Qual é o segredo de um casamento TDAH saudável? Pode ser
a maneira pela qual os casais se comunicam quando brigam - e com que rapidez
eles perdoam e seguem em frente. Por Melissa Orlov.
Todos os casais brigam. É parte do amor e do casamento.
Mas nem todos os casais sabem como seguir em frente depois de uma briga - e os
que sabem têm uma grande vantagem e uma
grande chance de felicidade duradoura.
O objetivo para todos os casais (especialmente os que têm
TDAH) não é parar de brigar - isso vai acontecer - mas aprender como ter uma
"briga boa".
O
que a ciência diz
O especialista em relacionamentos, John Gottman, Ph.D.,
autor de The Seven Principles for Making
Marriage Work (Os Sete Princípios Para Fazer o Casamento Funcionar), e seus
colaboradores, fez um conjunto de pesquisas sobre relacionamentos saudáveis.
Seu trabalho sugere que não é a frequência com que você briga que determina a
durabilidade do seu relacionamento. São as ações que você adota quando você
briga, e como você repara o dano depois, que prognosticam a estabilidade de um
relacionamento.
Infelizmente, os relacionamentos TDAH têm as condições
estabelecidas contra si mesmos. Por quê?
1- Casais atingidos pelo TDAH enfrentam mais altos e
baixos do que outros casais.
2- As pesquisas recentes feitas com gêmeos sugerem que
problemas da regulação emocional,
característica principal do déficit de atenção, são ligados
geneticamente. Casais TDAH regularmente têm respostas emocionais desproporcionais
em ocasiões inesperadas. Isso pode levar os parceiros, TDAH ou não TDAH, a se
sentirem como se tivessem de pisar em ovos.
3- O parceiro não TDAH geralmente cai no hábito de
criticar o parceiro TDAH, de estar sempre julgando, corrigindo e
"educando" o parceiro a ser organizado, a prestar mais atenção, e
coisas assim. O parceiro reclamante pensa que está fazendo uma base sólida para
o relacionamento. Não está. Na maior parte do tempo os TDAHs vêem a crítica e
as ordens como abuso verbal. Eles se sentem molestados e agredidos,como se ele
não pudesse fazer nada direito. Sua resposta é atitude defensiva e a raiva.
Discussões
versus "Brigas Boas"
Eu ouvi estas queixas de muitos portadores de TDAH ao
longo dos anos: "Estou fazendo o melhor que posso para ficar calmo quando
minha mulher, que não tem TDAH, fica pegando no meu pé sempre pelas mesmas coisas, todo o tempo. Mas
eu não consigo deixar de ficar bravo. Ela me provoca. Parece que brigamos o
tempo todo. Depois que começamos, ela também fica muito brava... essas brigas
estão me fazendo muito mal."
O marido parece precisar de um controle melhor dos
sintomas para ser mais confiável, e sua mulher precisa ser mais respeitosa e
simpática enquanto ele tenta atingir esse controle. Mesmo com essas mudanças, o
casal ainda brigará de vez em quando. Aprender a ter uma "briga boa"
- arejando discordâncias como parceiros iguais, em vez de atirar as diferenças
na cara um do outro, ajudará. Gottman sugere algumas idéias para tirar a raiva
das brigas:
1- Comece com uma queixa, não com uma crítica.
"estou preocupado porque o lixo não está sendo removido regularmente"
é uma queixa. "Você nunca remove o lixo como prometeu" é uma crítica.
Queixas funcionam melhor; elas são mais respeitosas e não põem o ouvinte na
defensiva tão rapidamente.
2- Comece de leve, ou por um tópico. Começos de leve
mostram respeito para com a outra pessoa, por não fazer pressuposições.
Geralmente incluem uma observação e focalizam em sentimentos. A seguir, um
exemplo de um começo de leve: "Eu realmente senti sua falta. Nós não
estamos ficando juntos o bastante nesses últimos dias". A versão ruim
disso seria: "Você nunca presta atenção em mim!"
3- Seja respeitoso. Não importa quão difícil seja o
assunto, ou quão bravo você esteja, seu parceiro sempre merece respeito. Não há
justificativa para gritos ou depreciações. Trate seu parceiro como você
gostaria de ser tratado.
4- Use palavras não ameaçadoras e não ameace seu
parceiro. Se você ficar afogado pelas emoções e sentir que não vai aguentar,
tente deixar seu parceiro sair da briga.
5- Use frases clarificadoras, tais como, "Se eu
entendi corretamente, nós dois pensamos..."
6- Fale com calma. Isso é difícil quando as coisas são
emocionais. Treinamento da prudência e respiração profunda ajudam.
7- Use ajudas verbais para atenuar suas interações. Em
minha casa, se um de nós fica muito emocionado - acontece com nós dois -
podemos usar uma ajuda verbal previamente combinada para sugerir que precisamos
fazer uma pausa. Retomamos a conversa mais tarde.
8- Olhe seu parceiro nos olhos. Isso serve a dois
propósitos: de comunicar eficazmente como você se sente e ssegurar que você tem
a atenção do seu parceiro.
9- Procure as concordâncias. Você terá mais chance de se
engajar construtivamente se focar nas similaridades e preocupações
compartilhadas. Redirecione uma briga sobre a hora de dormir com "Sei que
ambos estamos tentando achar o melhor equilíbrio entre sono suficiente e tempo
com as crianças...", pondo ambos na mesma equipe de resolução de
problemas.
10- Faça perguntas com o final aberto. As melhores brigas
são conversas nas quais você discorda. Não dê aula ao seu parceiro. Em vez
disso, convide-o para a conversa. "Você vê isso desse jeito?" ou
"O que você pensa?". Isso pode ajudar. Ouça a resposta do seu
parceiro.
11- Faça declarações afirmativas. Mesmo que você discorde
do seu parceiro, você ainda assegurará que as opiniões dele serão ouvidas.
"Entendo que você sente que eu deveria fazer mais tarefas, mas não estou
seguro que eu tenha tempo suficiente. Precisamos falar mais sobre isso" é
mais construtivo do que "Estou muito ocupado". Você pode não assumir
mais tarefas, mas demonstrou que ouviu a queixa do seu parceiro.
12- Aceite a legitimidade das emoções negativas. Em vez
de lutar contra emoções negativas, seja solidário ao seu parceiro. Isso é
importante se o seu parceiro está sentindo aflição. Você deve estar pronto para
seguir em frente, mas ajudará a cura do seu parceiro se responder com
"Sinto muito que tenhamos passado por tudo isso. Tem sido difícil".
Se essas estratégias parecem óbvias, pergunte a si mesmo
se você as está usando consistentemente. Provavelmente não. É necessário
pensamento e prática para usar declarações afirmativas e fazer perguntas com
final aberto quando estiver bravo. Não são somente as palavras, são as emoções
envolvidas que contam.
Segure
a inundação
Um cônjuge não TDAH me confidenciou: "É difícil para
mim sair de perto durante uma briga. Sinto-me ignorada, como se ele não
estivesse escutando. Quando ele fica bravo, pode ficar explosivo e fora de
controle. Às vezes, quando tento sair de perto, ele está em tal grau de raiva
que vai atrás. Quando saio de perto, ele espera que eu esqueça e não discuta o
problema".
A raiva do marido é chamada de "flooding"
(inundação). É uma resposta fisiológica ao sentimento de que você está em
perigo ou com outra emoção extrema. As partes do cérebro necessárias para
brigar se inundam de sangue e de oxigênio para um melhor desempenho.
Infelizmente, eles são retirados de partes do cérebro que lidam com o
pensamento lógico. Quando você está "inundado", você pode sentir que
não deveria estar brigando, mas não consegue que as partes lógicas do cérebro o
impeçam. Por essa razão, brigas sob "inundação" podem ameaçar um
casamento ou um relacionamento. A melhor maneira de lidar com a
"inundação" é concordar em ter uma muleta verbal para interromper a
conversa antes que ela vá mais longe.
A
importância da tranquilização
As pesquisas sugerem que saber como se recuperar de uma
briga é uma habilidade crítica. Uma pessoa oferece uma dica para fazer as pazes,
tal como um pedido de desculpas, enquanto a outra fica aberta a essa dica. Um
parceiro deve aceitar de coração um pedido de desculpas do seu companheiro, em
vez de erguer um muo e se recusar a aceitar as desculpas.
É difícil prever quais comportamentos de reparação
funcionarão pra quais duplas. Humor em momento de estresse pode aumentar os
problemas para alguns e pode aliviar as piores ofensas, para outros.
Uma vez, enquanto meu marido e eu estávamos brigando
porque eu me choquei com o carro dele acidentalmente, ele tentou fazer as pazes
me entregando um buquê de flores murchas tiradas do porta-malas, onde ele as
havia esquecido. O gesto me desconcertou e terminou com a briga.
Flores mortas podem não funcionar para acalmar seu
parceiro, mas eis aqui alguns ramos de oliveira que você pode oferecer:
1- Faça um pedido de desculpa.
2- Fale sobre reconsiderar o ponto de vista dele
("Eu não tinha pensado nisso desse modo").
3- Lembre seu parceiro de que vocês estão no mesmo time:
"Se nós concordamos que é importante ir dormir às 10 horas, o que poderá
nos ajudar a fazer isso?"
4- Demonstre apreço: "Amei quando você aceitou
começar a fazer exercícios".
5- Generalize a conversa para encontrar pontos de vista
em comum ("Podemos discordar nos detalhes, mas ao menos, finalmente,
concordamos que as calhas precisam de conserto neste ano!")
Concorde
em discordar
Além de tudo o que já foi dito, você precisa concordar em
discordar. A pesquisa longitudinal feita com casais demonstrou que cerca de 70 por
cento do que o casal discutia 10 anos atrás ainda está sendo discutido 10 anos
mais tarde. Se 70 por cento das discordâncias não têm solução, faz sentido
saber negociar uma trégua. Isso é chamado de "work around"
(contornar).
Você não está sugerindo que seu parceiro resolva o problema.
Em vez disso, você reconhece que a coisa sobre a qual vocês têm brigado não tem
solução, e é do seu maior interesse lidar com ela de modo construtivo. Isso põe
você de volta no mesmo time de amantes.
ADDitude