quinta-feira, 20 de setembro de 2012

229- Características de amizade das crianças com TDAH



Um achado consistente nos estudos que identificam crianças em risco de resultados negativos do desenvolvimento é que as dificuldades de relacionamento com os colegas permitem prever vários problemas consequentes.

Infelizmente, muitas crianças com TDAH têm dificuldade em seus relacionamentos com colegas e em estabelecer e manter amizades de alta qualidade e apoiadoras. Isto é problemático porque boas amizades ajudam em várias funções importantes para as crianças, incluindo a existência de companheirismo, o surgimento de sentimentos de valor pessoal, contribuindo para a segurança emocional, criando um contexto de autoestima, oferecendo direção e apoio, e servindo como um aliado confiável. Crianças cujos desenvolvimentos ocorrem na ausência de amizades apoiadoras não têm esses apoios importantes e podem experimentar, como resultado, um grande número de dificuldades de ajustamento.

Apesar da importância documentada de amizades saudáveis para o desenvolvimento positivo das crianças, e das dificuldades dos relacionamentos com colegas sentidas por muitas crianças com TDAH, questões importantes sobre as características de amizade em crianças com TDAH permanecem não respondidas. Assim, foi com prazer que li um estudo recentemente publicado no “Journal of Attention Disorders” [Marton et al., (2012). Características de amizade de crianças com TDAH. Journal of Attention Disorders. DOI: 10.1177/1087054712458971] que fornece informação nova sobre esse importante assunto.

Os participantes foram 92 crianças de 9 a 12 anos, 50 com TDAH e 42 para comparação, seus pais e seus professores. Sessenta e seis (66) dos participantes eram meninos e vinte e seis (26) eram meninas; a porcentagem de meninos e de meninas era semelhante entre o grupo TDAH e o grupo de comparação.

As crianças foram entrevistadas individualmente e solicitadas a identificar todos os seus “melhores amigos” na escola e fora dela, a indicar por quanto tempo mantinham amizade com cada criança identificada, com que frequência falavam com cada uma delas e com que frequência ficavam com cada uma fora da escola. Os pais e os professores foram submetidos a uma série de perguntas paralelas; isso permitiu que os pesquisadores verificassem se os “melhores amigos” identificados pelos participantes eram confirmados por outra fonte. Os pais e professores também foram questionados sobre a presença de dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento nos amigos identificados por seus filhos e se essas características poderiam ser comparadas entre as crianças com e sem o TDAH.

Resultados                 

Os achados mais importantes deste estudo são apresentados a seguir.

- O número de “melhores amigos” reportados pelas crianças com e sem TDAH não eram diferentes.

- O número de “melhores amigos” que eram corroborados pelos pais ou professores era menor para crianças com TDAH do que para as crianças do grupo de comparação. Em média, crianças com TDAH tinham 3 amigos confirmados, comparados a 4 amigos para as crianças do grupo de comparação.

- Entre os meninos, os que tinham TDAH tinham porcentagem substancialmente mais alta de amigos com problemas de comportamento e de aprendizagem em relação às crianças do grupo de controle (43% versus 16%). Nenhuma diferença foi encontrada entre as meninas.

- A duração média da amizade dos amigos confirmados era significativamente mais curta para as crianças com TDAH do que para as crianças do grupo controle – cerca de 10 meses a menos, com base nos relatos das crianças, e de 14 meses a menos, com base nos relatos dos pais.

- Embora a quantidade de contato telefônico com os melhores amigos fosse semelhante em ambos os grupos, as crianças com TDAH tinham significativamente menos contato direto com amigos fora da escola. Isto foi encontrado tanto no relato das crianças quanto no relato dos pais.

Resumo e implicações

Embora as crianças com TDAH não relatassem menos amigos que as outras crianças, elas podem ter superestimado seus amigos com base no fato de que seus pais e professores confirmaram menor número de amizades. Entretanto, mesmo assim, é positivo notar que elas tinham só um pouco menos de amigos em média do que as outras crianças, e que quase todas tinham amigos confirmados. De fato, nesta amostra, somente 3 das 50 crianças com TDAH não tinham nenhuma amizade.

Outros aspectos destes dados também eram notáveis. Em primeiro lugar, entre os meninos, uma porcentagem significativamente maior de amigos de crianças com TDAH tinha problemas de aprendizagem e de comportamento, de acordo com os pais e os professores. Isto não é necessariamente negativo, mas indica que meninos com TDAH são mais propensos a ter amigos que estejam de algum modo com dificuldades. Ter amigos com problemas significativos de comportamento pode promover ou exacerbar comportamentos negativos entre os meninos com TDAH e as crianças pode reforçar mutuamente essas tendências um no outro.

Também é importante que as amizades entre crianças com TDAH fossem de duração mais curta do que para as outras crianças em cerca de um ano. Para crianças dessa faixa de idade, isto é substancial e pode refletir maior renovação de amizades nas crianças com TDAH. É importante porque “... um ano a mais de amizades pode contribuir para maior cordialidade, proximidade, companheirismo, e melhor ajustamento escolar entre os amigos.” Este seria um assunto importante a ser examinado mais cuidadosamente em pesquisas subsequentes. Também seria interessante verificar se essa tendência em direção a amizades mais curtas em crianças com TDAH também é encontrada entre os adolescentes.

Também foi encontrado que as crianças com TDAH têm menos contato com seus amigos fora da escola. Isto pode ocorrer por uma variedade de razões. Por causa do seu humor desafiador, as crianças com TDAH podem requerer maior supervisão e assim serem menos propensas a serem convidadas às casas dos amigos. Os pais podem estar mais preocupados com o comportamento de seus filhos quando não podem monitorá-los, e, assim, serem mais relutantes em permitir os encontros fora de casa.

Não importando a razão deste achado, níveis menores de contato direto sugere que as amizades entre crianças com TDAH podem fornecer menor companheirismo e menos oportunidades de desenvolvera espécie de aproximação entre amigos que encoraja autoafirmação e a criação de apoio emocional. Este é outro assunto a ser verificado mais cuidadosamente em pesquisa subsequente.

É importante notar que os achados discutidos acima refletem as diferenças encontradas em média entre crianças com e sem TDAH e as conclusões não se aplicam a todas as crianças com TDAH, muitas das quais podem atuar muito bem em seus relacionamentos sociais. Com em todos os estudos, seria importante replicar esses achados em nova amostra, para estabelecer melhor a confiabilidade desses resultados.

Quando crianças com TDAH estão tendo dificuldades em seus relacionamentos com os colegas, é importante saber se há alguma abordagem promissora para ajuda-las. Uma abordagem particularmente interessante envolve ter pais que assumam o papel de tutores de amizade para seus filhos, o que se baseia na noção de que os pais podem desempenhar um papel importante na criação de oportunidades sociais para seus filhos, organizando dias de encontros para eles e treinando seus filhos para que o encontro de brincadeiras corra bem.

Eu revisei um estudo com esta abordagem em um número anterior de Attention Research Update e o aconselho a vê-lo. Você pode encontrar o artigo em www.helpforadd.com/2010/november.htm

David Rabiner, Ph.D.
Research Professor
Dept. of Psychology & Neuroscience
Duke University
Durham, NC 27708

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

228- Carta do Dr Marco Antônio Arruda à Comunidade Aprender Criança

Caros Amigos,
nem precisa dizer, quem esteve lá viu!
         Para mim, essa edição do APRENDER CRIANÇA foi a melhor até aqui realizada, numa escalada de qualidade e público que começamos em 2006. Na verdade, por favor, deixando de lado qualquer obviedade narcisista, gostaria de lhes confessar que esse foi o melhor congresso da minha vida. Por que? Porque aprendi muito, mudei condutas, fiz reflexões sobre mim mesmo e me emocionei, me emocionei demais. Numa comparação grosseira com a culinária, uma das minhas paixões, a degustação foi diversa, alta culinária, os pratos além de muito saborosos tinham sabores complexos, picantes às vezes, comoventes sempre, por nos fazer lembrar de passagens que vivemos e que para sempre ficarão impressas em nossa memória. Dopamina pura como disse a Judy! Jamais vou esquecer o que ouvi nos corredores, pessoas que vinham me contar suas experiências, sua opinião e,muitas vezes, seus dramas pessoais. A ficha agora está caindo e mais comovido ainda estou. Tentando resumir:
         Primeiro, falar em INCLUSÃO é falar sobre todos e cada um de nós, sobre experiências atuais e passadas. Como disse o Mauro, o lema deveria ser ampliado para o “eu me incluo”!
Segundo, a COMUNIDADE APRENDER CRIANÇA comprova que Platão e os que hoje difundem a desinformação, estão errados em seu paradigma dicotômico de mente e corpo, algo como querer separar as Ciências do Homem e as Biológicas, opor o biológico ao cultural, a natureza à cultura, os genes à aprendizagem, ou o Neurocientista à Educação, ao Psiquismo e à Sociedade. Ao dicotomizar eles não têm conhecimento suficiente “de que o cultural (o social) não pode(m) ser pensado(s) sem o biológico e que o cerebral não existe sem uma impregnação poderosa do ambiente” 1. O verdadeiro processo de inclusão tem um só caminho, a autofagia, o banimento eterno da palavra INCLUSÃO. Explico. Se as robustas evidências científicas comprovam que o desenvolvimento da criança é diverso e que,portanto, todas devem ser incluídas, um dia o termo, por fim, deverá ser sepultado. E isso, definitivamente, não será mudado por decreto, nem será um processo de cima para baixo, mas baseado em evidências científicas.
         E, para finalizar, inspirado no discurso de inclusão ampla, total e irrestrita do grande “Mártir” Martin Luther King, gostaria de premeditar o breque: “Nós tivemos um sonho e, embora enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, nós ainda temos um sonho. É um sonho profundamente enraizado na inclusão da criança com desenvolvimento atípico, na inclusão da deficiente, da portadora de transtornos mentais como o TDAH e de distúrbios específicos do aprendizado como a Dislexia, na inclusão da diversidade do desenvolvimento infantil, tendo em conta suas habilidades e dificuldades naturais. Nós temos um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado dessa crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que as crianças devem ser tratadas iguais. Temos o sonhoque um dia, por fim, consigamos romper todas nossas barreiras atitudinais, sim, ocorrem sem percebermos e machucam demais. Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que nos prepararemos para o nosso dia a dia inclusivo. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, defender nossos ideais de liberdade juntos, e quem sabe sermos um dia livres. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado: "Livre afinal, livre afinal”. Abraço a todos e não percam o novo vídeo da série “Changing the Brains” sobre desenvolvimento da atenção.
         Grande abraço.
         Marco Antônio Arruda
         Diretor do Instituto Glia
1. Changeoux J-P. Prefácio. In: Dehane S, ed. Scliar-Cabral L, trans. Os neurônios da leitura - como a Ciência explica a nossa capacidade de ler. 1a. ed. ed. Porto Alegre - RS: Penso; 2012.

sábado, 4 de agosto de 2012

227- Não livre Arbítrio


A escolha, como autocontrole, exerce poder de veto sobre os impulsos.

Por Michael Shermer (Scientific American, August 2012, Skeptic pg. 73)
Recentemente, em um restaurante, enfrentei muitas tentações: uma forte cerveja escura, um petisco de escargot amanteigado, um bife marmorizado e uma torta de queijo. As redes neurais do meu cérebro, que evoluíram para produzir a emoção da fome de alimentos doces e gordurosos, que no meio ambiente dos nossos ancestrais eram raros e energéticos, estavam disparando impulsos elétricos para que eu fizesse aquelas escolhas. Competindo com elas, havia sinais de outras redes neurais que evoluíram para me tornar cuidadoso a respeito de minha saúde futura, em particular como eu vejo a imagem do meu corpo por uma questão de status entre os homens e de atração em relação às mulheres, e em quanto eu me sentiria lerdo depois de uma refeição rica, e, também, em quanto teria de me exercitar para queimá-la. Acabei pedindo uma cerveja light, salmão e uma salada com vinagrete, e dividi ao meio, com minha companhia, uma torta leve de chocolate.
Estava eu livre para fazer essas escolhas? Segundo o neurocientista Sam Harris no seu novo livro Free Will (Livre Arbítrio) (Free Press, 2012), eu não estava. “Livre Arbítrio é uma ilusão”, escreve Harris. “Nossas escolhas simplesmente não são feitas por nós”. Cada etapa da cadeia de eventos acima é totalmente determinada por forças e condições que não são de minha escolha, desde as minhas preferências evoluídas do paladar até minhas preocupações aprendidas sobre status social, as vias causais  foram estabelecidas por meus ancestrais e por meus pais, pela cultura e sociedade, grupos de colegas e amigos, mentores e professores, e a contingência histórica, indo até meu nascimento, e antes.

A neurociência apoia esta crença. O recém-falecido fisiologista Benjamim Libet observou, em registros de EEG (eletroencefalograma) de indivíduos engajados em tarefas que requeriam que apertassem um botão cada vez que sentissem vontade, que meio segundo antes que a decisão fosse conscientemente feita o córtex motor se tornava ativo. As pesquisas estenderam o tempo entre a ativação subcortical do cérebro e a consciência da decisão para um total de sete a dez segundos. Uma nova pesquisa encontrou atividade em uma pequena aglomeração de 256 neurônios que permitia aos cientistas prever com 80% de acerto qual seria a escolha do indivíduo antes que ele mesmo soubesse. Muito parecido com isso, logo antes que eu ficasse consciente da minha escolha do cardápio, parte do meu cérebro já havia feito a escolha. “Pensamentos e intenções emergem de causas que estão em segundo plano, ou das quais não temos consciência e sobre as quais não temos nenhum controle consciente”, conclui Harris. “Não temos a liberdade que pensamos ter”.
Muito verdadeiro. Mas, se definimos livre arbítrio como “o poder de fazer de outro jeito”, a escolha de vetar um impulso em relação a outro é “não livre arbítrio”. O não livre arbítrio é o poder de veto sobre inúmeros impulsos neurais que nos induzem a fazer algo de alguma maneira, de modo que a nossa decisão de fazer de outra maneira seja uma escolha real. Eu poderia ter escolhido o bife – e escolhi – mas me engajando em certas técnicas de autocontrole que me lembravam de outros impulsos competitivos, escolhi uma seleção em lugar da outra.

O apoio para esta hipótese pode ser encontrado em um estudo de 2007 no Journal of Neuroscience, feito pelos neurocientistas Marcel Brass e Patrick Haggard, que empregaram  uma tarefa semelhante à usada por Libet, mas na qual os indivíduos podiam vetar sua decisão inicial de apertar o botão até o último momento. Os cientistas descobriram uma área específica do cérebro chamada córtex frontomedial dorsal esquerda que se tornava ativada durante esta inibição intencional de uma ação: “Nossos resultados sugerem que a rede neural do cérebro humano para a ação intencional inclui uma estrutura de controle para a inibição auto-induzida ou para a suspensão de ações intencionais”. Isto é não livre arbítrio.
Além disso, um sistema tem “graus de liberdade”, ou uma faixa de opções que podem resultar de sua complexidade e do número de variáveis que intervêm. Formigas têm poucos graus, ratos têm mais, chimpanzés muito mais ainda, humanos o mais que todos. Algumas pessoas – psicopatas, portadores de lesão cerebral, os gravemente deprimidos ou os dependentes químicos – têm menos graus do que outros, e a lei se ajusta para a sua diminuída capacidade de responsabilidade legal e moral.

Esses impulsos neurais que vetam, em um complexo sistema com muitos graus de liberdade, são parte do universo determinístico. Pensar a vontade como um componente da rede causal permite-nos recolocar a responsabilidade em seu lugar correto na sociedade civil.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

226- Desenvolvimento do Cérebro na Infância: Aprendizado e Comportamento


Professora Dra. Maria Valeriana Moura-Ribeiro

O desenvolvimento físico geral na criança tem efeito importante para as competências e habilidades na vida adulta. Evidências crescentes de investimentos no período inicial da vida da criança, nas gestantes envolvendo o concepto, repercutem na cognição, aprendizado e comportamento.

A melhoria das condições nutricionais, do controle de infecções, da redução numérica de integrantes da família, condicionou redução da mortalidade; melhorou a expectativa de vida; aumentou a estatura média da população, com benefícios visíveis no adulto.
Que fatores relacionados à vida inicial, beneficiariam a saúde mental e física das crianças no transcorrer da primeira infância?
Na formação normal do sistema nervoso e, em particular do neocórtex humano, está bem caracterizada a multiplicação neuronal (neuronogênese), migração (radial, horizontal), amadurecimento neural glial, dos vasos sanguíneos, mielinização, organização de redes neurais com progressivo aumento da conectividade nas idades chaves de crianças.
As vivências envolvendo fenômenos adversos em idade precoce (intra útero e nos primeiros anos de vida) podem interferir no constructo biológico estrutural e funcional, modificando constituintes neuroquímicos.
Conhecendo a multiplicidade de áreas inter-relacionadas, com funcionalidade dinâmica bioquímica (neurotransmissores, aminoácidos, micro elementos) é possível compreender o impacto de experiências com agentes agressores em qualquer das etapas (embrionária, fetal e neonatal).

As pesquisas realizados em animais e seres humanos, têm oferecido evidencias substanciais dos efeitos da nutrição, das experiências nos primeiros anos de vida, sobre o desenvolvimento cerebral, com repercussão nas habilidades de enfrentamentos, comportamento e, na saúde geral, nos estágios evolutivos sequenciais da vida.

O desenvolvimento cerebral normal e as experiências no transcorrer da primeira infância, têm sido melhor compreendidas com estudos da psiconeuroendocrinologia e psiconeuroimunologia. Estímulos sensoriais externos ou internos ao cérebro, através do sistema glandular, hipotálamo-pituitário-adrenal (HPA), podem determinar produção ampliada de corticosteróides e comprometimento expressivo do sistema nervoso autônomo.
Os níveis e a duração desses esteróides no sangue afetam sistemas e órgãos, incluindo o cérebro, que por sua vez, por retro alimentação, regula a liberação de esteróides.
Nesse processo, existe comprometimento de circuitos neurais envolvendo hipocampo e sistema límbico, e dessa forma, influenciando o comportamento, a função cognitiva com envolvimento dos mecanismos de memória. O hipocampo constitui estrutura participante ativa, não somente do sistema límbico-hipotalâmico-pituitária-adrenal-cortical, como também do córtex pré-frontal. Os níveis elevados, crônicos de esteróides, podem causar perdas de neurônios no hipocampo, com repercussão na memória e comportamento.

Vários estudos realizados em animais, e observações em seres humanos, têm conclusivamente revelado que as conexões e o amadurecimento cerebral, se mantêm com dinamicidade expressiva durante os primeiros anos de vida.
No entanto, esta situação pode ser substancialmente afetada pela redução de estímulos recebidos no transcorre do neurodesenvolvimento, com projeção na qualidade do aprendizado acadêmico.
Todavia, esses efeitos não são radicais, podendo ocorrer reversão funcional dinâmica frente aos estímulos direcionados à reabilitação nos períodos sensíveis, em função da organização de novas interconexões neuronais. Essas constatações têm sido validadas em experimentos envolvendo circuitos sensoriais, visuais, auditivos, entre outros.

Os recentes estudos através de imagens no cérebro humano (ressonância magnética funcional, tratografia e tomografia por emissão de pósitron), têm revelado que o desenvolvimento cerebral é muito ativo nos primeiros anos de vida, com declínio dessa atividade na segunda década, registrando valores funcionais semelhantes aos evidenciados nos adultos.
Concomitantemente, é necessário reconhecer a influência, sobre a primeira infância, da interação de genes, ambiente e efeitos imunológicos. Nessa abordagem, estudos em macacos Rhesus, sob condição de estresse, caracterizou o desenvolvimento de ansiedade e depressão, particularmente quando separado da mãe. Nessa situação, foram identificados elevados níveis de esteróides, baixo níveis de serotonina no cérebro, com comprometimento do ritmo circadiano.

Concluindo, o desenvolvimento inicial no ser humano, depende das experiências precoces, recebendo influência da nutrição e dos estímulos proporcionados pelos pais e ambiente.
REFERÊNCIAS
Chugani HT, Phelps ME, Mazziotta JC, 1987. Positron Emission Tomography Study of Human Brain Functional Development. Annals of Neurology 22(4):487-97.
Moura-Ribeiro MVL, 2012. Primeiras Experiências e Consequência no Neurodesenvolvimento de Crian-ças. In:Riechi e Moura-Ribeiro: Desenvolvimento de Crianças Nascidas Pré-Termo / Interface Biopsicos-social. Ed. Revinter.

terça-feira, 31 de julho de 2012

225- Simplifique sua vida de TDAH aprendendo a dizer "NÃO"


Não importa a solicitação, adultos com TDA têm dificuldade de dizer não aos outros. Aqui, descubra como adultos TDA podem evitar a sobrecarga de compromissos e a exaustão aprendendo como dizer gentilmente "não".

Por Sandy Maynard - ADDitude

Você, adulto portador de TDA, já se pegou alguma vez falando "Onde eu estava com a cabeça?", depois de ter concordado em fazer alguma coisa que você realmente não queria ou que não tinha tempo para fazer? Há coisas no TDA do adulto que tornam difícil para nós dizermos não. Em primeiro lugar, geralmente dizemos sim a algo que parece bom, antes de pensar melhor no assunto. Em segundo lugar, nosso interesse é tão variado que não conseguimos escolher - então, dizemos sim a tudo.

E há a impaciência. Não queremos esperar até que as nossas oito semanas de aula de dança terminem para nos inscrevermos em aulas de teatro. Enchemos nossa agenda com coisas importantes, interessantes e divertidas para fazer, mas ficamos muito esgotados para aproveitar cada uma delas.

Cristina conhece bem esse sentimento. Ela tem TDA e admite que adora a parte hiperativa do seu diagnóstico de TDAH. Ela tem uma reserva sem fim de energia e está sempre à toda, desde o raiar do dia até o anoitecer. É a primeira pessoa que a família e os amigos pensam em chamar quando precisam de um favor. Ela tem dificuldade de dizer não e tem uma tendência a ficar sobrecarregada de tarefas.

Cristina veio me ver depois de sua vida sair de controle. Ela estava vivendo com seis horas de sono e, além de sua agenda sobrecarregada, estava ajudando sua mãe a se mudar para um asilo da velhice. Tudo lhe parecia igualmente urgente e importante. Eis aqui algumas das poucas sugestões que eu fiz para ajudar Cristina a aprender a dizer não e a ter o controle de sua vida de volta, sem falar das oito horas de sono profundo.

Estabeleça prioridades e pratique o dizer não

1- Demore um tempo para tomar uma decisão. A impulsividade e a hiperatividade fazem dois segundos parecer uma eternidade. Respire fundo, faça uma pausa e responda: "Gostaria de pensar sobre a oferta e lhe telefonar de volta". Durma sobre o assunto se precisar.

2- Faça uma lista das prioridades - em ordem de importância. Para muitos de nós, tudo parece importante e estabelecer prioridades pode ser tão doloroso quanto tentar prestar atenção a uma aula chata. Para Cristina, entretanto, foi fácil. Ela adora sua mãe e valoriza sua relação acima de tudo. Pondo isto no topo da lista tornou mais fácil renunciar às coisas seguintes.

3- Treine dizer não às coisas fáceis. Um bom começo seria dizer aos que telefonam pedindo ou oferecendo coisas que você não quer mais ser chamada. Treine seu jeito de dizer não - civilizadamente, é claro - para o seu marido ou para o seu chefe.

Como dizer não

4- Seja breve. Uma indicação difícil para mentes que turbilhonam como o fogo em meio a uma floresta seca, mas que pode ser feita se você alentecer todos aqueles pensamentos que dançam em seu cérebro. Em vez de explicar porque você não pode ir a uma festa tarde da noite para um colega que está se mudando, diga somente, "Sinto muito, mas tenho de estar em casa mais cedo". Quanto mais razões você arrumar para dizer a alguém porque você não pode fazer algo, mais fortemente a pessoa vai tentar lhe convencer de que você pode.

5- Seja incondicional quando disser não. Usar as palavras "talvez", "mas" e "se" não dará certo. Isto acontece quando pensamos alto. É melhor pensar, decidir e falar - nesta ordem.

E, Lembre-se:

6- Não diga sim apenas para ser gentil. Alguns de nós sentimos que temos de nos exceder para tornar melhor as coisas quando tivermos perdido o controle de algo ou feito algo impróprio. Não temos. Quando solicitado a vender bilhetes de rifa diga "Não, não gosto de fazer isso, mas vou comprar alguns". É um modo de dizer não sem ofender ninguém.

7- Você não é indispensável. O mundo não vai parar se você não atender a cada vez que for solicitado. Embora seja tentador assumir novas responsabilidades para manter as coisas excitantes, resista à urgência de fazê-lo. Mesmo que você saiba que faz melhor o trabalho, deixe alguém mais fazê-lo por uma vez.

8- Você pode mudar sua mente. E se você disse sim e agora quer dizer não? Tudo bem em renunciar. Cristina já tinha concordado em co-dirigir um importante evento da comunidade quando, inesperadamente, apareceram  novas responsabilidades em relação aos cuidados com sua mãe. Quando ela juntou a coragem para falar aos outros membros da comunidade sobre recusar o trabalho, todos eles entenderam completamente - e algumas pessoas se ofereceram para tomar o seu lugar.

Serei a primeira a admitir que não é fácil dizer não. Aprendi uma coisa, entretanto, é que a honestidade e a integridade sempre são respeitadas quando aceitamos ou recusamos um convite. Quando você junta suas decisões aos seus valores, os resultados nunca são desapontadores para você, sua família ou seu amigos.

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12 modos inteligentes de recusar (por Ramona Creel, onlineorganizing.com)

1. Estou no meio de vários projetos

2. Não fico à vontade com isto

3 Não estou assumindo mais nenhuma responsabilidade

4. Não sou a pessoa mais qualificada para este trabalho

5. Não gosto deste tipo de trabalho

6. Não tenho mais nenhum horário em minha agenda

7. Odeio dividir minha atenção entre projetos

8. Sei que você fará um excelente trabalho por si mesmo

9. Preciso deixar algum tempo livre para mim mesmo

10. Eu realmente ajudaria se fosse um outro trabalho

11. Não tenho nenhuma experiência com isso

12. Tenho outro compromisso

quarta-feira, 25 de julho de 2012

224- É TDAH ou Menopausa?



Como a menopausa afeta a memória, atenção e os relacionamentos conforme a mulher envelhece. Mais, os sintomas que você tem apresentado são relacionados com o transtorno de déficit de atenção (TDAH), menopausa ou ambos? Edward Hallowell M.D. - ADDitude - 2012

Você "tem uma certa idade" e de repente sua memória tem tantos furos que você acha que tem "cérebro de queijo suíço". Você perde coisas com mais frequência e se perde em sus pensamentos, distraída numa fração de segundo. Mulheres diagnosticadas com TDAH às vezes ficam em pânico, preocupadas com a piora dos seus sintomas. As mulheres que não foram ainda diagnosticadas com TDAH e que sentem esses sintomas muitas vezes debilitantes perguntam aos seus médicos "O que está acontecendo? Tenho TDAH ou  Alzheimer?"
Mesmo que você não tenha TDAH, a menopausa influencia tudo! Depois da "mudança", os níveis de estrogênio caem cerca de 65%, o que afeta a captação de dopamina e de outros neurotransmissores. Menos estrógeno significa níveis mais baixos de dopamina e serotonina, causando o aparecimento de sintomas parecidos com os do TDAH: dificuldade crescente para se concentrar, disfunção de memória e problemas cognitivos, e menor clareza mental. Se você tiver TDAH, a maior queda da dopamina, abaixo dos seus níveis já diminuídos, significa que os sintomas existentes vão piorar e que novos sintomas aparecerão.

Esses sintomas são da menopausa ou do TDAH?

Algumas mulheres que têm TDAH não diagnosticado por toda sua vida, com a piora dos seus sintomas, procuram os médicos procurando respostas. Mas os sintomas parecidos com o TDAH nem sempre indicam a presença do transtorno. Se os seus sintomas apareceram só recentemente (e eles não estavam presentes desde a infância), então, a menopausa é provavelmente a culpada. Fale com seu médico sobre o controle dos sintomas.
Se você foi diagnosticada com TDAH, os efeitos da menopausa sobre o transtorno geralmente vão requerer ajustes. Converse com seu médico sobre o aumento da dosagem dos medicamentos, ou tente medicamentos com duração da ação prolongada, faça mais exercícios ( o que aumenta o foco e diminui as chances de ter osteoporose) e considere a terapia hormonal. Para muitas mulheres, o melhor tratamento é o estrogênio, por 3 a 4 meses, seguido por 10 dias de progesterona.

A complicação é que 85% das mulheres sentem alguma disfunção sexual após a menopausa. Logo quando você poderia usar o humor e o apoio do seu companheiro para lidar com seu "cérebro de queijo suíço", você descobre que seu relacionamento fica mais tenso.

Siga em frente

É importante que em cada estágio de sua vida os sintomas do TDAH sejam mantidos sob controle. Isto significa trabalhar com vários profissionais - um psicólogo, um clínico geral e um ginecologista. Eduque-se a respeito do TDAH e do que está acontecendo com o seu corpo, mantenha lista de medicamentos e anote os seus sintomas. Os médicos raramente levam em conta as flutuações hormonais quando fazem um plano de tratamento.
Se você tiver dificuldade em prestar atenção, de manter-se organizada e de manter sua vida em ritmo estável, um profissional poderá prescrever um estimulante, mesmo na ausência do diagnóstico de TDAH. Mas isto deve ser feito no contexto de um plano abrangente, multimodal, que inclua tudo, desde mudanças nutricionais e exercícios até terapia de reposição hormonal. Quanto àquelas problemáticas mudanças sexuais, ajudar seu companheiro a entender que elas são normais já é um bom ponto de início.

sábado, 21 de julho de 2012

223- Não à violação dos direitos dos portadores de TDAH e Dislexia


Comunidade Aprender Criança – Dr. Marco Antônio Arruda

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, entre eles o direito à Saúde Mental, a fim de lhes facultar o desenvolvimento integral em todas as dimensões, física, mental, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade 1,2.
A despeito da lei, a violação dos direitos da criança é ainda nos dias de hoje praticada de forma sistemática, sem distinção de credo, raça ou classe social, tendo frequentemente como agente exatamente os indivíduos aos quais é dada a função de proteção do menor. Dessa forma, “juízes e sistema judicial, profissionais e agências de Saúde, indústria do entretenimento, mídia, políticos, igreja e mesmo pais ao redor de todo o mundo comumente estão implicados na prática de inumeráveis formas de violência contra a criança, como punições físicas severas (incluindo execuções judiciais e extrajudiciais), adoções ilegais, abuso sexual (incluindo a pedofilia, pornografia e prostituição infantil), além do trabalho infantil e a inserção de crianças e adolescentes em conflitos armados” 3-6.

Tragicamente, na medida em que a violência aos direitos da criança e do adolescente se alastra, surgem novas formas de violação. Assim vemos o autodenominado FORUM SOBRE A MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE, que viola de forma flagrante os direitos inalienáveis da criança à Saúde Mental através da propagação da desinformação e celebração do caos ao não reconhecer a existência do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) e da Dislexia. Trata-se de uma postura de transparente motivação político ideológica, sem qualquer embasamento na Ciência, completo desconhecimento do método e das evidências científicas, além de absoluto desprezo a instituições como a Organização Mundial da Saúde, que relaciona esses transtornos, bem como seus critérios diagnósticos, no Código Internacional das Doenças (CID).
O reducionismo fica patente na medida em que afirmam que esses transtornos não existem já que não são diagnosticados laboratorialmente. Algo como desconhecer a existência, o impacto e o sofrimento provocado por doenças como Autismo, Depressão, Esquizofrenia, Alzheimer e tantas outras para as quais ainda não foram identificados marcadores biológicos, presentes em todos os pacientes, que viabilizariam um diagnóstico laboratorial.

Evidências científicas advindas de uma extensa literatura dão sustentação à natureza neurobiológica do TDAH, bem como sua validade clínica 7. Desde a primeira publicação registrada na biblioteca nacional de Medicina do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (PubMed) em 1966 até os dias de hoje são mais de 18 mil artigos científicos publicados sobre esse transtorno, 1768 ensaios clínicos, 133 metanálises e 29 guias de práticas clínicas (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed). Avaliando essa vasta literatura, a Associação Médica Americana, através do seu conselho para assuntos científicos, declarou em 1998 que “o TDAH é um dos transtornos mais bem estudados e cuja validade clínica é superior a muitas outras condições médicas diagnósticas”.
Orquestrado por órgão de representação de classe e por indivíduos acometidos por delírios de vocação messiânica, o referido FORUM infringe direitos constitucionais dos portadores de TDAH e Dislexia, sejam crianças, adolescentes ou adultos. De que forma? Ao propagar a desinformação retarda as oportunidades de diagnóstico e tratamento, induz pais e portadores à interrupção de intervenções medicamentosas e não medicamentosas e aniquila qualquer possibilidade de suporte acadêmico ou promoção social dos portadores resultando em consequências trágicas provocadas pelos transtornos e bem documentadas na literatura. Perdem-se, portanto, as oportunidades de controle dos sintomas e do impacto provocado por eles.

Se o direito é universal, infelizmente o acesso ao conhecimento científico não é, nem a habilidade de compadecermos com o sofrimento alheio, seja de portadores, seja de seus familiares.
Em nosso país grande parte das crianças vive em condições de pobreza e susceptíveis a numerosos fatores de risco para a Saúde Mental e desempenho escolar, como apontou o Projeto Atenção Brasil 8. A extrapolação das taxas de prevalência de transtornos mentais (12,3%) 8 e TDAH (5.1%) 9, reveladas pelo estudo, aponta, respectivamente, para 8,3 e 3,3 milhões de crianças e adolescentes brasileiros em condições de risco. Em contrapartida, apenas 13% das crianças e adolescentes portadores de TDAH encontram-se em tratamento 10.

As causas devem ser analisadas e intervenções de várias ordens, médicas e sociais, precisam ser adotadas com a ajuda da Ciência, nunca à sua revelia ou entorpecidas por motivações político-ideológicas.

Nessa edição do Notícias do Cérebro tornamos pública nossa indignação e chamamos todos para juntar-se a nós no combate à violação dos direitos da criança à Saúde Mental. Leia a Carta de Esclarecimento à Sociedade sobre o TDAH, seu diagnóstico e tratamento com chancela de 29 associações e grupos de pesquisa, e assine a petição de apoio à mesma no http://www.peticao24.com/peticao_online_sobre_o_manifesto_de_esclarecimento_sobre_o_tdah

Não deixe de ler também o artigo do Dr. Paulo Mattos e da Dra. Vera Joffe.
Até mais!

Marco Antônio Arruda
Diretor do Instituto Glia e Comunidade Aprender Criança

Referências
1. United Nations Children’s Fund. Convention on the rights of the child. New York: United Nations Children’s Fund, 2002.
2. Presidência da República CC, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Estatuto da Criança e do Adolescente [online] 1990; LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. Available at: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm
3. Berganza CE. Children’s right to mental health. How adults have failed youth worldwide: the Latin America case. World Psychiatry 2005; 4 (3): 158-159.
4. Duarte C, Hoven C, Berganza C et al. Child mental health in Latin America: present and future epidemiological research. Int J Psychiatry Med 2003;33:203-22.
5. Giel R, de Arango MV, Climent CE et al. Childhood mental disorders in primary health care: results of observations in four developing countries. Pediatrics 1981;68: 677-83.
6. Rohde LA, Celia S, Berganza C. Systems of care in South America. In: Remschmidt H, Belfer ML, Goodyer I (eds). Facilitating pathways: care, treatment and prevention in child and adolescent mental health. Berlin: Springer, 2004:42-51.

7. Pliszka S. Practice parameter for the assessment and treatment of children and adolescents with attention-deficit/hyperactivity disorder. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 2007;46:894-921.Arruda, M. (2010). Projeto Atenção Brasil Retrieved June 29th., 2012, from www.aprendercrianca.com.br/aprender-crianca-2010-dp17 .
8. Arruda MA, Almeida M, Bigal ME, Polanczyk GV, Moura-Ribeiro MV, Golfeto JH. Projeto Atenção Brasil: Saúde Mental e desempenho escolar em crianças e adolescentes brasileiros. Análise dos resultados e recomendações para o educador com base em evidências científicas. Ed. Instituto Glia, Ribeirão Preto, SP, 2010.
9. Arruda MA, Querido CN, Bigal ME, Polanczyk GV. ADHD and Mental Health Status in Brazilian School-Age Children. J Atten Disord. 2012 Jun 4. [Epub ahead of print].
10. Arruda MA, Moura-Ribeiro MV, Golfeto JH, Bigal ME, Polanczyk GV. Are Psychostimulants Overprescribed in Brazilian school-aged children? Are Psychostimulants Overprescribed in Brazilian school-aged children? (2011). Paper presented at the World Congress on ADHD, Berlin.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

222- O "Mito" do TDAH: Como entender o que você ouve por aí


Esclarecimento sobre o TDAH  - Prof. Dr. Paulo Matos


As dúvidas movem a ciência e permitem o progresso, porque impulsionam os cientistas a tentar esclarecê-las. Dúvidas, portanto, representam algo inestimável e imprescindível para todas as áreas da ciência; para a medicina não é diferente. Existe atualmente um grande número de questões não esclarecidas sobre diferentes aspectos de muitas doenças; são estas dúvidas que estão ocupando os cientistas do mundo inteiro neste exato momento e vão ocupá-los por toda sua vida profissional.

E o que fazem os cientistas? Eles fazem pesquisas com critérios rigorosos para testar suas hipóteses. Para isto, devem submeter seu projeto a um comitê de ética e ter cada etapa de seu trabalho avaliada e aprovada antes mesmo de começar. Quando a pesquisa termina, os cientistas publicam os resultados em revistas especializadas, para que os conhecimentos não apenas sejam conhecidos por todos os demais cientistas, como também para que outros possam verificar os resultados e tentar reproduzi-los para confirmá-los ou rejeitá-los. A isto chama-se de método científico e é a única maneira de se controlar os conhecimentos gerados por pesquisas.

Um cientista mal intencionado publicou resultados fraudulentos? A única forma será verificar os resultados de sua pesquisa (eles são obrigatoriamente armazenados durante muitos anos). Outro tirou conclusões erradas a partir dos resultados de sua pesquisa? Basta verificar a metodologia, conferir os resultados e ver se há outras conclusões possíveis. Alguém recebeu verba de um patrocinador que potencialmente influenciou a análise dos resultados? Informações sobre verbas são obrigatórias e caso haja uma infração, nenhuma revista científica publicará mais artigos deste pesquisador. Existiu alguma fraude com os dados? É possível saber verificando os materiais originais da pesquisa e os relatórios publicados; várias revistas publicam imediatamente editoriais quando descobrem algum tipo de erro ou fraude.

Portanto, somente o método científico nos dá a segurança de que uma determinada informação é segura, porque deste modo ela pode ser analisada, verificada, confirmada ou abandonada. Para isso existem as revistas científicas especializadas que só publicam pesquisas que respeitaram o método científico e que foram previamente avaliadas por um grupo de pesquisadores imparciais e com experiência. Quando ocorrem erros, de qualquer natureza, este é o único modo de eles serem descobertos e corrigidos: através de publicações científicas padronizadas.

Agora, imagine que alguém lhe diga que “determinada doença é causada por isto ou por aquilo” ou ainda que “determinado medicamento causa este ou aquele problema”. Você aceitaria, de bom grado? Sem pedir nenhuma comprovação científica? Sem pedir para ver os artigos científicos publicados em revistas especializadas?

Como você pode saber se algo que um profissional de saúde está dizendo é verdade? Qualquer ideia pode fazer algum sentido e mesmo assim ser falsa; nem toda lógica é verdadeira, obviamente. Muitas vezes, um discurso inflamado, aparentemente bem intencionado, é cheio de conclusões que não tem qualquer fundamento científico e não se baseia em nenhum achado de pesquisa. No Brasil, frequentemente pessoas fazem discursos e até mesmo iniciam campanhas sobre saúde baseadas em suas opiniões pessoais ou suas crenças políticas; ou seja, no que elas “acham”- é o famoso “achismo”.

E quanto ao TDAH? Existem dúvidas sobre inúmeros aspectos específicos do TDAH, assim como existem com relação ao câncer, ao diabetes, ao infarto do miocárdio, ao Parkinson, etc. Mas não existe nenhuma dúvida, no meio científico, quanto a sua existência: o TDAH é um dos transtornos mais bem estudados em toda a medicina e é descrito por médicos há mais de 2 séculos.

Mas por que algumas pessoas insistem em dizer que “TDAH não existe”?

Em primeiro lugar, vamos esclarecer quem reconhece o TDAH como uma doença: a Organização Mundial da Saúde. Além disso, no Brasil, temos a Associação Médica Brasileira, a Associação Brasileira de Psiquiatria, a Academia Brasileira de Neurologia e a Academia Brasileira de Pediatria. Você não acha estranho que alguém conheça “uma verdade” que é ignorada por todas as organizações médicas?

Bem, o modo mais simples e rápido de terminar uma discussão sobre “a existência do TDAH” seria pedir que os indivíduos que negam sua existência forneçam artigos científicos que sustentem sua opinião. Mas eles jamais o farão, porque tais artigos.... não existem! O seu discurso sempre será baseado no “achismo” e sempre dará a impressão de que estão lutando por uma causa justa, para “defender” a população de algum mal terrível. Por outro lado, artigos mostrando que existem bases neurobiológicas e genéticas no TDAH somam mais de 10.000 atualmente (isto mesmo, dez mil, você leu corretamente).

Algumas pessoas, talvez, fiquem na dúvida sobre a existência do TDAH porque “todo mundo tem um pouco”. O que ocorre é que todo mundo tem alguns sintomas de TDAH; este diagnóstico é feito pela quantidade de sintomas e não na base do “tudo ou nada”. Exatamente como no diabetes, na hipertensão arterial, no glaucoma, na osteoporose, etc.: o que dá o diagnóstico é a intensidade ou quantidade.

Existem também indivíduos que acreditam que todo e qualquer problema de comportamento (TDAH nem sempre causa problemas de comportamento, ressalte-se) é causado “pela sociedade”. Geralmente estas pessoas estão fortemente envolvidas com grupos políticos que pregam intervenções do governo na sociedade (também chamada de “engenharia social”, muito comum nos regimes ditatoriais comunistas). Tais movimentos remontam à ideia comprovadamente equivocada de que os homens nascem invariavelmente bons e puros e é a sociedade que os corrompe. Estas ideias, que datam do século XVIII, não sobreviveram aos achados da genética e das neurociências, que não existiam naquela época.

Outros, ainda acreditam que todo e qualquer problema psíquico é causado por fatores psicológicos, apesar da farta literatura científica sobre as bases neurobiológicas e genéticas do TDAH. Desnecessário dizer que geralmente tais indivíduos ganham a vida fazendo tratamento psicológico para as doenças; raramente, entretanto, falam sobre o seu próprio conflito de interesses.

Por fim, ainda há aqueles que tomam conhecimento de diagnósticos errados de TDAH, de prescrições equivocadas de medicamentos, de automedicação para fins recreativos ou para aumento do desempenho em provas e passam então a dizer que “o diagnóstico é falho” ou “o tratamento é similar ao uso de uma droga”. Não é difícil enxergar que a existência destes erros em nada comprometem nem o diagnóstico nem o tratamento do TDAH. Pense nos antibióticos: eles são muito prescritos de modo errado. Usam-se antibióticos, por exemplo, para infecções de garganta com muita frequência, um uso sabidamente equivocado (elas são causadas na maioria das vezes por vírus, que não são combatidos com antibióticos). Nem por isso deve-se abolir os antibióticos, que curam e salvam vidas quando usados corretamente. O mesmo exemplo ainda serve para aqueles indivíduos que dizem que “os medicamentos para TDAH são inespecíficos e agem em qualquer pessoa”: de fato, os antibióticos matam as bactérias em qualquer um, mas só curam aqueles que estão com pneumonia.

TDAH não é um mito. Muito daquilo que se fala contrariamente ao seu diagnóstico e tratamento são simplesmente “achismos”, crenças sem fundamento objetivo ou científico; ou seja, são mitos. E mitos, definitivamente, não são algo em que você deva confiar quando se trata de sua saúde ou da saúde de seus filhos.

Paulo Matos
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Mestre e Doutor em Psiquiatria e Saúde Mental
Pós-doutor em Bioquímica
Presidente do Conselho Científico da ABDA

quarta-feira, 18 de julho de 2012

221- TDAH - Quando você decide que é hora de terminar o casamento?


Quando você decide que é hora de terminar o casamento?
JustwannagiveupCouples With One ADHD Partner30 Comments
Olá, sou nova aqui. Hubby e eu estamos casados há 8 anos, juntos há 10 anos e temos dois filhos, de 4 e de 1 ano. Ele é o esposo com TDAH e eu não. Antes de termos os filhos, ele era definitivamente TDAH, mas não tão ruim como agora. Ele toma seu remédio durante a semana (90 mg de Adderal XR) para ajudá-lo a prestar atenção no trabalho, mas não gosta de tomá-lo nos fins de semana, para dar uma pausa livre de remédios para seu organismo. Mas eu sinto que parece que ele sofre como se fossem os sintomas de abstinência, por causa disso. Ele se torna maníaco, especialmente junto da família. Ele também fica um pouco assim perto dos amigos mas não tanto quanto perto da minha família e da dele. Acho que o que me incomoda tanto agora é que ele está ensinando ao nosso filho que está tudo bem em ficar amolando as pessoas até que elas gritem com você. Entretanto, durante a semanas, quando ele está usando os remédios, ele fica constantemente dizendo ao filho para não amolar sua irmã. Totalmente dois pesos e duas medidas e muito hipócrita. Tentei falar disso com ele na noite passada, sobre como ele se comportou mal no último final de semana, mas ele parecia que não entendia. Não sei como falar com ele porque se eu começo ele parece desligar ou não me dar atenção. Ele tente ser o centro da atenção até o ponto de gritar com as pessoas e interromper as conversas, e se comporta maldosamente comigo quando não está usando a medicação. Sinto como se o Adderal estivesse piorando o TDAH, especialmente quando ele está sem o remédio. Não quero que meus filhos cresçam pensando que seja legal ser um imbecil com as pessoas. E é exatamente isso que ele está ensinando ao nosso filho. Minha pergunta é, como eu posso ajudá-lo a controlar isso? Eu tento e dou a ele artigos para ler, livros etc., e ele não consegue prestar atenção o suficiente para os ler... ele lê o mesmo parágrafo várias vezes e não consegue aprender nada. Então, conversar não adianta, ler não adianta. Eu deveria dizer a ele que gostaria de conversar com seu médico, juntos, para ver se conseguimos descobrir outro modo de tratamento? Quando você decide que já fez tudo o que podia e desiste? Não quero isso, porque ele ainda seria uma influência sobre nossos filhos se eu o deixasse, mas, do jeito que as coisa andam atualmente, eu me sinto totalmente frustrada e o pai deles é um mal exemplo para eles. E eu não tenho nenhum apoio financeiro para cuidar deles. Poderia morar com minha família por algum tempo, e eles me sustentariam por algum período, mas eu não tenho educação universitária e nenhuma experiência de trabalho. Teria de começar do zero. É aterrorizante. Eu gostaria que ele assumisse comigo os compromissos e que lidasse com seu problema, em vez de usá-lo como uma muleta. Ele ficou verdadeiramente insuportável no último final de semana.

terça-feira, 17 de julho de 2012

220- Carta de Esclarecimento à Sociedade sobre o TDAH, seu diagnóstico e tratamento.

Brasília, 13 de Julho de 2012

Recentemente, uma série de matérias sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem sido veiculada pela mídia jornalística não especializada. Em boa parte dessas matérias, profissionais apresentados como especialistas em saúde e educação (embora seus currículos informem não terem publicações científicas sobre o assunto) transmitem opiniões pessoais como se fossem informações científicas. Pior, suas opiniões não refletem os conhecimentos atuais sobre o transtorno, que é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e sobre o qual constam centenas de publicações em bancos de dados (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/) descrevendo claramente as graves consequências nas esferas acadêmica, familiar, social e profissional. Tais opiniões equivocadas são nocivas para pacientes, familiares e para a população como um todo.
A afirmação de que o TDAH “não existe”, de que os medicamentos aprovados pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o tratamento desse transtorno são “perigosos” e tornam as crianças “obedientes” é, na melhor das hipóteses, expressão pública de ignorância em relação ao tema, investigado cientificamente de modo extenso por pesquisadores de todo o mundo, muitos deles brasileiros. Na pior das hipóteses, configura crime porque veicula informações erradas sobre tema de saúde pública. Incontáveis Associações Médicas ao redor do mundo já se posicionaram não deixando dúvidas sobre a validade do TDAH (vide posicionamento da Associação Médica Americana em Referências no final do texto).
Tais matérias induzem os leitores à falsa conclusão que há dúvidas não apenas quanto à existência do TDAH, como sobre os benefícios do tratamento medicamentoso. Obviamente, tais textos jamais citam qualquer artigo científico, nenhum dado de pesquisa, demonstrando os tais efeitos “perigosos” ou graves. E, numa prova incontestável da natureza parcial e enganosa, em desrespeito aos princípios básicos do jornalismo, deixam de citar centenas de artigos científicos que documentam fartamente os benefícios, a eficácia e a segurança dos medicamentos usados no tratamento do TDAH. Recentemente, um grande estudo publicado no mais importante jornal Inglês de Psiquiatria documentou que o metilfenidato é a medicação mais eficaz em Psiquiatria e uma das mais eficazes em toda a Medicina (vide em Referências no final do texto).
Os sintomas que caracterizam o TDAH não são comportamentos infantis comuns, meras variações da normalidade, que médicos, pais e professores querem “controlar”. Seria o mesmo que dizer que diabete é um mero aumento de açúcar no sangue, uma simples variação do normal observado na população. Noventa e cinco por cento das crianças e adolescentes não tem a intensidade e gravidade de sintomas que os portadores de TDAH, do mesmo modo que 90% dos adultos não têm níveis elevados de açúcar. Diagnósticos são frequentemente estabelecidos pela intensidade e gravidade. A lista é grande: hipertensão arterial, glaucoma, osteoporose, hipertireoidismo, etc. Todos eles, à semelhança do que ocorre no TDAH, cursam com graves consequências para o indivíduo. Proposições do tipo “quem não esquece alguma coisa de vez em quando?” ou “quem não responde impulsivamente de vez em quando?” são, além de superficiais, irrelevantes: todos os sintomas do TDAH ocorrem em frequência e intensidade não observada em indivíduos normais.
O diagnóstico do TDAH é realizado através de entrevista clínica e há extensa literatura científica sobre a fidedignidade deste procedimento. A sugestão de que a ausência de exames complementares tornaria o diagnóstico “frágil” novamente reflete inacreditável desconhecimento de saúde mental: também não há exames para os diagnósticos de Depressão, Autismo, Transtorno do Pânico, Esquizofrenia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Bipolar, etc.
A comunidade científica Brasileira, aqui representada por mais de 20 associações e grupos de pesquisa, reitera que o TDAH pode ser diagnosticado de modo fidedigno e seu tratamento, se bem conduzido, tem grandes chances de diminuir os prejuízos que esses indivíduos apresentam ao longo da vida. Embora tratamentos não farmacológicos possam auxiliar bastante no manejo terapêutico do TDAH, todos os artigos científicos disponíveis indicam que o tratamento farmacológico é a primeira escolha para a maioria dos portadores.
Fornecer informações equivocadas e ocultar dados científicos bem documentados é dificultar ou retardar o acesso da população ao diagnóstico ou a tratamento, é a expressão de uma das mais perversas formas de discriminação social: a Psicofobia.

Referências

1. Diagnosis and Treatment of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in Children and Adolescents. Larry S. Goldman, MD; Myron Genel, MD; Rebecca J. Bezman, MD; Priscilla J. Slanetz, MD, MPH; for the Council on Scientific Affairs, American Medical Association - JAMA. 1998;279(14):1100-1107

2. Putting the efficacy and general medicine medication into perspective: review of meta- analysis. Stefan Leucht, Sandra Hierl, Werner Kissling, Markus Dold and John M. Davis. British Journal of Psychiatry, 2012, 200:97-106

Entidades signatárias
1 - Associação Brasileira de Psiquiatria
2 - Associação Brasileira do Déficit de Atenção
3 – Sociedade Brasileira de Pediatria
4 – Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil
5 – Associação Brasileira de Neurologia, Psiquiatria Infantil e profissões afins
6 – Academia Brasileira de Neurologia
7 – Sociedade Brasileira de Neuropsicologia
8 – Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul
9 – Sociedade Interdisciplinar de Neurociência Aplicada à Saúde e Educação
10 – Associação Brasileira de Dislexia
11 – Ambulatório dos Estudos de Aprendizagem do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Neurologia e Pediatria)
12 – DISAPRE – Laboratório de Pesquisa em Distúrbios da Aprendizagem e da Atenção – Faculdade de Ciências Médicas - Universidade de Campinas
13 – Laboratório de Investigações Neuropsicológicas – Universidade Federal de Minas Gerais
14 – Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento – Universidade Federal de Minas Gerais
15 - Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência (UPIA) da Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP-EPM)
16 – Centro de Referência para Criança com TDAH Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira – Universidade Federal do Rio de Janeiro
17 – Ambulatório de Neuropsicologia Pediátrica do Serviço de Neurologia do Complexo Hospitalar Professor Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia
18 – Ambulatório de Distúrbio de Aprendizagem da Santa Casa da Misericórdia de São Paulo
19 – GEDA - Grupo de Estudos e Pesquisa do Déficit de Atenção da Universidade Federal do Rio de Janeiro
20 – NANI – Núcleo de Atendimento Neuropsicólogo Infantil – Universidade Federal do Estado de São Paulo
21 - Comunidade Aprender Criança – Instituto Glia
22 – Núcleo de Investigações da Impulsividade e da Atenção da Universidade Federal de Minas Gerais
23 – Centro de Orientação Escolar - Hospital da Criança Santo Antonio da Santa Casa de Porto Alegre
24 – Laboratório de Clínica Cognitiva do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia
25 - Programa de Déficit de Atenção/ Hiperatividade do Hospital de Clinicas de Porto Alegre da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
26 – Serviço de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio de Janeiro
27 - Grupo de Pesquisa em Neurodesenvolvimento, escolaridade e aprendizagem – CNPq
28 - Ambulatório de Déficit de Atenção (AMBDA) da Universidade Federal de Minas Gerais
29 – Instituto ABCD

sexta-feira, 6 de julho de 2012

219- Tenha coragem de perdoar seu esposo com TDA



Ter um companheiro com TDA não é fácil, mas perdoar - e planejar para prevenir os problemas - é um passo na direção certa. O especialista Dr. Ned Hallowell oferece conselhos de relacionamento.

Se você está casado com alguém com o déficit de atenção (TDA/TDAH), você provavelmente se terá perguntado quantas vezes terá de perdoá-lo. TDA não é fácil - para os que o têm ou para os que vivem com quem tem! Por isso que todos os casamentos TDAH podem se beneficiar de algum aconselhamento sobre o relacionamento.

Nós, que temos TDA (eu, inclusive), geralmente não aprendemos com nossos erros. Nós os repetimos seguidamente. Se a pergunta for "Quantas vezes tenho de lhe dizer?", a resposta pode ser "Centenas, no mínimo!" Isso significa que merecemos um salvo-conduto? É claro que não. O TDAH não é uma desculpa para a irresponsabilidade. É uma explicação para o comportamento, e um sinal de que a pessoa precisa aprender a assumir responsabilidades de maneira mais efetiva.

Mesmo os tratamentos mais perfeitos para o TDAH não produzem resultados perfeitos. Peça ao seu esposo TDAH para levar o lixo para fora. Ele concorda e passa pelo cesto de lixo distraído com uma nova idéia que o invadiu.

Você pede ao seu esposo que ele a elogie de vez em quando, porque acha difícil lembrá-lo de que você necessita da atenção dele. Sem jeito e envergonhado ele se desculpa e decide prestar mais e melhor atenção em você. Você sabe que ele realmente sente o que diz. Mas, ele cumpre o prometido? Não. Você pede ao seu esposo TDA para que pare de fazer compras por impulso no cartão de crédito. Novamente, algo constrangido, ele concorda. Ele não quer aumentar a dívida mais do que você. Mas, no dia seguinte, ele vê uma coisa à qual não resiste e, bingo!, um novo item foi acrescentado à conta.

O que você pode fazer? Esquecer? Divorciar-se dele? Bater na cabeça dele com um porrete?

Acabo de escrever um livro chamado "Dare to Forgive" (Tenha coragem de perdoar). Uma das afirmações que faço no livro é que o perdão não é licença para repetir o mesmo erro em seguida. Então, se você perdoa seu esposo - e eu espero que sim - você também deve estabelecer um plano para que o mesmo problema não apareça repetidamente. Se o plano não funcionar, reveja-o e tente novamente. Revisar planos é tudo o que é a vida.

Entenda que esses problemas não indicam uma desconsideração consciente de você ou da responsabilidade, mas  realmente uma desconsideração involuntária, intermitente, sobre todas as coisas. Essa é a natureza diabólica do TDAH. Tenha isso em mente (e as boas qualidades dele) quando você tiver vontade de estrangulá-lo. Enquanto ele quiser continuar a viver com você - e pode ser como um profissional, também - pode ser feito algum progresso. Vitória total? Cura completa? Não. Mas, progresso.

Conforme você notar que ele se esforça para ter um melhor comportamento, tenha compaixão. Construa o pensamento positivo e o faça crescer. Mantenha seu senso de humor. Fique em contato com outras pessoas que podem ajudar. E lembre-se de que sob a casca do TDA bate um coração e há uma mente cheia de calor, criatividade, jovialidade, e imprevisibilidade. Quase sempre há algo de bom que supera o ruim.

Até mesmo o suficiente para tornar um casamento feliz e uma vida agradável.

Este artigo foi publicado no número de abril/maio de 2004 de ADDitude

segunda-feira, 2 de julho de 2012

218- A Impulsividade do TDAH: Ajude as crianças a pensar antes de dizer ou fazer algo de que se arrependerão.



Pais de crianças com TDA/TDAH oferecem sugestões para ajudar seu filho a evitar e a controlar a fala e as atitudes impulsivas. Pelos Editores de ADDitude.

ADDitude perguntou: Como você controla a impulsividade do seu filho com TDAH para que ele não diga ou faça algo de que se arrependerá?
É um grande desafio, mas muitos de vocês tentarão conseguir isso com suas próprias estratégias inovadoras.

“Eu o encaro, olho nos olhos dele, ponho minhas mãos em seus ombros e converso com ele sobre as consequências de suas ações”. – Adrienne, Flórida

“Digo ao meu filho para que fique quieto por dois minutos e que respire fundo comigo. Esta pausa permite que ele reavalie a situação. Isto geralmente o acalma e permite que ele adote uma atitude diferente”. – Helen, Arizona

“Tenho uma conversa franca com meus filhos e explico que toda ação tem consequências, e que eles podem escolher as ações que levam a consequências positivas”. – Christine, Massachusetts

“Pedimos ao nosso filho que tente ouvir, em sua mente, o que ele quer falar alto. Se ele ficar inseguro sobre o que deveria dizer, ele não deve dizer. Também dizemos a ele que, se não for algo que ele diria ou faria na frente de Deus ou de sua avó, ele não deve dizer ou fazer”. – Karen, Wisconsin

“Eu ergo minha mão, como se fosse um sinal de pare. É um aviso para parar e pensar – para nós dois”. – Brenda, California

“Eu digo, ´Parem, parem já, olhem para mim e escutem. Falo deliberadamente, usando os seus nomes completos. Então, eles sabem que é importante”. – Cassie, Connecticut

“Meus filhos sabem que, quando eu assumo certa postura, é melhor que eles parem e reavaliem o que estão fazendo ou dizendo. Tenho de me lembrar de fazer isso a cada dia”. – Brandi, California

“Não controlo. Quem tem TDA/TDAH aprende com a dor que suas palavras ou ações provocam. Só demora mais tempo para que eles aprendam”. – Frank, California

“Geralmente digo ´Não faça isso!´ Mas se fizer, então ele perde um ou dois privilégios”. – Jodi, Texas

“Tento prever quais as situações que ela pode enfrentar e a previno. Se não for assim, geralmente não dá tempo de evitar”. – Cecilia, Minnesota

“Uso empatia. Digo ´Lembre como você se sentiu quando...´”. – Dee, Maine

“Cada vez que ele grita ou fica bravo comigo, eu lembro a ele, no auge da situação, que em uma ou duas horas ele vai se sentir mal por causa do que disse ou fez. Estou fazendo assim já há algum tempo e parece que está começando a funcionar”. – Tammy, British Columbia, Canada

“Às vezes, pergunto a ele ´Vale a pena?´ e isto faz a mágica”. – C., Kansas

“Se eu soubesse a resposta, eu a engarrafava e vendia – e faria uma fortuna!” – Debbie, New York

Este artigo apareceu no número de verão de 2011 de ADDitude.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

217- Ter menos idade ao entrar na escola aumenta a chance de ter o diagnóstico de TDAH - Continuação da 215 e 216


Resumo e considerações

Os resultados de três estudos independentes, que empregaram amostras grandes e representativas, indicam que as crianças que são mais jovens para o ano escolar são significativamente mais propensas do que suss colegas a serem diagnosticadas com TDAH e a serem tratadas com medicação estimulante. Com base em análise adicional conduzida em um desses estudos, o efeito relativo à idade é primariamente relacionado à percepção dos professores e não se estende a outras dificuldades de aprendizagem. Entretanto, esses dois últimos tópicos foram examinados em somente um dos três estudos, e, por isso, precisam ser replicados.

Por que ser mais jovem para o ano escolar aumenta as chances de uma criança ser diagnosticada com TDAH? Uma explicação plausível é que focalizar a atenção e controlar o comportamento são habilidades que se desenvolvem com o tempo. Na entrada para a escola, ser até 12 meses mais jovem que os colegas representa uma porção substancial da idade total de uma criança, e essas capacidades tiveram menos tempo para se desenvolver. Como resultado, crianças relativamente mais jovens serão em geral menos capazes do que suas colegas de classe para regular sua atenção e seu comportamento, e mais provavelmente serão identificadas pelos professores como portadoras de dificuldades nesses itens. Então, elas serão encaminhadas para avaliação e diagnóstico de TDAH em taxas mais elevadas.

É importante notar que nenhum dos pesquisadores sugeriu que seus dados originassem questões sobre a validade do TDAH como um transtorno “real”, com fundamentos neurobiológicos. Em minha opinião, usar esses achados para questionar a validade da condição seria altamente problemático.

Em vez disso, esses achados sugerem que muitas crianças que são jovens para o ano são diagnosticadas não porque têm o transtorno mas porque são do ponto de vista do desenvolvimento menos avançadas do que a maioria das suas colegas. Pelo mesmo motivo, crianças que são relativamente mais velhas para o ano escolar podem ser menos diagnosticadas porque sua desatenção e hiperatividade não parecem excessivas em relação às suas colegas mais jovens. Ambos os resultados são potencialmente perigosos e falam sobre as complexidades envolvidas em diagnosticar o TDAH, mas não sobre a validade do TDAH como um transtorno legítimo.

Os resultados desses estudos acentuam a importância das avaliações diagnósticas cuidadosas e acuradas. Esses estudos trazem uma contribuição importante para o campo por meio do aumento da consciência do risco de receber um diagnóstico de TDAH. Embora não haja nenhuma maneira fácil de corrigir este fator complicador, há vários passos a serem adotados que podem ser úteis.

Em primeiro lugar, os clínicos que avaliam crianças pequenas deveriam ser extremamente cuidadosos quando estas crianças também forem relativamente jovens para o ano escolar. Para crianças nascidas perto da data de corte para entrada na escola, consideração especial deve ser dada para a idade relativa, que pode ser um importante fator no comportamento escolar da criança.

Em segundo lugar, deve ser bom estreitar as faixas de idade usadas em muitas escalas de comportamento amplamente utilizadas. Os resultados desses estudos sugerem que há diferenças normativas significantes nos sintomas de desatenção e de hiperatividade entre as crianças nascidas durante meses diferentes do mesmo ano, para não citar de anos diferentes. O que é “normal” para uma criança de 6 anos e 1 mês difere do que é típico para uma criança de 6 anos e 11 meses de idade.

Entretanto, as escalas de comportamento geralmente têm categorias de idade que abarcam vários anos. Assim, em vez de comparar se os comportamentos de desatenção que um professor encontra em uma criança de 6 anos são excessivos em relação a outra criança de 6 anos, a nota da criança será determinada em relação ao “grupo normativo”, que inclui crianças que são vários anos mais velhas. Como resultado, crianças na ponta inferior da faixa de idade podem ser mais propensas a receberem notas altas na escala de sintomas do TDAH do que crianças na ponta superior da faixa de idade. Isto é muito diferente de como o QI padronizado e os testes de desempenho são construídos, nos quais as notas são calculadas em relação a grupos de idade que abrangem somente alguns meses.

Em terceiro lugar, esses achados evidenciam o valor dos esforços correntes para desenvolver medidas objetivas confiáveis do TDAH, que não sejam afetadas pelos efeitos relacionados à idade. Com foi discutido em um número anterior de Attention Research Update,  o Quantitative EEG (qEEG), pode ser muito útil nesse sentido – veja www.helpforadd.com/2008/november.htm

Finalmente, a associação entre idade relativa e risco de diagnóstico evidencia a importância de se reavaliar sistematicamente as crianças a cada ano. Conforme as crianças se desenvolvem, a importância da idade relativa sobre a capacidade de regular a atenção e o comportamento provavelmente diminui. Por exemplo, é de se esperar menor diferença na capacidade de manter a atenção entre adolescentes de 15 anos mais jovens e os de 15 anos mais velhos, quando comparados a crianças de 6 anos mais jovens e de 6 anos mais velhas. Assim, se uma criança foi diagnosticada incorretamente com TDAH porque ela era relativamente mais jovem no ano de entrada na escola, e portanto menos capaz do que seus colegas de controlar a atenção e o comportamento, as reavaliações anuais identificarão isto conforme a criança passar para os anos seguintes.

Eu (Dr. David Rabiner) o convido a aprender mais sobre este novo modo de abordagem, que tem obtido crescente suporte na pesquisa, ao visitar www.helpforadd.com/cogmed.htm  e solicitar o pacote de informações para profissionais. Creio que você encontrará a informação do seu interesse.

David Rabiner, Ph.D. – Associate Research Professor – Dept. of Psychology & Neuroscience – Duke University – Durham, NC 27708 - USA

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