Um achado
consistente nos estudos que identificam crianças em risco de resultados
negativos do desenvolvimento é que as dificuldades de relacionamento com os
colegas permitem prever vários problemas consequentes.
Infelizmente,
muitas crianças com TDAH têm dificuldade em seus relacionamentos com colegas e
em estabelecer e manter amizades de alta qualidade e apoiadoras. Isto é
problemático porque boas amizades ajudam em várias funções importantes para as
crianças, incluindo a existência de companheirismo, o surgimento de sentimentos
de valor pessoal, contribuindo para a segurança emocional, criando um contexto
de autoestima, oferecendo direção e apoio, e servindo como um aliado confiável.
Crianças cujos desenvolvimentos ocorrem na ausência de amizades apoiadoras não
têm esses apoios importantes e podem experimentar, como resultado, um grande
número de dificuldades de ajustamento.
Apesar da
importância documentada de amizades saudáveis para o desenvolvimento positivo
das crianças, e das dificuldades dos relacionamentos com colegas sentidas por
muitas crianças com TDAH, questões importantes sobre as características de
amizade em crianças com TDAH permanecem não respondidas. Assim, foi com prazer
que li um estudo recentemente publicado no “Journal of Attention Disorders”
[Marton et al., (2012). Características de amizade de crianças com TDAH.
Journal of Attention Disorders. DOI: 10.1177/1087054712458971] que fornece
informação nova sobre esse importante assunto.
Os
participantes foram 92 crianças de 9 a 12 anos, 50 com TDAH e 42 para
comparação, seus pais e seus professores. Sessenta e seis (66) dos
participantes eram meninos e vinte e seis (26) eram meninas; a porcentagem de
meninos e de meninas era semelhante entre o grupo TDAH e o grupo de comparação.
As crianças
foram entrevistadas individualmente e solicitadas a identificar todos os seus
“melhores amigos” na escola e fora dela, a indicar por quanto tempo mantinham
amizade com cada criança identificada, com que frequência falavam com cada uma
delas e com que frequência ficavam com cada uma fora da escola. Os pais e os
professores foram submetidos a uma série de perguntas paralelas; isso permitiu
que os pesquisadores verificassem se os “melhores amigos” identificados pelos
participantes eram confirmados por outra fonte. Os pais e professores também
foram questionados sobre a presença de dificuldades de aprendizagem e problemas
de comportamento nos amigos identificados por seus filhos e se essas
características poderiam ser comparadas entre as crianças com e sem o TDAH.
Resultados
Os achados mais importantes deste estudo são apresentados a
seguir.
- O número de “melhores amigos” reportados pelas crianças com
e sem TDAH não eram diferentes.
- O número de “melhores amigos” que eram corroborados pelos
pais ou professores era menor para crianças com TDAH do que para as crianças do
grupo de comparação. Em média, crianças com TDAH tinham 3 amigos confirmados,
comparados a 4 amigos para as crianças do grupo de comparação.
- Entre os meninos, os que tinham TDAH tinham porcentagem
substancialmente mais alta de amigos com problemas de comportamento e de
aprendizagem em relação às crianças do grupo de controle (43% versus 16%).
Nenhuma diferença foi encontrada entre as meninas.
- A duração
média da amizade dos amigos confirmados era significativamente mais curta para
as crianças com TDAH do que para as crianças do grupo controle – cerca de 10
meses a menos, com base nos relatos das crianças, e de 14 meses a menos, com
base nos relatos dos pais.
- Embora a
quantidade de contato telefônico com os melhores amigos fosse semelhante em
ambos os grupos, as crianças com TDAH tinham significativamente menos contato
direto com amigos fora da escola. Isto foi encontrado tanto no relato das
crianças quanto no relato dos pais.
Resumo e
implicações
Embora as
crianças com TDAH não relatassem menos amigos que as outras crianças, elas
podem ter superestimado seus amigos com base no fato de que seus pais e
professores confirmaram menor número de amizades. Entretanto, mesmo assim, é
positivo notar que elas tinham só um pouco menos de amigos em média do que as
outras crianças, e que quase todas tinham amigos confirmados. De fato, nesta
amostra, somente 3 das 50 crianças com TDAH não tinham nenhuma amizade.
Outros
aspectos destes dados também eram notáveis. Em primeiro lugar, entre os
meninos, uma porcentagem significativamente maior de amigos de crianças com
TDAH tinha problemas de aprendizagem e de comportamento, de acordo com os pais
e os professores. Isto não é necessariamente negativo, mas indica que meninos
com TDAH são mais propensos a ter amigos que estejam de algum modo com
dificuldades. Ter amigos com problemas significativos de comportamento pode
promover ou exacerbar comportamentos negativos entre os meninos com TDAH e as
crianças pode reforçar mutuamente essas tendências um no outro.
Também é
importante que as amizades entre crianças com TDAH fossem de duração mais curta
do que para as outras crianças em cerca de um ano. Para crianças dessa faixa de
idade, isto é substancial e pode refletir maior renovação de amizades nas
crianças com TDAH. É importante porque “... um ano a mais de amizades pode
contribuir para maior cordialidade, proximidade, companheirismo, e melhor
ajustamento escolar entre os amigos.” Este seria um assunto importante a ser
examinado mais cuidadosamente em pesquisas subsequentes. Também seria
interessante verificar se essa tendência em direção a amizades mais curtas em
crianças com TDAH também é encontrada entre os adolescentes.
Também foi
encontrado que as crianças com TDAH têm menos contato com seus amigos fora da
escola. Isto pode ocorrer por uma variedade de razões. Por causa do seu humor
desafiador, as crianças com TDAH podem requerer maior supervisão e assim serem menos
propensas a serem convidadas às casas dos amigos. Os pais podem estar mais
preocupados com o comportamento de seus filhos quando não podem monitorá-los,
e, assim, serem mais relutantes em permitir os encontros fora de casa.
Não
importando a razão deste achado, níveis menores de contato direto sugere que as
amizades entre crianças com TDAH podem fornecer menor companheirismo e menos
oportunidades de desenvolvera espécie de aproximação entre amigos que encoraja
autoafirmação e a criação de apoio emocional. Este é outro assunto a ser
verificado mais cuidadosamente em pesquisa subsequente.
É importante
notar que os achados discutidos acima refletem as diferenças encontradas em
média entre crianças com e sem TDAH e as conclusões não se aplicam a todas as
crianças com TDAH, muitas das quais podem atuar muito bem em seus
relacionamentos sociais. Com em todos os estudos, seria importante replicar
esses achados em nova amostra, para estabelecer melhor a confiabilidade desses
resultados.
Quando
crianças com TDAH estão tendo dificuldades em seus relacionamentos com os
colegas, é importante saber se há alguma abordagem promissora para ajuda-las.
Uma abordagem particularmente interessante envolve ter pais que assumam o papel
de tutores de amizade para seus filhos, o que se baseia na noção de que os pais
podem desempenhar um papel importante na criação de oportunidades sociais para
seus filhos, organizando dias de encontros para eles e treinando seus filhos
para que o encontro de brincadeiras corra bem.
Eu revisei
um estudo com esta abordagem em um número anterior de Attention Research Update
e o aconselho a vê-lo. Você pode encontrar o artigo em www.helpforadd.com/2010/november.htm
David Rabiner, Ph.D.
Research Professor
Dept. of Psychology & Neuroscience
Duke University
Durham, NC 27708
Research Professor
Dept. of Psychology & Neuroscience
Duke University
Durham, NC 27708