará a seguir seu filho e o seu próprio entendimento. Ele também ajudará você a usar o tempo com os especialistas para fazer as perguntas que você estava querendo apresentar.

Confie em seu instinto. Siga nesse processo com a mente aberta mas com um saudável grau de ceticismo. Se alguém lhe diz algo que é absolutamente contra o que você pensa do seu filho, considere isso objetivamente. Se não fizer sentido, esqueça. Não deixe que alguém que não possa responder satisfatoriamente às perguntas suas prossiga por tempo longo em uma relação terapêutica com seu filho, não importa quão grandes ou gloriosos sejam seus títulos ou sua sala de espera. [N.T - Putz, minha sala é bem grande...]

Não espere um momento "eureka". Repetimos isso porque é muito importante: Crianças diferentes não se encaixam perfeitamente em categorias de diagnósticos. O processo corrente de ter seu filho avaliado e considerados os diferentes diagnósticos pode ser valioso se apontar o caminho para ajudar seu filho. Ainda, é provável que ele não vá fornecer uma conclusão luminosa quando você descobrir o que realmente está acontecendo.

Alguns especialistas e clínicas darão a quase todo mundo um diagnóstico. Se você procurar bastante e por muito tempo, acabará dando com alguém que pregará um diagnóstico no seu filho - talvez porque seja o mesmo rótulo que todos recebem naquela clínica em particular. Tenha cuidados especiais com rótulos que trazem recomendações imediatas para tratamentos caros. Não deixe ninguém abusar do seu desejo de ajudar seu filho. Vale a pena obter uma segunda opinião ou discutir a recomendação com seu próprio pediatra.

A maioria dos profissionais que você encontrar na sua procura por avaliação e diagnóstico será de pessoas honradas. Entretanto, deve ser dito, que há uma espécie de indústria de fabricação de diagnósticos e de tratamentos para crianças com variações do desenvolvimento. Isso nos traz de volta, à nossa preferência por centros médicos universitários.

Finalmente, não esqueça de que o principal para tudo isso - a avaliação, os testes, a consulta com vários especialistas - não é terminar com o rótulo correto, o nome correto, a resposta correta em algum exame médico estudantil cósmico. O principal é ajudar seu filho - e ajudar você a ajudar seu filho.

Adaptado de Quirky Kids (Ballantine), por Perri Klass, M.D., e Eileen Costello, M.D. Permissão de Random House. ADDitude (nov/dez.)


sexta-feira, 19 de julho de 2013

288- O Uso de Medicamentos Para o TDAH Leva ao Abuso de Drogas?


Não, mas a medicação para o déficit de atenção também não protege contra o uso de drogas, como os pesquisadores acreditavam.
Por Wayne Kalyn

Entre as muitas perguntas sobre medicação para o TDAH que os pais fazem - e se preocupam com isso - está a sobre o possível aumento do risco de abuso de drogas promovido por esses medicamentos. 

Até o mês passado, a resposta era absolutamente não. De fato, tomar medicação para o TDAH, segundo os estudos feitos, abaixava o risco de abuso de drogas em quase 50%.

Um novo estudo publicado no último mês pelos pesquisadores de Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) derruba a conclusão de que os medicamentos protegem contra o abuso de drogas. Os pesquisadores analisaram 15 estudos de longo prazo, e seguiram milhares de crianças dos 8 aos 20 anos, para descobrir que tomar medicação estimulante não aumenta nem diminui o risco de abuso de substâncias.

"Descobrimos que as crianças não eram nem mais nem menos predispostas a desenvolver transtorno de abuso de álcool ou de substâncias como resultado do tratamento com estimulantes", disse Steve S. Lee, Ph.D., principal autor do estudo, professor de psicologia na UCLA.

Então, como isso se encaixa na pesquisa que indica que os adolescentes e adultos jovens com TDAH são de duas a três vezes mais predispostos a desenvolver grave abuso de drogas e de álcool, comparados com os que não têm TDAH? O novo estudo concluiu que o abuso de substâncias está ligado ao transtorno e aos seus sintomas, não ao estimulante.

"Para os pais cuja maior preocupação sobre a Ritalina e os outros estimulantes seja o risco futuro de abuso de substância, esse estudo pode ser um alívio", diz Lee.


ADDitude

quarta-feira, 17 de julho de 2013

287- A Escolha de Profissionais Para Tratar do Seu Filho Com TDAH - parte 1


Trabalhar com médicos em quem você confia pode ajudar sua tarefa com segurança. A seguir, veja como encontrar a melhor equipe para tratar sua criança com TDAH. Por Perri Klass e Eileen Costello.

Antigamente, a maioria das crianças diferentes não obtinha um diagnóstico formal de categorias como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Elas eram chamadas de excêntricas  ou estranhas, vistas como frutos do acaso e mimadas como gênios infantis, ou recusadas como desajustadas.

Todos nos lembramos de tais crianças dos nossos próprios dias escolares, e, provavelmente, elas não recebiam nenhuma terapia especial, não tomavam nenhum remédio, não procuravam tratamento para TDAH e não portavam nenhuma terminologia psicológica em sua jornada através da infância.
Dê uma olhada nas mesmas classes e nos mesmos pátios escolares atuais e verá uma variedade de diagnósticos: TDA, TDAH, várias dificuldades de aprendizagem, disfunções da integração sensorial, transtorno de oposição e desafio.

A infância virou uma sopa de letrinhas. Uma criança que não se encaixe no modelo provavelmente receberá avaliação intensiva, levando a diagnósticos e novos diagnósticos e, na volta, um programa de terapias individualizadas, intervenções com base na família e, possivelmente, medicamentos. Isso é uma coisa boa. Já não mais tomamos como certo que algumas crianças que sofrem com problemas sejam deixadas sozinhas em sua luta.

Mas, para os pais dessas crianças, o mundo de hoje apresenta sua própria espécie de dificuldades. Em um mundo perfeito, você confiaria em uma equipe de especialistas eruditos e sensíveis, que veria seu filho sem preconceitos e que levaria o tempo necessário para conhecê-lo. Suas recomendações seriam realistas e práticas, e as consultas de avaliação e de acompanhamento seriam integralmente cobertas pelo seu plano de saúde.

Sinto muito, não temos o mapa desse tipo de mundo. Como você já deve ter percebido, com tantos diagnósticos para escolher, e uma estonteante lista de especialistas para consultar, os pais de crianças diferentes podem perder tempo, dinheiro e o sono, e ainda descobrirem que sabem pouco mais do que sabiam no começo, e, talvez, menos confiantes em seu instinto.

Bem, podemos não ter um mapa, mas nosso objetivo aqui é ajudar o mais que pudermos para que você obtenha, se não tudo, o que for necessário para juntar sua equipe de especialistas. Se você ainda estiver procurando um diagnóstico que faça sentido ou se já estiver em meio a um tratamento, os conselhos a seguir poderão ajudá-lo a fazer escolhas seguras sobre os profissionais do seu filho.

O Ponto de Partida

Tipicamente os pais começam pelo profissional de saúde do seu filho, geralmente um pediatra, o clínico da família ou uma enfermeira particular. Alguns pediatras têm treinamento adicional em desenvolvimento e em comportamento, e muitos outros têm um interesse especial na área. Mas todo pediatra gasta a maior parte do seu tempo examinando bebês e crianças pequenas e tem alguma ideia da faixa normal, e de suas variações que atingem os limites da faixa.

Se você falou de alguma preocupação sobre seu filho com o pediatra, e ele ouviu atentamente, interagiu com seu filho e o examinou, porém não ficou alarmado, fique tranquilo. Não é uma garantia, é claro, mas pode bem ser que o que você está vendo seja somente uma fase do desenvolvimento. Pode ser difícil julgar se uma criança de dois anos está além do normal quanto a comportamento de oposição e de birras, especialmente se ela for o seu primeiro filho.

Se você confia e gosta do seu médico, deve deixar como está por ao menos uns poucos meses. Não há provavelmente nenhum teste vital único que precise ser feito rapidamente para uma resposta essencial. Obviamente não estamos falando de uma criança que seja surda ou com o autismo clássico ou com convulsões. Sempre é importante que a criança com transtornos psiquiátricos ou clínicos seja diagnosticada e tratada tão rapidamente quanto possível.

Mas se você estiver realmente preocupado sobre o desenvolvimento do seu filho, fale com seu pediatra. Interrompa-o, olhe nos olhos dele e fale que você está preocupado, e diga exatamente porquê. Então, marque uma consulta para falar especificamente sobre sua preocupação. Não tente discutir isso durante uma consulta por causa de uma infecção de ouvido.
Suas preocupações devem alertar o pediatra para fazer algum tipo de avaliação sistemática do desenvolvimento, não só "dar uma olhada" no seu filho. Se você sentir que não está sendo ouvido, procure uma segunda opinião. Muitos pediatras serão receptivos para encaminhar você e seu filho para um especialista em comportamento e desenvolvimento, se você estiver verdadeiramente preocupado.


(a continuar  na postagem 289)

quarta-feira, 26 de junho de 2013

286- TDAH - Conquiste os professores para que trabalhem com o seu filho, não contra ele.


 
A maioria dos professores fará de tudo para ajudar seu filho. Os leitores de ADDitude nos deram sugestões para conquistar os professores do seu filho para o seu time. Pelos editores de ADDitude.

ADDitude perguntou:

“Como você conquista os professores para trabalharem a favor do seu filho e não contra ele?”

Ø Seja o mais amável que for possível e frequentemente se ofereça para trabalho voluntário na escola. Será difícil para a escola não ajudar seu filho se você for um pai que esteja sempre ajudando a escola. Tara, Washington.

Ø Temos dois adolescentes com TDAH no colegial, e trabalhamos melhor com os professores quando mantemos as linhas de comunicação abertas. Pedimos a assistência deles para lidar com as necessidades dos nossos filhos, e também informamos o que fazemos em casa para ajudar nossos filhos. Pedimos sugestões para nos ajudar a trabalhar juntos de maneira eficaz. Reconhecemos que as necessidades dos nossos filhos requerem um tempo extra e mais esforço deles, e sempre nos lembramos de agradecer. Um leitor de ADDitude.

Ø Eu e o professor trocamos informação, o que nos torna mais próximos. Usamos um cartão de comportamento que vai de casa para a escola e volta para casa, todos os dias. Envio ao professor dicas de ensino de sites da internet que eu acho úteis. Mary, New York.

Ø Penso que cooperar com o professor, sem esperar que ele faça o papel dos pais, seja a abordagem mais eficiente. Ajudar seu filho é um trabalho de equipe. Julia, Connecticut.

Ø Eu cumprimento os professores do meu filho o mais que posso. Isso mantém meu filho e eu no radar deles e lhes dá o tão necessário reconhecimento.

Ø Perguntei ao professor da minha filha o que funciona para ela na sala de aula e uso as mesmas estratégias em casa. Uma leitora de ADDitude.

Ø Reconheço as dificuldades que os professores enfrentam no controle de classes cada vez maiores e demonstro minha apreciação pelos esforços que eles fazem para entender e acomodar minha criança. Doug, California.

Ø Trabalhe para desenvolver um entendimento de seu filho com o professor. Meu filho, estudante do colegial, é inteligente e termina seus trabalhos antes do resto da classe. Seus professores deixam que ele ande pelos corredores para queimar sua energia. Se ele termina o almoço antes dos outros, os tutores deixam que ele vá para a quadra e jogue basquetebol ou que levante pesos. O exercício focaliza o cérebro dele. Amy, Virginia.

Ø Porque meu filho é brilhante e vai bem academicamente, alguns professores se esquecem de que ele estuda muito. Às vezes, uma revisão rápida dos aspectos básicos do TDAH ou do diagnóstico de Asperger ajuda os professores a se focalizarem novamente e serem mais positivos no trabalho em direção a uma solução. Um leitor de ADDitude.

Ø Chamo os professores pelos seus primeiros nomes. Isso quebra a barreira pais-professores e encoraja a discussão aberta e a colaboração. Também agradeço aos professores com obrigados tão frequentemente quanto possível. Karen, North Carolina.

Ø Falar com o professor sobre seu filho no começo do ano ou encontrar-se com o professor para explicar o que funciona para seu filho ajuda muito. Jim, California.

Ø Se o professor sente que estamos todos no mesmo time, ele será mais propenso a se esforçar mais com o meu filho. Em nossa pequena escola católica, temos professores acolhedores e dedicados que trabalham com ele diariamente. Eles sabem que ele está se esforçando. Krista, Connecticut.

Ø Passo e-mails para os professores com resposta positiva. Às vezes, valorizar aqueles professores que aceitam seu filho e encorajá-los dá mais resultado do que tentar mudar um professor que pode não entender o que seja o TDAH. Um leitor de ADDitude.

Ø Eu levo um lanche, geralmente doces ou biscoitos, para todas as reuniões com os professores. Eles gostam e isso faz a reunião ter um bom começo. Sarah, North Carolina.

Ø Levo artigos da ADDitude, que podem ajudar, para os professores. Isso mostra que estamos tendo um papel ativo na ajuda para nossa filha. R., Alberta.

Este artigo saiu no número de verão de ADDitude.

 

domingo, 23 de junho de 2013

285- Salvando Meus Filhos da Escola


 
As crianças deveriam descobrir, não ignorar, seus talentos em classe, diz esse pai – mas, o nosso modelo educacional permite isso? Por David Bernstein

Quando eu estava na quarta série, nos meados dos anos setentas, minha professora avisou a classe de que eu seria um artista. A verdade era que ela achava que eu não tinha nenhum talento acadêmico que pudesse elogiar. Eu era “um menino TDAH” que não conseguia obedecer as ordens, descobrir em que página do livro nós estávamos ou entregar minha tarefa no prazo certo. Com um conhecimento do cérebro muito limitado, minha professora simultaneamente superestimava meu talento artístico e subestimava meus dotes intelectuais.

A escola, especialmente a escola elementar, não era para meninos como eu. E, 25 anos mais tarde, mesmo as melhores escolas mudaram somente um pouco. Igual a muitos outros que se desviaram da norma, eu aprendi mais explorando minhas paixões do que através da escola estruturada. Com a ajuda de inúmeros mentores, aprendi a escrever artigos rebatendo editoriais, dirigir equipes, discursar e advogar. Cuidei das ideias, não principalmente por causa da escola, mas apesar dela. A região de Washington, viva com o discurso político, era o local perfeito para exercer minhas paixões, e eu me mudei para lá quando tinha vinte anos, para assumir um emprego em escritório de advocacia.
Nossas Escolas Funcionam Realmente?

Agora, tenho dois filhos, nenhum dos quais tem um estilo comum de aprendizado. Meu adolescente vai a uma escola que é considerada uma excelente escola particular da região, com professores maravilhosos e dedicados. Mas, como qualquer outra instituição educacional nos Estados Unidos, é baseada em modelo ultrapassado.

Comecei a questionar o modelo corrente de educação quando o diretor da escola do meu filho mostrou um videoclipe de cerimônia de graduação em que Ken Robinson, orador, autor e consultor internacional em educação em artes, discutia como a educação mata a criatividade. Robinson, autor de “The Element: How Finding Your Passion Changes Everything” (O Elemento: Como o Encontro de Sua Paixão Muda Tudo), afirma que estamos usando um modelo de educação, herdado da revolução industrial, no qual as escolas são organizadas como linhas de montagem. “Educamos as crianças em grupos, como se a coisa mais importante sobre elas fosse sua data de fabricação”, afirma ele em outro vídeo sobre o assunto.

Influenciado por Robinson, o autor de best-sellers Seth Godin publicou recentemente um manifesto, “Stop Stealing Dreams” (Pare de Roubar Sonhos), sobre a necessidade de uma reforma radical da educação. Ele aponta a necessidade de um modelo pós-industrial de educação que abranja os vários estilos de aprendizagem, a paixão pelas ideias, e o que os estudantes gostam. Em uma escola assim, os professores são “coaches” que ajudam os estudantes em uma jornada do autodescobrimento. Os estudantes têm muitas chances de determinar o que estudam e como estudam, em evidente contraste com o modelo “um tamanho para todos” dos dias atuais.
Seu filho está certo quando diz que nunca usará trigonometria (a não ser que seja um entusiasta disso). Expô-lo a variedade é uma coisa, mas, forçar o mesmo assunto por 13 anos é outra coisa. No mercado moderno, a profundidade é tão importante, se não mais, que a amplitude. As escolas são dedicadas à amplitude.

A Escola Revela a Grandeza dos Nossos Filhos?
Nas escolas atuais, os “bons” estudantes obedecem, diminuindo suas expectativas de grandeza, e os restantes terminam em batalhas excruciantes contra si mesmos, seus pais (acreditem em mim quanto a isso), seus professores e uma fila de tutores. Minha função como pai, sou avisado pela escola, é reforçar o absurdo que é o sistema corrente – para fazer meus filhos entregarem tudo pontualmente - o que faço religiosamente porque parece não haver outra maneira.

Meu filho mais novo, que está no segundo ano, espirituoso e inquieto como qualquer outra criança que você crie, “ficou para trás” em leitura. Como nos disseram, ele “não é suficientemente capaz para a leitura”. Seus professores e conselheiros, amáveis e bem intencionados, insistem que ele tome medicamentos para o TDAH, para que melhore sua leitura e se iguale aos colegas de classe. Ele é um menino criativo, brilhante e independente, que, conforme minha crença, sem dúvida irá aprender a ler bem e ser bem sucedido. Ele somente não está no tempo certo para fazer isso.
Somos forçados, para usar as palavras de Ken Robinson, a “anestesiar” nosso filho para que ele possa se adaptar a um esquema antiquado na classe. A Ritalina não fará nada para que ele seja um ser humano bem sucedido, um melhor pensador ou um membro da sociedade mais produtivo. Ele vai ajudá-lo a competir com a massa, e, potencialmente, drenar seu potencial criativo. Ao forçá-lo, e a muitas crianças, a tomar esses poderosos medicamentos, as escolas privam a economia futura e a sociedade do talento criativo de que elas mais precisam.

Greg Selkoe, o CEO de 36 anos da Karmaloop – uma empresa que fica em Boston e que é uma das maiores empresas de venda a varejo online de roupas do tipo streetwear, com faturamento de mais de 130 milhões de dólares ao ano, disse em recente entrevista na “Inc. magazine”: “Fui diagnosticado com TDAH na escola primária e expulso de várias escolas antes de chegar a uma escola para crianças com problemas de aprendizagem. O que fazia com que eu não me desse bem na escola tem sido muito útil nos negócios, porque eu posso prestar atenção intensamente em algo por um curto tempo e, então, mudar o foco para a próxima coisa”.
Ainda hoje as escolas insistem que usemos medicamentos para os nossos filhos para que eles se livrem do seu útil hiperfoco.

Falei com vários educadores que percebem os problemas do sistema educacional corrente. Eles sabem que a realidade econômica exige mudanças nas escolas. Mas eles também sabem que os pais reagirão a essas mudanças, temerosos de que elas possam diminuir as chances dos seus filhos de entrarem em uma boa faculdade.
Será necessária uma liderança com ampla visão para mudar o modelo e os objetivos do sistema educacional corrente. Enquanto isso, meus filhos continuarão brigando com a escola, machucados ao longo da jornada e, como seu pai, forçados a descobrir a maioria dos seus talentos e paixões por si mesmos, fora da escola.

David Bernstein é um executivo  não assalariado que mora em Gaithersburg, Maryland. Ele tem dois filhos, com sete e quinze anos.

Este artigo foi publicado no exemplar de verão de ADDitude.

terça-feira, 11 de junho de 2013

284- TDAH - 40 dicas legais para manter a casa em ordem, estar em dia com as obrigações e ser pontual.


 
Michael Laskoff – CEO de abilto.com e autor de “Landing on the Right Side of  Your Ass”.

1- Compre objetos claros e brilhantes. Em se tratando de objetos pessoais (chaves, carteiras, canetas, agendas, guarda-chuvas) eu evito os de cor preta. Objetos pretos são facilmente não vistos e perdidos. Tenho uma carteira vermelha e uma agenda alaranjada; meu celular tem uma capa de uma cor verde que não existe na natureza.

2- Saiba o que você esquecerá. Eu esqueço os nomes dos colegas de negócios ou a hora de uma reunião assim que me falam. Sabendo disso, marco um compromisso somente quando posso escrevê-lo em minha agenda. Também anoto informações vitais nos cartões de apresentação das pessoas quando elas os entregam para mim. Se possível, anexo uma fotografia da pessoa logo no início das anotações. O mais importante, eu sincronizo e faço back up de tudo.

3- Escolho as roupas na noite anterior. Não sou uma pessoa matinal, então, tomo as primeiras decisões do dia na noite anterior. Separo minhas roupas e os itens principais que vou precisar no dia seguinte. Assim, tenho mais chance de sair de casa e estar onde devo pontualmente.

4- Diminua o tamanho de sua mesa. Dê-me uma superfície lisa e eu empilho um monte de papéis nela. Não consigo evitar. E, como não consigo parar de empilhar, resolvi escolher mesas pequenas. Elas limitam meu potencial de criar o caos com a papelada.

5- Seja redundante. Eu uso vários alarmes – programo o celular, o relógio despertador, peço às pessoas para me chamarem – para me lembrar das coisas. Teoricamente, somente uma dessas providências bastaria. Na realidade, eu ignoro os toques de alarme isolados, mas quase sempre atendo quando eles são múltiplos.

Sandy Maynard – TDAH coach

6- Atraia a atenção do olhar. Eu colo logotipos de empresas em folhas de arquivos, em vez de escrever os nomes delas. O logotipo colorido do Citigroup, ou da Geico, é mais fácil de achar do que um arquivo com “banco” e “seguros” escritos com tinta preta ou vermelha.

7- Digitalize. Uso um smartfone para guardar todas as informações dos meus contatos (faço back up automaticamente em meu computador com o MobileMe). Anoto novos números de telefone ou mudanças de endereço imediatamente. Nada de pedaços de papel ou cartões de apresentação que inevitavelmente vão se juntar a outros pedaços de papel e, geralmente, serão jogados fora.

8- Dez, nove, oito, sete... Criei uma rampa de lançamentos para itens que estão entrando ou saindo de casa. Ponho minhas chaves, bolsa e carregador do telefone celular uma cesta junto à porta da frente. Itens que preciso devolver às lojas ou que preciso carregar comigo são colocados bem à vista, próximos à cesta.

9- Elimine a bagunça no nascedouro. Recolho e confiro minha correspondência diária sobre uma cesta de lixo, de modo que a correspondência irrelevante não vai parar na minha mesa.

10- Controle do guarda-roupa. Para cada peça de roupa nova que eu compro, eu me livro de uma mais antiga. Isso vale para as meias com furos... eu não as guardo para usar na limpeza do pó!

Bem Glenn – Fundador de simpleadhdexpert.com e blogueiro em ADDitudeMag.com

11- Seja habilidoso. Por causa do meu cérebro o tempo todo agitado, tenho dificuldade de organizar minhas prioridades. Tenho um “encorajador simpático”, uma pessoa especial em quem eu confio, que entende as dificuldades do TDAH, para me ajudar a separar meus desejos de minhas necessidades e focalizar no que é importante no momento.

12- Controle o tempo. Tarefas que eu penso levar uma hora, geralmente levam de três a quatro horas. O “Time Timer” me ajuda a controlar a passagem do tempo me mostrando o quanto dele já passou. Desde que passei a usar o “Time Timer”, minha filha não precisou mais passar a noite na creche porque papai se esqueceu de ir buscá-la.

13- Ponto de encontro. Geralmente perco meu telefone, chaves e carteira, e, depois de horas de procura, os encontro  em locais estranhos (o freezer). Para evitar esses desastres que desperdiçam tempo, criei meu “local essencial”, um lugar que treinei colocar todas as coisas que preciso ter à mão antes de sair de casa. Uso o topo da geladeira (sou bem alto), quando estou em casa, e o topo da TV quando estou em hotel (TV antiga, né?).

14- Escolha o menor. Depois de perder um molho de chaves de carro alugado nas profundezas de minha mochila, decidi adotar uma bolsa de mensageiro (bem menor). Ela tem divisões e bolsões como um mochila, mas com a metade do tamanho, limitando o que eu posso guardar dentro dela. Seu tamanho menor me força a perguntar “O que realmente preciso levar comigo?”

15- Adote a organização. O iPad organizou minha vida. Já não mais tenho de procurar meu laptop, dois iPods e um PSP. Tenho e-mail, blogs, jogos, filmes, música e agenda, todos em um só aparelho.

16- Escreva – e esqueça por um momento. Um pequeno caderno de notas espiral que cabe no bolso de minha jaqueta funciona como um disco rígido externo para o meu cérebro. Tenho um monte de ideias – algumas boas, outras ruins, e algumas ótimas – e elas geralmente surgem na minha mente quando estou no meio de alguma atividade. Mantenho o caderno de notas por perto e todas as vezes escrevo meus pensamentos, sem medo de perder o fio da meada.

Beth Main – coach de TDAH

17- Fácil acesso. Mantenho itens que são usados juntos, um perto do outro. Por exemplo, a tábua de cortar fica perto das facas. Isso diminui as idas e vindas para pegar as coisas de que preciso para um trabalho. Do mesmo modo, mantenho as coisas que uso regularmente (como o equipamento de ginástica) facilmente acessíveis.

18- Cuide da papelada. Quando chega algum papel em casa (do carteiro, da escola, do médico), imediatamente eu os separo em Ação Necessária, Pode Ser Cuidado Outro Dia, Referência/Arquivo Morto, ou Lixo. Os itens de Ação Necessária vão para uma bandeja e também entram na minha lista de coisas a fazer.

19- Elimine a pressão. Mantenho uma lista principal de coisas a fazer, com tudo que preciso fazer algum dia, no Microsoft Outlook. (A função “Tasks” permite que eu separe em categorias, estabeleça datas-limite e rearrume as coisas de acordo com a prioridade). A lista principal de coisas a fazer evita que eu me esqueça de coisas importantes e libera uma faixa do espectro mental, uma vez que eu não que guardar tantas coisas na minha cabeça.

20- Avise-me. Uso a agenda do Google (Google Calendar) para controlar compromissos e tarefas que tenham prazos determinados. Programo a agenda para enviar mensagem de texto para meu celular, para lembrar-me de um compromisso. Ajusto vários calendários para partes diferentes da minha vida: compromissos de treinamento, assuntos pessoais, pontos importantes de projetos. Cada um tem um código de cor, e posso exibir ou suprimir os calendários individualmente, dependendo do que preciso saber.

21- Resolvendo problemas. Mapas mentais (organizadores gráficos) criam alguma espécie de ordem em minha cabeça. Eles ajudam a tomar decisões, resolver problemas, ruminar as ideias, ou a ficar pronto para escrever um trabalho. Desenho círculos e escrevo algumas poucas palavras representando uma ideia em cada um deles, então ligo os círculos que sejam relacionados. Não sou um pensador linear, assim, essa técnica funciona muito bem para mim.

Ned Hallowell – Fundador do “Hallowell Center for Cognitive and Emotional Health” e autor de best-sellers

22- Crie um arquivo de compromissos. Escrevo os compromissos em cartões indexados – um por cartão – e os coloco num arquivo de cartões. Faço uma reunião semanal com minha mulher para coordenar as prioridades para a próxima semana, e para determinar quem deve fazer o quê. Esse sistema me ajuda a fazer somente as tarefas que eu e minha mulher consideramos as mais importantes, e permite um único local para procurar, quando tentamos nos lembrar do que fazer a seguir.

23- Programe o sexo. Desorganização, distração e vidas atarefadas, tudo isso, significa que não somos suficientemente organizados para uma das mais importantes atividades em nossos relacionamentos. Marque dias específicos para o sexo, então, ponha um lembrete (ou dois) em seu celular ou calendário, para não se esquecer. O que é menos romântico: programar o sexo ou nunca realizá-lo?!

24- Planeje as decisões difíceis. Sentimentos de opressão e de falta de organização mental aparecem no processo de tomar decisões importantes, então, crie um plano de decisões. Em uma grande folha de papel pautado, escrevo o problema no topo e crio três colunas: Razões para fazer, Razões para não fazer, Ideias criativas. Então, junto com minha mulher, preencho as três colunas. O plano organiza nossos pensamentos e aumenta as chances de encontrar uma boa solução, porque ele nos força a trabalhar em equipe.

25- Contrate um organizador profissional. Ao menos uma vez ao ano, eu contrato uma secretária temporária para fazer todo o planejamento. Dou uma noção básica e deixo que ela organize tudo.

26- Crie áreas de “captura”. Eu crio espaços de captura para guardar as coisas quando elas chegam. Exemplos: uma grande caixa de correio próxima à porta de entrada, junto com um porta-chaves; chapéu, luvas e caixa de botas no hall de entrada; caixa de equipamentos esportivos próxima da porta dos fundos.

Nancy A. Ratey – Master Certified Coach e autora de “The Disorganized Mind”

27- Preparo das refeições. Arrumo a mesa do café da manhã na noite anterior, preparo qualquer alimento antes da hora e guardo tudo em sacos plásticos. Tudo que tenho a fazer no dia seguinte é jogá-los na panela, na tigela ou no micro-ondas.

28- O truque das chaves. Eu prendo minhas chaves do carro (ou as coloco perto) nas coisas que vou levar quando sair – cartas, listas de mercado, roupas para a lavanderia – de modo que eu não me esqueça delas. Antes de sair para caminhar, ponho as chaves nos meus sapatos.

29- Entre no mundo digital. Duas palavras: banco online. Diminui a papelada para arquivar e elimina a necessidade de escrever tudo que retirei ou depositei em minha conta.

30- Encontrar documentos. Com tenho a tendência de me esquecer das coisas, mesmo das mais importantes, sempre falo com alguém onde escondi uma cópia de chave ou onde guardei um documento. Também faço fotocópias do conteúdo de minha valise, para o caso de perdê-la – e provavelmente perderei.

31- Não espalhe as coisas pequenas. Guardo papéis relacionados juntos, em vez de guardar cada um deles em ordem alfabética em um arquivo. O arquivo de equipamentos do escritório contém o manual do proprietário da minha impressora, do computador, do aparelho de fax, assim como as garantias, notas de consertos, avisos de upgrades de antivírus etc.

32- Torne as coisas portáteis. Mantenho somente os projetos ativos em minha mesa, seja em cestas de arame ou em arquivos expansíveis, de modo que eu possa carregá-los comigo, quando cansar de trabalhar na minha mesa.

Terry MatlenAutora de “Survival Tips for Women with AD/HD” e diretora de momswithadd.com

33- As coisas estão aqui. Uso cadernos espirais para guardar notas, planos, números de telefone, lembretes, em vez de pedaços de papel que vou perder. Ponho a data em cada página, para encontrar rapidamente a informação. Quando o caderno fica cheio, ponho data na capa e o guardo para referência futura.

34- O truque do tempo. Quando saio para compromissos, presto atenção no tempo que preciso para chegar pontualmente, não na hora do compromisso. Exemplo: digo a mim mesmo que tenho de sair às 13h45min para um compromisso às 14 horas, em vez de ficar focado nas 14 horas.

35- Saco plástico para a papelada. Mantenho um saco plástico na minha bolsa para dinheiro recebido e outro no porta-luvas para instruções.

36- O truque da memória. Quando a medicação do TDAH está acabando, viro os vidros de cabeça para baixo no armário, como um aviso de que preciso pedir logo as receitas.

Michele Novotni – coach em TDAH e terapeuta

37- Então, não há mistério. Rotulo as caixas na despensa ou na garagem, de modo que possa encontrá-los mais tarde. Colo um cartão com todos os itens da caixa anotados de um lado, e o atualizo conforme necessário. Também tento manter itens pequenos, por exemplo, coisas de cozinha, juntos na mesma área.

38- Lembrar-se de receitas. Uso um software chamado Master-Cook para guardar e organizar minhas receitas, de modo que possa encontrá-las rapidamente pelo título, categoria ou ingredientes. Com as receitas no computador, fica mais fácil enviá-las para amigos e familiares.

39- Duas listas do que fazer. Tenho uma lista  de ação para até três itens a serem feitos agora, e outra para coisas que quero ou preciso fazer. Quando termino os itens da primeira, puxo os itens da segunda. Isso mantém minhas prioridades sempre na frente.

40- O truque da faculdade. Contrato colegas de faculdade para preencher papéis e escanear documentos regularmente, para ajudar a manter os papéis organizados. Eles adoram essas horas fora da rotina e eu adoro não ter de fazê-las.
ADDitude

sábado, 25 de maio de 2013

283- TDAH e o Sistema Nervoso Motivado - Parte 2


 Por William Dodson M.D.

Não transforme os TDAH em Neurotípicos

As implicações desse novo entendimento são vastas. A primeira coisa a fazer é para os coaches (treinadores), médicos e profissionais pararem de tentar transformar as pessoas TDAH em pessoas normais (neurotípicas). A meta deve ser intervir o mais cedo possível, antes que os indivíduos TDAH sejam frustrados e desmoralizados pela disputa em um mundo neurotípicos, onde a cadeira é empunhada contra ele. Uma abordagem terapêutica que tem uma chance de funcionar, quando nada mais tenha funcionado, deve ter duas etapas:

Nivelar o campo de ação neurológico com medicação, de modo que o indivíduo TDAH tenha a capacidade de atenção, de controle do impulso e a habilidade de ficar calmo por dentro. Para muitas pessoas, isso requer duas medicações diferentes. Os estimulantes melhoram o desempenho no dia-a-dia, auxiliando na realização das tarefas. Eles não são eficazes para acalmar a agitação interior que muitos portadores de TDAH têm. Para esses sintomas, a maioria das pessoas se beneficiará pela adição de uma medicação alfa agonista (clonidina ou guanfacina) ao estimulante.

Entretanto, apenas a medicação não é o bastante. Uma pessoa pode tomar a medicação correta na dose certa, mas nada mudará se ela ainda abordar as tarefas com as estratégias neurotípicas.

A segunda etapa do controle dos sintomas do TDAH é fazer um indivíduo criar seu próprio manual do TDAH. Os manuais genéricos que já foram escritos desapontaram as pessoas com o transtorno. Igual a todo mundo, os que têm TDAH crescem e amadurecem ao longo do tempo. O que interessa e desafia alguém aos sete anos de idade não causará interesse e desafio aos vinte e sete anos.

Escreva Suas Próprias Regras

O manual TDAH do proprietário deve ser baseado nos sucessos correntes. Como você entra na zona normal? Sob quais circunstâncias você acerta e progride na sua vida atual? Em vez de focalizar no que você falha, você precisa identificar como você entra na zona normal e funciona em níveis notáveis.

Eu geralmente sugiro que meus pacientes portem um notepad ou um gravador por um mês para escreverem ou ditarem o que os faz entrar na zona normal.

Seria porque eles fiquem curiosos? Se for o caso, o que, especificamente na tarefa ou na situação os intriga? Seria porque se sintam competitivos? Se for o caso, o que no “oponente” ou na situação faz aparecer os humores competitivos?

No final do mês, muitas pessoas reuniram 50 ou 60 técnicas diferentes que sabem funcionar para elas. Quando chamadas a desempenhar e a se tornarem engajadas, agora entendem como seu sistema nervoso trabalha e quais técnicas são úteis.

Já observei que essas estratégias funcionam para muitos portadores de TDAH porque eles fizeram uma recapitulação e descobriram os gatilhos de que precisam para progredir. Essa abordagem não tenta mudar pessoas com um sistema nervoso TDAH em pessoas neurotípicas (como se isso fosse possível), mas proporciona ajuda duradoura porque se apoia em suas potencialidades.

ADDitude

quinta-feira, 23 de maio de 2013

282- TDAH e o Sistema Nervoso Motivado



A maior parte das pessoas é neurologicamente equipada para determinar o que é importante e para se motivar a fazê-lo, mesmo quando isso não for interessante para elas. Então, há o restante de nós, que temos TDA. Por William Dodson. M.D.

O TDAH é uma condição confusa, contraditória, inconsistente e frustrante. É opressiva para as pessoas que vivem com ela todos os dias. O critério de diagnóstico que foi usado nos últimos 40 anos deixa muitas pessoas se perguntando se elas têm o problema ou não. Os diagnosticadores têm uma lista longa de sintomas para procurar e descartar. O Manual de Estatística e Diagnóstico das Doenças Mentais (DSM) tem 18 critérios, e outras listas de sintomas citam quase 100 características.

Os médicos, eu incluído, têm tentado estabelecer um modo mais simples e claro para entender as deficiências do TDAH. Procuramos a linha branca e brilhante que define a condição, explica a fonte dos problemas e dá a direção para o que fazer sobre isso.

Meu trabalho na última década sugere que esquecemos algo importante sobre a natureza fundamental do TDAH. Voltei-me para os especialistas no problema – as centenas de pessoas e suas famílias com quem trabalhei e que foram diagnosticadas como portadoras – para confirmar minha hipótese. Minha meta era procurar a característica que todos os portadores de TDAH tivessem e que as pessoas neurotípicas [pessoas normais] não tivessem.

E a encontrei. É o sistema nervoso do TDAH, uma criação única e especial que regula a atenção e as emoções de formas diferentes das do sistema nervoso dos que não têm a condição.

A zona do TDAH

Quase todos os meus pacientes e suas famílias querem abandonar o termo Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade porque ele descreve a maneira oposta do que eles sentem a cada momento de suas vidas. É difícil chamar alguma coisa de transtorno quando ela implica muitas coisas positivas. O TDAH não é um sistema nervoso lesionado ou defeituoso. É um sistema nervoso que funciona bem usando seu próprio conjunto de regras. Apesar da associação do TDAH a dificuldades de aprendizagem, muitas pessoas com um sistema nervoso TDAH têm QI significativamente acima da média. Elas também usam esse QI mais alto de modo diferente das pessoas neurotípicas. Quando chegam ao ensino médio, muitas pessoas com o TDAH são capazes de superar problemas que paralisam os outros, e podem chegar a soluções que ninguém previu.

A grande maioria dos adultos com um sistema nervoso TDAH não é abertamente hiperativa. Eles são hiperativos internamente.

Os que são portadores não têm falta de atenção. Eles prestam atenção a tudo. Muitas pessoas com TDAH sem tratamento têm quatro ou cinco coisas em sua mente de uma só vez. A marca registrada do sistema nervoso TDAH não é o déficit de atenção, mas a atenção inconsistente.

Todos com TDAH sabem que podem ficar “normais” ao menos quatro a cinco vezes por dia. Quando eles estão “normais”, não têm nenhuma deficiência, e os déficits de função executiva que pudessem ter antes de ficarem “normais” desaparecem. Os TDAH sabem que eles são brilhantes e espertos, mas eles nunca têm certeza de que suas habilidades aparecerão quando precisarem delas. O fato de que os sintomas e as deficiências vão e vêm ao longo do dia é o traço definidor do TDAH. Ele torna a condição mistificadora e frustrante.

As pessoas com TDAH geralmente entram na “zona normal” quando estão interessadas ou curiosas no que estão fazendo. Eu chamo isso de um sistema nervoso baseado no interesse, ou sistema nervoso motivado. Amigos e familiares críticos  vêm isso como duvidoso ou oportunista. Quando os amigos dizem “Você consegue fazer as coisas de que gosta”, eles estão descrevendo a essência do sistema nervoso TDAH.

Pessoas com TDAH também entram na “zona normal” quando são desafiadas ou envolvidas por meio ambiente competitivo. Às vezes, uma nova atividade atrai sua atenção. A novidade tem vida curta, entretanto, e tudo fica velho num instante.

Muitas pessoas com um sistema nervoso TDAH podem se envolver em atividades e contar com suas habilidades quando a tarefa é urgente – o último dia de um compromisso, por exemplo. Por isso que a procrastinação é um problema quase universal nas pessoas com TDAH. Elas querem terminar a tarefa, mas não conseguem começar a não ser que a tarefa se torne interessante, desafiadora ou urgente.

Como o Resto do Mundo Funciona

As 90 por cento de pessoas sem TDAH no mundo são ditas “neurotípicas”. Não é que elas sejam “normais” ou melhores. Sua neurologia é aceita e aprovada pelo mundo. Para as pessoas com um sistema nervoso neurotípicos, estar interessada na tarefa, ou desafiada, ou achando a tarefa uma novidade ou urgente, ajuda, mas não é um pré-requisito para fazê-la.

As pessoas neurotípicas usam três diferentes fatores para decidir o que fazer, como começar e para não interromper até que termine:

1- o conceito de importância (elas pensam que devem dar conta)

2- o conceito de importância secundária – elas são motivadas pelo fato de que seus pais, professores, chefes, ou alguém que respeitam acham que a tarefa é importante para ser aceita e completada.

3- o conceito de recompensas por fazer uma tarefa e as consequências e punições por não fazê-la.

Uma pessoa com sistema nervoso TDAH nunca foi capaz de usar a ideia de importância ou de recompensas para iniciar e terminar uma tarefa. Elas sabem que é importante, elas gostam de recompensas, e elas não gostam de punições. Mas, para elas, as coisas que motivam o resto do mundo são simplesmente chateações.

A incapacidade de usar a importância e a recompensa para se motivar tem um impacto por toda a vida dos portadores de TDAH:

Como podem os diagnosticados com o transtorno escolher entre as múltiplas opções se eles não conseguem usar os conceitos de importância e de recompensa financeira para motivá-los?

Como podem tomar grandes decisões se os conceitos de importância e de recompensa não são úteis na tomada de decisão nem são uma motivação para fazer o que escolhem? Esse entendimento explica por que nenhuma das terapias cognitiva e comportamental usadas para controlar os sintomas do TDAH tem benefícios duradouros. Os pesquisadores veem o TDAH como decorrência de um defeito ou déficit localizado no sistema nervoso. Eu vejo o TDAH como originado de um sistema nervoso que funciona perfeitamente bem por seu próprio conjunto de regras. Infelizmente, ele não funciona com nenhuma das regras ou técnicas ensinadas e encorajadas no mundo neurotípicos. Por isso:

Os TDAH não se encaixam no modelo escolar padrão, que é construído em repetir do que alguém pensa que é importante e relevante.

Os TDAH não se sobressaem no emprego padrão que paga às pessoas para trabalhar no que alguém (principalmente o patrão) pensa que é importante.

Os TDAH são desorganizados porque quase todo sistema organizacional que existe é baseado em duas coisas: priorização e gerenciamento, em que os TDAH não se dão bem.

Os TDAH têm dificuldade de escolher entre alternativas, porque tudo tem a mesma falta de importância. Para eles, todas as alternativas parecem a mesma coisa.

Pessoas com sistema nervoso TDAH sabem que, se elas se envolvem em uma tarefa, elas podem fazê-la. Longe de serem gente lesionada, as pessoas com sistema nervoso TDAH são brilhantes e espertas. O principal problema é que receberam um manual do proprietário neurotípicos no nascimento. Ele funciona para todo mundo, não para elas.

Na próxima postagem, a segunda parte deste artigo do Dr. William Dodson.

  TDAH 10 coisas para fazer ANTES do início das aulas Um ano letivo bem-sucedido começa em julho (nos Estados Unidos) . Um malsucedi...