Dr.
Mauro de Almeida
A inclusão
só será completa no dia em que deixar de existir.
Essa frase resume o propósito deste
trabalho.
Quando, em 2.008, no ”Congresso
Aprender Criança” começamos a falar em inclusão, não tínhamos ideia do que isso
representaria para a nossa Comunidade depois de seis anos.
Apresentamos, naquela oportunidade, o
que chamamos de “Manifesto Vinícius”, uma abordagem de questionamento à forma
em que a inclusão é feita em nosso país, dando a todas as crianças e
adolescentes o direito de frequentar a escola normal, mas sem estratégias para
lidar com as diferenças. A base daquela apresentação mostrava um relatório de
aproveitamento expedido pela escola para um aluno com diagnóstico de TDAH
idêntico ao documento de outro aluno com baixo aproveitamento advindo de
problemas familiares e ambiente hostil.
Hoje, temos a certeza da necessidade
de trabalhar o tema da inclusão escolar de forma ampla, total e irrestrita,
mesmo que isso gere – e gerará – uma série de polêmicas entre acadêmicos,
legisladores, autoridades científicas e educacionais.
Não se tem notícia de nada parecido
como esta cartilha NO MUNDO INTEIRO. Então, pelo ineditismo, pela coragem e
pela revolução nos hábitos e costumes, somos, todos nós, desbravadores em pleno
Século XXI, de um dos temas mais antigos da Humanidade: as diferenças entre as
pessoas e o respeito à individualidade.
O tema do Aprender Criança 2.012 foi,
justamente, a inclusão escolar.
Tivemos a grande oportunidade de ver
e ouvir grandes especialistas que, além de palestras memoráveis, colaboraram
conosco na elaboração de proposições para aplicação nas escolas e salas de
aula.
A nosso pedido, essas proposições não
foram limitadas a essa ou àquela dificuldade econômica, arquitetônica,
profissional ou instrumental que uma localidade qualquer possa ter e –
evidentemente – todas têm. Por que? Para que pensemos em soluções amplas, em
consecução de ideais de preparação dos profissionais, em captação de recursos,
em crescimento contínuo. Incluir requer esforços de mudança de paradigmas, a
começar por limitações já culturais do tipo “isso é utópico”, “minha escola não
tem nem giz”, “vocês estão loucos”, etc e tal. Em nossa primeira cartilha, o
Projeto Atenção Brasil, falamos muito sobre a questão da RESILIÊNCIA:
precisamos adotar esse conceito como prioridade em nossa caminhada. Lembrem-se
disso a cada dificuldade, a cada barreira.
Afinal: a escola ideal existe?
Não, não existe. Mas podemos nos
aproximar de algo melhor a cada dia.
Basta observar nossa proposta número
7: “Incluir alunos com NEE em classe regular envolve mudanças pedagógicas e na
estrutura curricular que devem ser individualizadas dentro de um projeto
escolar que atenda às demandas de singularidade frente às limitações do
pensamento (concretude); além do desenvolvimento de habilidades frente às
limitações de participação e atividade, dada a diversidade dos alunos
incluídos.”
Uma vez atendida em sua plenitude,
essa proposta resume o conceito atual de “escola ideal”. Mas será que, de
fato, estamos construindo uma escola que se aproxime disso?
Propusemos uma discussão entre especialistas
em educação com formações diferentes e atividades diversas.
A Professora Camila Pestana (atuando
em escola particular), a Psicopedagoga Mirella Jorge (de instituição para
alunos com necessidades especiais de aprendizagem), a Psicóloga Paula Stipp (de
uma instituição voltada para deficientes mentais) e a profissional de
sustentabilidade e responsabilidade socioambiental Giuliana Preziosi.
As quatro são unânimes ao aprovar a
proposta número 7 desta cartilha. O que elas dizem: para Giuliana, “precisamos
extrapolar a barreira física, que é premissa, e pensar na metodologia, com
raízes sistêmicas onde tudo deve estar conectado. A escola ideal é pautada no
respeito e na empatia. É uma escola que acompanha as mudanças do mundo e
constrói soluções em conjunto para lidar com suas adversidades”.
Para Mirella, “a escola ideal é a que
acolhe todas as crianças diante de suas diversidades, respeitando
particularidades, medos e anseios, com a ampla visão que o professor pode ser o
sujeito a fazer toda a diferença na vida escolar de cada criança, juntamente
com uma equipe disposta a incluir e a ter um olhar de respeito e afeto.
Oferecendo meios significativos de aprendizagem real a todos”.
Paula afirma que “a escola ideal é a
que proporciona uma educação de qualidade para todos, analisando dificuldades e
potencialidades de cada aluno de forma a atender necessidades individuais. Deve
ter, acima de tudo, o objetivo de formar cidadãos solidários e valorizar as
diferenças”.
Camila acredita que “a escola ideal
não deveria ser inclusiva, pois a escola é para todos. Educar não é tarefa
fácil e lidar com diferenças, menos ainda. O espaço escolar é o ambiente mais
rico para se trabalhar as relações sociais e de saberes. Hoje, as escolas
pretendem que os alunos se adaptem a ela, ao invés de mudar seus procedimentos
e atender as necessidades de cada aluno. O nosso desafio em quebrar esses
paradigmas, se inicia em nossa formação enquanto educadores e se reflete em
nossa prática. Incluir um aluno em educação formal é fazê-lo pertencer àquilo
que tem por direito”.
Mas, como transformar esses conceitos
em práticas?
Giuliana diz que “Além de capacitação
e treinamentos adequados, o professor aprende junto com os alunos a superar
dificuldades. As aulas, além de conteúdo, ganham vivências e experiências
compartilhadas”.
Para Mirella, “é preciso priorizar a
criança na escola comum, mas os que apresentam NEE devem ser acompanhados por
uma equipe multiprofissional, seja na própria escola ou numa instituição em
período oposto, desde que haja troca entre educadores e especialistas”.
Para Paula, “a complementação para os
que apresentam NEE deve ser feita numa escola especial, auxiliando com
procedimentos especializados, terapias diversas, estimulação precoce e
preparação para o mercado de trabalho”.
Camila afirma que “há necessidade de
formar professores com excelência, com rotinas e currículo escolar muito bem
planejados e reais ao grupo pertencente, com práticas sociais como assembleias
e parceria com a família.”
Essas profissionais são pessoas
ideais para embasar essa proposta porque são educadores do dia a dia, gente que
enfrenta as dificuldades reais da educação voltada para o direito de todos.
A essas afirmações acrescentamos a
visão de que estamos em pleno processo de mudança, de que a escola não é algo
estático e de que, a cada momento, nos deparamos com situações novas e
inesperadas.
É fato que, quanto mais o
planejamento for eficaz, menor a chance de errar, mas isso não nos garante uma
fórmula imutável de sucesso.
O objetivo desta cartilha, seus
indicadores de desempenho e a avaliação constante dos progressos obtidos em
cada escola participante nos dão a certeza de que nos aproximaremos SEMPRE de
algo melhor.
É assim que iremos construir a
“escola ideal”, com adaptações e aperfeiçoamento constantes, com participação
de todos os agentes envolvidos e contando com a participação efetiva de
profissionais de saúde engajados nas rotinas pedagógicas.
COMUNIDADE
APRENDER CRIANÇA - Dr. Marco Antônio Arruda
Diretor
do Instituto Glia