O TDAH é o
transtorno neurocomportamental mais comumente diagnosticado nas crianças e
evidências substanciais indicam que fatores biológicos têm papel importante em
seu desenvolvimento. Por exemplo, embora permaneça desconhecido o mecanismo
exato pelo qual os fatores genéticos promovem risco aumentado de TDAH, a
importância da transmissão genética foi documentada em vários estudos
publicados.
Embora os
fatores biológicos sejam amplamente considerados como importantes no
desenvolvimento do TDAH, nenhum teste médico ou biológico é recomendado para
uso de rotina no diagnóstico do TDAH. Em vez disso, como virtualmente todas as
doenças psiquiátricas, o TDAH é definido por uma constelação de sintomas
comportamentais que são geralmente relatados pelos pais ou professores de uma
criança. Ainda, em quase todos os casos, é a preocupação dos pais ou dos
professores sobre a capacidade de uma criança prestar atenção e de controlar
seu comportamento que leva a criança a ser avaliada para o TDAH em primeiro
lugar.
Embora
algumas crianças mostrem comportamento bastante desatento ou hiperativo e
impulsivo para serem diagnosticadas como TDAH na idade pré-escolar, geralmente
é somente após a criança entrar na escola que as preocupações relacionadas com
a atenção e a hiperatividade aparecem. Isto pode ser especialmente verdadeiro
para os sintomas de desatenção, conforme as exigências para a atenção
sustentada se tornam maiores quando a criança começa a ir à escola. Os
professores podem observar como a capacidade de uma criança controlar a atenção
e o comportamento se compara com toda a classe – algo que os pais tipicamente
não podem fazer – e seu julgamento pode, então, ser de particular influência em
como uma criança é avaliada para o TDAH e ser diagnosticada com o transtorno.
Vários
fatores podem contribuir para as diferenças na habilidade das crianças em
prestar atenção e a controlar seu comportamento quando começam a escola. Um
fator certamente é o TDAH, porque as crianças com o transtorno serão observadas
pelos professores como mais desatentas e/ou hiperativas. Outro fator – e que é
frequentemente esquecido – é a idade da criança em relação à idade dos seus
colegas de classe. Este é o assunto investigado nos estudos que estão resumidos
abaixo.
O sistema de
escolas públicas tem datas específicas em que uma criança precisa ter nascido
para começar o jardim de infância. Considere duas crianças em um sistema
escolar em que a data de corte seja 31 de dezembro.
José nasceu em 31 de
dezembro de 2007 e, assim seria admitido no jardim de infância no outono de
2012 (nos Estados Unidos). Comparado aos demais colegas de classe que nasceram
mais cedo, como 01 de janeiro de 2007, ele seria relativamente jovem. Na média,
de fato, José seria 6 meses mais jovem que seus colegas.
João nasceu
em 01 de janeiro de 2008 e não estaria, então, apto a entrar na escola no
outono. Em vez disso, ele teria de esperar até o outono de 2013, antes de
começar o jardim de infância. Assim, comparado à maioria de sua classe que
teriam nascido mais tarde, até 31 de dezembro de 2008, ele seria relativamente
mais velho; na média seria cerca de 6 meses mais velho.
Embora uma
diferença de idade de 6 meses dificilmente possa fazer uma diferença na
capacidade de prestar atenção, de responder e de controlar o comportamento
crianças mais velhas e adolescentes, essa quantia faz uma grande diferença em
crianças de 5 a 6 anos de idade. E, diferenças próximas de um ano, que podem
existir entre as crianças mais velhas e mais novas em uma classe, poderiam
estar associadas com grandes diferenças nestas dimensões (prestar atenção,
responder e controlar o comportamento). Isto sugere que crianças relativamente
jovens para o primeiro ano no início das aulas serão, na média, menos aptas
para controlar sua atenção e seu comportamento do que os seus colegas. Como
resultado, crianças jovens para o grau podem mais provavelmente serem vistas
pelos professores como tendo dificuldades, que serão relatadas aos pais. Em
muitos casos, isto pode levar os pais a fazer uma avaliação de seus filhos para
o TDAH e potencialmente aumentar a taxa de diagnóstico e de tratamento do TDAH
em crianças jovens para iniciar a escola. Há evidências de que este seja o
caso?
(Nota do
tradutor: nas próximas postagens veremos as respostas obtidas pelos estudos já
realizados – Dr. Menegucci)