Por
que os estudantes universitários utilizam ilegalmente medicações
para o TDAH?
O
uso de medicação para o TDAH sem uma receita médica, isto é, o
uso ilegal, é um grande e, talvez, crescente problema nos campos
universitários dos Estados Unidos. A porcentagem de estudantes que
fazem uso ilegal de medicações para o TDAH varia muito entre as
faculdades, mas taxas de 30% foram encontradas em alguns campi.
Além
dos riscos à saúde para os estudantes que fazem uso ilegal, esse
comportamento também cria problemas para os estudantes com receita
médica. Eles são frequentemente abordados pra vender ou
compartilhar seu medicamento, o que é ilegal. Se eles fazem isso,
acabam não usando as doses de que necessitam. As preocupações com
esse desvio contribuem para que alguns centros universitários de
saúde e de aconselhamento estejam decidindo não mais proporcionar
serviços de avaliação ou tratamento para o TDAH, tornando mais
difícil para os estudantes obter a ajuda de que necessitam.
Mitos
sobre o uso não médico dos medicamentos para TDAH
A
mídia fala frequentemente de estudantes universitários fazendo uso
ilegal de medicação para o TDAH. Geralmente isso é descrito como
parte de um estilo de vida universitário do tipo “trabalhe duro,
jogue duro”, implicando em que isso seja um comportamento típico
ou obrigatório entre os universitários.
Isso
não é verdade. Pesquisas anteriores, incluindo um trabalho meu,
mostraram que os estudantes que usam ilegalmente medicações para o
TDAH são diferentes dos que não usam em importantes aspectos.
Especificamente, eles têm nota média de avaliação acadêmica
(GPA) mais baixa, são mais preocupados com seu rendimento acadêmico,
consomem mais álcool, têm mais probabilidade de se envolver em uso
de drogas ilícitas, mais probabilidade de fumar, e relatam mais
sintomas de depressão e de ansiedade. Assim, como um grupo, eles
estão tendo dificuldades em uma variedade de áreas. Para uma
revisão desse assunto, veja www.helpforadd.com/2013/march.htm
Problemas
de atenção e o uso não médico
Um
achado particularmente interessante é o de que os usuários ilegais
também relatam taxas significativamente mais elevadas de problemas
de atenção. Em meu próprio trabalho, veja
www.helpforadd.com/2007/december.htm
, problemas de atenção relatados espontaneamente eram não somente
mais elevados nos universitários que não faziam uso
ilegal, mas, também, indicavam quem seria um usuário ilegal nos
primeiros dois anos de faculdade. Os relatos espontâneos de maiores
problemas de atenção pelos estudantes que usavam medicação para o
TDAH ilegalmente foram,
atualmente, replicados em vários estudos, sugerindo que, ao que
parece, alguns estudantes estão tentando “tratar” as
dificuldades de atenção que eles percebem que boicotam seu sucesso
acadêmico.
Uma limitação importante
desses estudos é que eles se baseiam em dificuldades de atenção
relatadas espontaneamente e que não incluem nenhuma avaliação
objetiva. Como resultado, não sabemos se os estudantes que fazem uso
ilegal de medicações para o TDAH realmente têm dificuldade de
atenção em relação aos seus colegas, ou se eles apenas pensam que
têm.
Esse
problema foi resolvido em recente estudo publicado, intitulado
“Attention, motivation, and study habits in users of unprescripted
ADHD medication” [Illieva and Farah (2015). Journal
of Attention Disorders, DOI:
10.1177/1087054715591849]. Os participantes foram 128 universitários,
61 dos quais relataram uso ilegal anterior de medicação para TDAH e
67 que não usaram. Esses universitários foram comparados quanto às
dificuldades de atenção relatadas espontaneamente, assim como
quanto
às medidas computadorizadas de um teste de atenção chamado TOVA
(Test of Vigilant Attention).
Além de verificar como esses
grupos se comparavam nessas variáveis importantes, os pesquisadores
também examinaram se eles diferiam na qualidade dos hábitos de
estudo e em sua motivação para se engajar nas tarefas cognitivas,
duas características adicionais que podem contribuir para o uso
ilegal entre os universitários que procuram aumentar seu desempenho
acadêmico.
Para replicar os achados de
outros estudos anteriores, os participantes também foram solicitados
a relatar seu nível de uso de drogas e sintomas de depressão e
ansiedade.
Resultados
Problemas
de atenção relatados espontaneamente – De modo consistente com
trabalho anterior, universitários que tinham usado medicação para
o TDAH ilegalmente relataram taxas significativamente mais altas de
ansiedade e de depressão. Entre os usuários
ilegais, quanto maior a
dificuldade de atenção relatada, mais frequente era o uso.
Problemas de atenção medidos
objetivamente – Como notado acima, um teste computadorizado chamado
TOVA, foi usado para obter uma medida objetiva da atenção. Os
usuários ilegais tiveram as medidas de atenção, por esse método,
significativamente mais fracas do que os não usuários, embora a
diferença não tenha sido tão grande quanto à atenção relatada
espontaneamente.
Motivação para tarefas
cognitivas – A motivação para se engajar em tarefas cognitivas
foi medida com os participantes relatando seu nível de aborrecimento
e de motivação durante o TOVA; esse teste é uma tarefa repetitiva
de 22 minutos, que certamente pode ser sentida como aborrecedora e
monótona. Os usuários ilegais relataram níveis significativamente
mais baixos de motivação durante a tarefa e também a sentiram como
mais aborrecida.
Hábitos de estudo – A
medida dos hábitos de estudo avaliou práticas conhecidas como
relacionadas a um desempenho acadêmico melhor, por exemplo, o uso de
auto-teste para avaliar a compreensão da matéria, o aprendizado da
matéria ao longo do tempo, em vez de decoração, a frequência
regular às aulas e o tempo gasto para estudar, etc. Os usuários
ilegais relataram hábitos de estudos mais fracos que os dos outros
estudantes. E, entre os usuários ilegais, quanto mais fracos os
hábitos de estudo, mais frequentemente eles tinha usado medicações
para o TDAH no ano anterior.
Uso de drogas, depressão, e
ansiedade – Consistente com trabalho anterior, os usuários ilegais
relataram níveis mais altos de uso de drogas, assim como mais
sintomas de depressão e de ansiedade.
Resumo e implicações
Os resultados desse estudo
evidenciam que o uso ilegal de medicações para o TDAH pelos
estudantes universitários não deve ser tido como um comportamento
típico de estudantes universitários e parte do estilo de vida
“trabalhe duro, jogue duro” que caracteriza muitos estudantes.
Com
base em trabalho anterior, os usuários ilegais foram descobertos não
somente como tendo mais dificuldades relatadas espontaneamente com a
atenção, mas também mostraram atenção mais fraca em avaliação
objetiva. Também relataram maior aborrecimento durante tarefa
cognitiva repetitiva e menor motivação para fazê-la. E eram menos
propensos a empregar hábitos de estudo associados ao sucesso
acadêmico. Como foi visto várias vezes, eles também eram mais
propensos a abusar do álcool e de outras drogas, e relataram mais
sintomas de ansiedade e de depressão. Assim, em vez de serem
“estudantes típicos”, eles estavam provavelmente tendo muito
mais dificuldades que seus colegas, por várias maneiras.
Os resultados desse estudo
sugere que alguns estudantes procuram o uso ilegal de medicação
para corrigir dificuldades de atenção, para aumentar sua motivação
para se engajar no trabalho acadêmico e, talvez, para compensar os
fracos hábitos de estudo. Infelizmente, embora os estudantes possam
perceber que o uso de medicação para o TDAH desse jeito os ajude,
não há nenhuma evidência que isso seja verdadeiro. De modo claro,
seria de longe preferível que esses estudantes procurassem
assistência profissional para suas dificuldades, que podem ou não
ter algo a ver com o TDAH.
Embora
não tenha sido especificamente um foco desse estudo, é importante
enfatizar que o uso recreativo disseminado de medicação para o TDAH
nos campi universitários põe
em risco os estudantes com receitas legítimas. Eles estão em risco
por serem abordados para desviar sua medicação para uso ilegal. Ao
fazer isso, falharão doses que seriam necessárias. Não fazer isso
significa desagradar um amigo que esteja pedindo ajuda, o que pode
ser difícil.
Pais e médicos devem se
assegurar de que jovem com receita para TDAH esteja ciente de que
será abordado dessa maneira e que entenda que os problemas
associados com o desvio da medicação. Não é suficiente dizer a
eles para que não façam isso. O jovem deve ser instruído a manejar
essas situações de modo que ele se sinta mais confortável e capaz
de lidar corretamente com elas por si mesmo. As escolas deveriam
também ser mais vigilantes e desenvolver e pôr em prática
políticas relacionadas ao desvio de medicamentos receitados em seus
campi.
David Rabiner, Ph.D.