Quando a maioria das crianças faz uma tarefa, são ativadas várias conexões cerebrais, e exames de imagem mostraram que essa ativação neuronal é menor nas crianças com autismo.
Essa menor flexibilidade geralmente provoca dificuldades quando as crianças com autismo enfrentam situações novas. Saber como o cérebro responde de forma diferente nesses casos poderia fazer com que as transições fossem mais fáceis para essas crianças. Em um novo estudo, os investigadores realizaram ressonâncias magnéticas em 34 crianças com autismo e em 34 crianças com desenvolvimento normal enquanto descansavam e enquanto realizavam uma tarefa: resolver problemas de matemática ou distinguir umas faces de outras. A ideia era incluir tarefas que resultariam difíceis de forma significativa para as crianças autistas junto com outras que não. As crianças com autismo se desenvolveram igual às demais crianças nas tarefas. Não obstante, em uma série de conexões cerebrais que se sabe serem importantes para a mudança de uma tarefa para outra, as crianças com autismo mostraram uma 'flexibilidade' cerebral menor que a das crianças que se desenvolviam com normalidade. Os investigadores também encontraram uma conexão entre a gravidade das condutas restritivas ou repetitivas e o grau de inflexibilidade. Para os autores, esses achados poderiam ajudar a elaborar novas terapias dirigidas a favorecer a flexibilidade cerebral mediante estratégias, ferramentas e jogos que melhorem a mudança de uma tarefa para outra. | |
[ Cereb Cortex 2014] Uddin LQ, Supekar K, Lynch CJ, Cheng KM, Odriozola P, Barth ME, et al. |
Blog destinado à divulgação dos diversos aspectos do TDAH e do que mais eu quiser. As opiniões são de responsabilidade dos autores e podem não ser compartilhadas por mim (Dr. Menegucci).. Todo mundo é gênio. Mas, se você julgar um peixe pela sua habilidade de subir numa árvore, ele vai passar a vida toda pensando que é burro..
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
365 - As interconexões cerebrais das crianças com autismo apresentam menos flexibilidade
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
364- O TDAH não é uma Dificuldade de Aprendizagem?
Uma nova maneira de avaliar o
processamento neural de crianças com TDAH revela que, ao contrario do
convencional, o transtorno não representa necessariamente um prejuízo do
aprendizado, tanto quanto um prejuízo da tomada de decisões.
"Indivíduos com TDAH não devem ser
caracterizados por um prejuízo do aprendizado per se, em contraste do que foi
sugerido por modelos teóricos", escreveram os autores, liderados por
Tobias U, Hauser, PhD., da University College London´s Wellcome Trust Centre
for Neuroimaging.
"Na verdade, eles têm um processo de
decisão menos preciso e avaliam mais vezes".
O estudo foi publicado online no dia 20 de
agosto no JAMA Psychiatry.
Nova
abordagem por imagem
O TDAH, afirmam os autores, tem sido ligado
a fraca tomada de decisões e dificuldade de aprendizado. Modelos de TDAH sugerem
que esses déficits "podem ser causados por deficiência no reconhecimento
de 'erros na previsão de recompensa' (RPEs), que são sinais que indicam
violação de expectativas, e sabidamente codificados pelo sistema
dopaminérgico".
Entretanto, os investigadores afirmam que
"o déficit preciso de aprendizado e de tomada de decisões, e seu
correspondente neurobiológico no TDAH, não é bem conhecido".
Para o estudo, 20 adolescentes, com idade
de 12 a 16 anos, com TDAH, e 20 indivíduos sadios, de controle, foram
submetidos a testes psiquiátricos durante a realização simultânea de
ressonância magnética funcional (fRMI) e eletroencefalograma (EEG).
A combinação das duas modalidades permite
uma avaliação que supera as fraquezas de cada método, segundo Dr. Hauser.
A ressonância magnética funcional (fRMI),
por exemplo, tem uma resolução temporal muito fraca, enquanto o EEG tem uma
falta de resolução espacial. A combinação dos dois permite não somente
localizar as deficiências mas, também, nos mostra em que instante a deficiência
acontece. Isso nos informa se ela ocorre no início ou no final do
"processo de pensamento".
Nos testes, os investigadores usaram uma
nova comparação de dois modelos de computação psiquiátrica - um modelo
Rescorla-Wagner avançado, que se mostra bem sucedido em demonstrar o
aprendizado de um participante em tarefas de aprendizado com reversão
probabilística, e um modelo de aprendizado Bayesiano mais flexível, que comanda
um processo de aprendizado mais refinado.
É o primeiro estudo que utiliza esses
modelos computacionais para entender as deficiências de tomada de decisão em
combinação com imagem multimodal, segundo Dr. Hauser.
Por meio dessa abordagem, é possível
entender os mecanismos por trás das dificuldades na tomada de decisões e seus
correlatos neurais, no TDAH.
Os desafios enfrentados pelos
participantes, enquanto eram submetidos às técnicas simultâneas de
neuro-imagem, geralmente envolviam o aprendizado, por tentativa e erro, de qual
de duas imagens resultava em melhor recompensa de dinheiro, com o objetivo de
ganhar a maior quantidade de dinheiro possível. As probabilidades de recompensa
eram mudadas ocasionalmente, requerendo que os participantes a elas se
adaptassem.
Implicações
clínicas ?
Os resultados não mostraram nenhuma
diferença significativa entre os grupos quanto aos tempo médios de reação, à
variabilidade do tempo de reação e ao número de erros. Entretanto, os
participantes com TDAH ganharam menos dinheiro (P = 0,08).
Adolescentes com TDAH mostraram
aprendizado mais simplista e também tiveram aumento do comportamento
exploratório, quando comparados aos participantes sadios (P = 0,02).
Por sua vez, a ressonância magnética
funcional mostrou deficiência no processamento dos RPEs, ou sinais que sugerem
violações das expectativas, que foram ligadas ao TDAH em modelos prévios da
condição. Deficiências de RPEs foram observadas no córtex pré-frontal medial -
uma área largamente associada com a tomada de decisões - durante o estímulo
assim como na apresentação do resultado.
Embora pesquisa anterior também tenha
implicado o córtex pré-frontal no TDAH, a imagem mostrou o momento preciso do
impacto, que ocorreu em um estágio inicial, aproximadamente meio segundo depois
do feedback.
Não é somente a deficiência dos RPEs do
córtex pré-frontal medial uma causa possível da seleção de escolhas sub-ótimas,
refletidas no comportamento mais exploratório, mas a imagem também ajudou a
apontar quais áreas do córtex pré-frontal medial são afetadas.
"As regiões do córtex pré-frontal
medial que foram descobertas como deficientes são adjacentes às regiões
principais sabidamente responsáveis pelo processamento dos RPEs",
escreveram os autores.
"Isso sugere que indivíduos com TDAH
podem não processar os RPEs de modo diferente nas regiões principais. Em vez
disso, parece que os RPEs são processados em áreas menos extensas".
Considerando o comportamento, os achados
oferecem uma possível explicação para os desafios de tomada de decisões e as
potenciais estratégias para superá-los, disse o Dr. Hauser.
"Adolescentes com TDAH possivelmente
tomam decisões mais fracas e mais impulsivas quando têm um tempo limitado para
decidir, ou se estão sob a pressão de outros adolescentes", ele explicou.
"Essa fraqueza poderia ser superada
se as pessoas com TDAH pudessem aprender a refletir profundamente sobre os
ganhos potenciais e os custos de suas decisões".
Achados
intrigantes
O estudo é importante ao somar para o
entendimento dos mecanismos subjacentes ao TDAH, o que é importante para o
desenvolvimento de intervenções para ajudar a combater e compensar os déficits,
disse Cathryn A. Galanter. MD., diretora do programa psiquiátrico de
treinamento de adolescentes no SUNY Downstate/Kings County Hospital Center, no
Brooklyn, em Nova Iorque.
"Esses achados são intrigantes e
precisam de replicação", ela disse ao Medscape Medical News.
"Embora seja muito cedo para tirar
implicações clínicas desses resultados, eles contribuem muito para a evidência
neurocientífica do que vemos clinicamente: que crianças com TDAH podem ter estilos
diferentes de aprendizagem e, assim, podem se beneficiar de diferentes
abordagens para ajudá-las a aprender".
"São necessários mais estudos para
nos ajudar a entender os processo subjacentes do aprendizado e da tomada de
decisões das crianças com TDAH, disse Dra. Galanter.
JAMA Psychiatry. Published online August
20, 2014.
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
363- Exercícios diários antes da escola diminuem os sintomas do TDAH
Crianças com TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade)
podem se beneficiar da prática diária de exercícios antes da escola.
Isto foi
mostrado por um estudo conduzido por pesquisadores americanos, publicado no
"Journal of Abnormal Child Psychology". Os exercícios ajudaram a
diminuir os sintomas do TDAH na sala de aula e em casa.
No seu estudo, cientistas da Universidade Estadual de Michigan (East
Landing) e da Universidade de Vermont (Burlington) incluíram 200 crianças do
ensino fundamental entre o jardim de infância e a segunda série. Uma parte
apresentava sintomas de TDAH e a outra não. Os sujeitos do estudo foram
randomizados para dois grupos que participavam diariamente de exercícios
físicos moderados a vigorosos antes da escola ou de atividades de sala
totalmente sedentárias.
Após doze semanas, todos os participantes do estudo demonstraram melhora
na atenção, menos variações de humor e melhor comportamento social. Contudo, as
crianças com sintomas de TDAH se beneficiaram mais dos exercícios físicos do
que das atividades sedentárias, disse o autor do estudo Alan Smith, da
Universidade Estadual de Michigan.
"Apesar do número de perguntas ainda sem resposta, a atividade
física parece ser um método promissor de intervenção para TDAH com benefícios
bem conhecidos para a saúde geral", disse Smith. Este é outro motivo para
as escolas incorporarem atividades físicas diárias no dia escolar.
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
362- O Mito da Aprendizagem: Por que eu nunca digo ao meu filho que ele é esperto
O Mito da Aprendizagem: Por que eu nunca digo ao meu filho
que ele é esperto. Por Salman Khan
Meu filho de cinco anos começou a aprender a ler. Toda
noite, nos sentamos em sua cama e ele lê para mim um pequeno livro.
Inevitavelmente, ele topa com uma palavra difícil: na noite passada a palavra
foi "gratefully" [reconhecidamente]. Ele acabou por conseguir
pronunciá-la depois de um sofrido minuto. Então ele disse, "Pai, você não
fica contente com o esforço que eu fiz com essa palavra? Acho que eu podia sentir
o meu cérebro crescendo". Eu sorri. Meu filho agora está verbalizando os
assim chamados sinais de uma "mentalidade do crescimento". Mas isso
não foi por acidente. Recentemente, pus em prática pesquisa que andei
analisando nos últimos anos: decidi elogiar meu filho não quando ele se saía
bem em coisas nas quais ele já era bom, mas quando ele insistia na coisas em
que tinha dificuldades. Reforcei para ele a ideia de que por meio do esforço
seu cérebro cresce. Em meio à grande quantidade de pesquisas sobre o assunto
"mentalidade de aprendizagem" e essa experiência pessoal com meu
filho, estou mais convencido do que nunca que a mentalidade dirigida ao
aprendizado pode ser mais importante do que qualquer coisa que nós ensinamos.
Os pesquisadores sabem há algum tempo que o cérebro é como um
músculo, que quanto mais você usa, mais ele cresce. Eles descobriram que as
conexões neurais se formam e se aprofundam mais quando cometemos erros fazendo
coisas difíceis do que quando temos sucesso fazendo coisas fáceis.
O que isso significa é que nossa inteligência não é fixa, e
que a melhor maneira pela qual podemos aumentar nossa inteligência é assumir
tarefas nas quais podemos encontrar dificuldades e falhar.
Entretanto, nem todo mundo tem consciência disso. Dr. Carol
Dweck, da Stanford University, estuda há décadas o pensamento ligado ao
aprendizado das pessoas. Ela descobriu que muitas pessoas aderem a um de dois
pensamentos: fixado ou crescimento. O pensamento fixado acredita erroneamente
que as pessoas ou são espertas ou não são, que a inteligência está determinada,
fixada pelos genes. Pessoas com o pensamento do crescimento acreditam
corretamente que a capacidade e a inteligência podem ser aumentadas pelo
esforço, pela luta e pelo fracasso. Dweck descobriu que os que têm o pensamento
fixado tendem a focalizar seu esforço em tarefas nas quais eles têm uma grande
chance de sucesso e evitam tarefas nas quais eles têm de lutar, o que limita
seu aprendizado. Pessoas com o pensamento do crescimento, entretanto, aceitam
os desafios, e entendem que a tenacidade e o esforço podem mudar o resultado do
seu aprendizado. Como você pode imaginar, isso está correlacionado com o último
grupo estar mais ativamente se exigindo e crescendo intelectualmente.
A boa notícia é que mentalidades podem ser ensinadas; elas
são maleáveis. O que realmente é fascinante é que Dweck e outros desenvolveram
técnicas a que eles denominam "intervenções com mentalidade de
crescimento", que mostraram que mesmo pequenas mudanças na comunicação ou
comentários aparentemente inócuos podem ter muitas implicações de longa duração
para a mentalidade de uma pessoa. Por exemplo, elogiar o método de alguém ("Eu
gosto realmente do modo com que você enfrenta esse problema") em vez de
elogiar um talento ou habilidade inata ("Você é tão esperto!") é uma
maneira de reforçar a mentalidade do crescimento com alguém. O elogio do método
reconhece o esforço; o elogio do talento reforça a noção de que alguém só é bem
sucedido (ou não) com base em um traço fixo. E nós temos visto isso também na
Khan Academy: estudantes estão gastando mais tempo aprendendo na Khan Academy
depois de expostos a mensagens que elogiam sua tenacidade e determinação, e que
enfatizam que o cérebro é como um músculo.
A Internet é um sonho para os que têm a mentalidade do
crescimento. Entre Khan Academy, MOOCs, e outros, há um acesso sem precedentes
a um conteúdo sem fim para ajudar você a aumentar sua mente. Entretanto, a
sociedade não estará levando vantagem disso sem que a mentalidade do
crescimento seja mais prevalente. E se nós ativamente tentarmos mudar isso? E
se começarmos a usar seja qual for o meio à nossa disposição para começar a
usar intervenções com mentalidade do crescimento com todos de quem cuidamos?
Isso é muito maior do que a Khan Academy ou a álgebra - isso se aplica a como
você se comunica com suas crianças, como você dirige sua equipe no trabalho,
como você aprende uma nova língua ou instrumento. Se a sociedade como um todo
começar a aceitar a luta pelo aprendizado, não haverá um fim para o que pode
ser o potencial humano global.
E agora uma surpresa para você. Lendo esse artigo, você já
completou a primeira metade de uma intervenção com a mentalidade do
crescimento. A pesquisa mostra que já ao ser exposto à pesquisa em si mesma
(por exemplo, saber que o cérebro cresce principalmente por errar as questões,
não acertar) pode começar a mudança na mentalidade de uma pessoa. A segunda
metade da intervenção é para você mostrar a pesquisa para outras pessoas.
Fizemos um vídeo que comemora a luta do aprendizado, que o ajudará a fazer
isso. Finalmente, quando meu filho, ou por causa disso, mais alguém me
perguntar sobre aprendizagem, eu somente quero que eles saibam uma coisa.
Conforme eles aceitem a luta e os erros, eles podem aprender tudo.
361- TDAH e abuso de drogas
Segundo uma recente pesquisa nos Estados Unidos, os
jovens com TDAH têm mais do que o dobro de probabilidades de experimentar e
abusar de drogas.
Ainda que os estimulantes (anfetaminas, metilfenidato) usados
para o tratamento do TDAH possam ser viciantes, não há evidências de que
tomá-los aumente o risco de abuso de substâncias.
Os autores advertem que esses
estimulantes podem ser usados de forma indevida, e que 23% dos jovens
americanos em idade escolar tentam vender, comprar ou trocar medicamentos para
o TDAH.
Os medicamentos que se usam para tratar o TDAH apresentam um potencial
de abuso, ainda que a grande maioria dos jovens com TDAH não chegam a ter
problema de abuso de substâncias.
O estudo conclui que são necessárias mais investigações
para averiguar por que alguns jovens são mais susceptíveis que outros. É
possível que a mesma biologia que provoca o TDAH também ponha alguns dos jovens
em risco mais alto de abusar de substâncias.
Outros fatores sociais poderiam
contribuir também para o aumento do risco; por exemplo, alguns desses jovens
costumam ter maiores dificuldades na escola e sentem mais ansiedade por esse
motivo.
Pediatrics, 2014 -
Harstad E., Levy S. - Committee on Substance Abuse
360- Excesso de TV ou de computador pode causar TDAH?
Pergunta
feita por stef241116 a Parents of ADHD
Children (ADDitude)
[Estou lendo
um livro sobre TDAH, escrito por um psiquiatra, e, embora concorde com a
maioria da informação contida nesse livro, discordo fortemente de uma
declaração dele, que diz "novos estudos têm revelado que a excessiva
exposição à TV ou ao computador pode predispor uma criança ao TDAH". O excesso de TV ou de computador pode causar o TDAH?]
Resposta:
Eis aqui o porquê.
Sabemos qual é a explicação médica para o TDAH: uma falta de dopamina no cérebro, assim
como outras falhas na função cerebral.
Também sabemos que ele é MUITO genético.
São fatos médicos, não "novas teorias".
Se uma
criança SEM TDAH assiste muito à TV, posso entender por que sua capacidade de
prestar atenção pode diminuir e por que ele quer estimulação/satisfação
imediata, resultando em perda do foco para as coisas mundanas.
Entretanto, se
você tirar a TV da vida dessa criança, como se você estivesse tirando o açúcar
de alguém viciado nele, a criança voltará ao normal depois de algum tempo,
porque o vício foi resolvido.
Faça isso a
uma criança com TDAH e adivinhe o que acontecerá?
O cérebro dela ainda é TDAH.
Por quê? Porque é uma condição médica congênita.
Os efeitos da exposição
excessiva à TV, ou ao computador, são hábitos e comportamentos aprendidos.
Grande diferença.
Concorda ou discorda?
ADDitude
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
359- Gestação, Antidepressivos, Autismo e TDAH
Estudo coloca em dúvida a afirmação de que o risco de autismo esteja
ligado a antidepressivos tomados durante a gestação
Um estudo dos EUA questiona análises anteriores que associam um risco
aumentado de autismo ao uso de antidepressivos durante a gestação. Segundo os
resultados publicados no “Molecular Psychiatry”, estes estudos foram meramente
capazes de refletir o risco aumentado de autismo relacionado somente à
depressão materna. Contudo, a maior probabilidade de transtorno do déficit de
atenção com hiperatividade (TDAH) foi confirmada.
Pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts (Boston) compararam
dados coletados entre 1997 e 2010, de 1.400 crianças com transtornos globais do
desenvolvimento, incluindo autismo, com 4.000 crianças saudáveis e fizeram
uma correlação com informações sobre suas mães. O mesmo foi feito para 2.250
crianças com TDAH e 5.600 controles pareados.
À primeira vista, a associação entre a exposição pré-natal a
antidepressivos e autismo foi confirmada. Contudo, após ajustar para fatores
direcionados para depressão grave, a associação deixou de ser significativa. Medicamentos
direcionados para a via da serotonina (tanto antidepressivos quanto outros
medicamentos) não estavam ligados a um risco aumentado de autismo; enquanto,
aparentemente, medicamentos antipsicóticos pareceram aumentar o risco. A
probabilidade de TDAH foi reduzida quando o foco foi direcionado para a
gravidade da depressão materna, mas permaneceu significativa.
Existem numerosas opções para tratar a depressão e ansiedade durante a
gravidez, diz o autor sênior Roy Perlis. “Mas se for preciso usar antidepressivos,
espero que as mães possam se sentir confiantes quanto à sua segurança.”
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
358- Os jovens com TDAH têm conexões cerebrais interrompidas
Notícia Publicada na Revista
de Neurologia, de Barcelona, Espanha,
em 27/08/2014, revela que um novo estudo [Li F., He N., Li Y., Chen L., Huang
X., Lui S., et al - Radiology, 2014] mostrou, por meio de imagens de
ressonância magnética funcional (RMf), em estado de repouso, que crianças e
adolescentes com TDAH têm conexões interrompidas entre diferentes áreas do
cérebro.
Para o novo estudo, os investigadores utilizaram a RMf para
avaliar a função das vias nervosas quando o cérebro se concentra em uma tarefa
específica. Compararam os resultados de uma amostra de 33 crianças , de 6 a 16
anos, com TDAH, com 32 controles sadios, de 8 a 16 anos, e correlacionaram os
achados com os obtidos nas provas de funções executivas (Wisconsin Card Sorting
Test y Stroop Color-Word Test).
Os resultados mostraram que os pacientes com TDAH tinham
alteradas a estrutura e a função localizadas em áreas do cérebro como o córtex
órbito-frontal, que participa principalmente do processamento cognitivo e do
planejamento estratégico, e no globo pálido, que está implicado no controle
inibitório.
O estudo sugere que as anormalidades estruturais e
funcionais nestas regiões cerebrais podem causar a falta de atenção e a
hiperatividade dos pacientes com TDAH, e que os resultados preliminares mostram
a associação entre os achados de imagem e os sintomas.
Os investigadores também encontraram anormalidades nas conexões entre as redes do cérebro associadas com a disfunção executiva em estado de repouso. Essas anomalias indicam alterações cerebrais mais extensas no TDAH do que já se havia demonstrado.
Os investigadores também encontraram anormalidades nas conexões entre as redes do cérebro associadas com a disfunção executiva em estado de repouso. Essas anomalias indicam alterações cerebrais mais extensas no TDAH do que já se havia demonstrado.
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
357- TDAH - Doze Dicas Para Ter o Professor do Seu Filho no Seu Time
Fazer uma
parceria com o professor do seu filho pode significar a diferença entre o
sucesso e o fracasso em classe. Por Eileen Bailey.
1- Seja um
jogador da equipe.
Seu filho
fica seis horas por dia, 1200 horas por ano, em sala de aula com o professor, a
cada ano. Quando você e o professor do seu filho trabalham juntos, seu filho
terá uma experiência escolar positiva e bem sucedida, educacional e
socialmente. Exige esforço, mas assegure-se de estabelecer um relacionamento
cooperativo com o professor.
2- Comece bem
o ano.
É uma boa
ideia iniciar uma conversa com o novo professor do seu filho. Alguns pais
preferem enviar uma carta apresentando seu filho e dando informações sobre suas
necessidades. Outros pais acham que uma conversa face a face é o melhor. Fazer
contato como professor do seu filho logo de início permite que o professor
saiba que você cuida e que está envolvido, e que será um parceiro cooperativo
se os problemas surgirem.
3- Mantenha
atitude positiva.
Seja por
telefone, email, ou sentado face a face com o professor do seu filho,
assegure-se de que a comunicação seja positiva e otimista. Atacar o professor
faz com que ele fique na defensiva, diminuindo seu desejo de colaborar com
você. Não se esqueça do fato de que a maioria dos professores quer ajudar e ver
seu filho ser bem sucedido.
4-
Comunique-se com o professor de modo conveniente.
Falar com o
professor atualmente é muito maia fácil - email, textos, chamadas telefônicas,
recados em sites e redes sociais. Logo no início do ano, fale com o professor
para descobrir qual o melhor método, de modo que você fique sempre atualizado
com o que aconteça em sala de aula e sobre os trabalhos de casa. Uma semana
pode ser melhor para um email, outra para texto. Determine também, junto com o
professor, com que frequência vocês devem se comunicar.
5- Não leve as coisas para o lado pessoal.
Os pais
ficam na defensiva quando um professor relata as falhas do seu filho. Se o
professor lhe diz que seu filho é bagunceiro e que não obedece, tenha empatia
por ele e trabalhe em conjunto para encontrar uma solução. Concorde que seu
filho pode ser um chato e continue a conversa no sentido de resolver o
problema.
6- Corte os
problemas pela raiz.
Imagine
descobrir que seu filho vai fracassar em uma disciplina somente a poucas
semanas do final do semestre. Evite isso envolvendo-se logo de início e pedindo
para ser avisado dos problemas logo que surjam. Marque uma reunião com o
professor do seu filho durante a segunda ou terceira semana no início das aulas
para resolver esse assunto. Desse modo, você poderá resolver a falta de entrega
de algum trabalho ou notas baixas a tempo.
7-
Compartilhe o que funciona.
Você conhece
seu filho melhor que ninguém e as estratégias de classe que funcionaram para
ele no passado. Compartilhar essa informação ajuda o novo professor a entender
melhor como conquistar e ensinar seu filho. Não fale somente dos fracassos de
seu filho; discuta o que funciona. Em vez de dizer "Ele não escuta",
diga, "Acho que quando faço contato visual ao dar as instruções, ele
escuta melhor".
8- Vá
preparado.
Seja em uma
reunião, pela primeira vez, com o professor do seu filho, ou indo a uma reunião
de pais e mestres, vá preparado. Tenha uma lista de perguntas e de
preocupações, amostras de trabalhos e provas escolares, anotações de
professores anteriores, e acomodações que tenham funcionado. Mantenha a
informação em uma pasta-arquivo para que seja mais fácil transportar e
compartilhar. Depois da reunião, faça anotações e guarde-as na pasta-arquivo.
9- Apareça e
envolva-se
As escolas
frequentemente dependem de ajuda voluntária e da participação dos pais. Faça
parte da Associação de Pais e Mestres, seja voluntário em classe, no trabalho
de secretaria ou na biblioteca ou acompanhe uma excursão ao campo. Você poderá
observar como suas crianças se comportam no início na escola e conhecer outros
pais e o pessoal da escola. Você se tornará um deles, em vez de um pai exigente
demais e autoritário.
10- Resolva
um desentendimento com o professor.
Se você e o
professor do seu filho não conseguem concordar com a solução de um problema ou
se o professor não está colaborando, pergunte qual será o próximo passo em vez
de se retirar enraivecido. Você pode sugerir que o psicólogo da escola, o
conselheiro ou o diretor sejam incluídos na busca de uma solução. Pergunte ao
professor se ele gostaria de marcar uma reunião.
11-
Aconselhe-se com o professor.
Assim como
você compartilha informação com o professor, ele pode lhe dar dicas para ajudar
seu filho em casa. Faça perguntas sobre o desempenho escolar do seu filho e
sobre as disciplinas nas quais ele tem dificuldade. Peça dicas e material que possa
utilizar em casa para ajudar seu filho a ser bem sucedido na escola.
12- Demonstre sua gratidão
Todos
gostam de um elogio. Se o professor de uma criança faz algo com que um pai não
concorde, os pais geralmente mandam um email ou ligam para reclamar. Quão
frequentemente você manda um email para cumprimentar um professor ou para
agradecer por algo que ele tenha feito ou dito? Quando o professor do seu filho
deixa um pouco de sua rotina de trabalho para entender seu filho ou para
ajudá-lo a se sentir aceito, certifique-se de mostrar sua gratidão.
ADDitude. (veja, também, a postagem 286, neste blog)
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
356- TDAH - O tratamento do seu filho é o pacote completo?
A medicação trata somente as deficiências neuroquímicas
do déficit de atenção. Nós temos de tratar, também, os problemas psicológicos e
sociais. Por Larry Silver, M.D.
Terminei meu treinamento em psiquiatria geral, seguido
por treinamento em psiquiatria da criança e do adolescente em meados de 1960.
Minha especialidade médica era uma sub-especialidade relativamente nova da
psiquiatria. Naquela época, a teoria de entender e tratar a criança era centrada
na teoria psicanalítica e na psicoterapia psicanaliticamente orientada. Todo
meu treinamento e supervisão clínica foram baseados nesse modelo. Eu era
fascinado pela psicologia da mente. Mas, igualmente, era interessado na
compreensão do funcionamento cerebral, e na relação entre o cérebro e a mente.
Com a permissão do diretor do meu programa de
treinamento, atendi conferências de casos para os residentes em outra nova
sub-especialidade médica, Neurologia da Criança. Lá, um menino tinha uma coisa
chamada de Reação Hipercinética da Infância. Hoje ela é chamada de Transtorno
de Déficit de Atenção e Hiperatividade. A criança era hiperativa e ia mal na
escola. Ela foi medicada com dextroanfetamina e seus sintomas melhoraram.
Eu estava lidando com uma criança com sintomas
semelhantes na terapia. Ela estava com todas as características de Reação
Hipercinética da Infância. Eu discuti minha ideia de tentar a medicação. Meu
supervisor não gostou da ideia de usar medicação em vez de psicoterapia e me
encorajou a me concentrar na "psicodinâmica do caso". Eu estava
frustrado por causa da falta de progresso do caso, então assumi o risco de me
meter em apuros. Em colaboração com o pediatra do meu paciente, dei um jeito
dele começar a tomar a dextroanfetamina. Os pais dele, assim como os
professores e o paciente notaram uma dramática melhora. Ele conseguia ficar
sentado na classe e se concentrar no seu trabalho. Seu comportamento bagunceiro
cessou. Eu não podia explicar ao meu supervisor que tinha ignorado suas
instruções e que tinha utilizado o tratamento medicamentoso. Então, eu tive de
afirmar que a psicoterapia e a orientação dos pais tinha resultado na melhora
dos comportamentos. Meu supervisor elogiou meu trabalho.
Como as Coisas Mudaram
Desde então, a psiquiatria da infância e da adolescência
percorreram um longo caminho. Usamos um modelo biopsicossocial que leva em
conta a função cerebral, assim como as funções, psicológica e social, todas no
contexto da vida da criança dentro da família, na escola e com os colegas. Os
estudos de crianças com TDAH nos ensinaram sobre a relação entre função
cerebral, ou disfunção, a os comportamentos clínicos observados.
Muitos crêem que o TDAH foi o primeiro transtorno a ter
demonstrado ser o resultado de uma deficiência na produção de um
neurotransmissor específico, em áreas específicas do cérebro. A descoberta de
que um grupo de medicamentos - chamados de estimulantes, porque estimulam
células nervosas específicas a produzir mais do seu neurotransmissor
deficitário - causava uma diminuição, ou o desaparecimento, da hiperatividade,
desatenção e/ou impulsividade observadas abriu o campo da psicofarmacologia da
criança.
Atualmente, sabemos de outros transtornos que são o
resultado de uma deficiência de neurotransmissores específicos em áreas
específicas do cérebro. Até hoje, não encontramos um transtorno que pareça ser
o resultado de um excesso de um neurotransmissor produzido em área específica
do cérebro). Para cada um desses transtornos, temos medicamentos que aumentam a
produção do neurotransmissor, levando à melhora. Foram estudos de indivíduos
com TDAH que expandiram nosso conhecimento da neurociência e do tratamento de
doenças neurologicamente estabelecidas.
Lições Aprendidas
Deixem-me voltar à minha história. Depois dos meus anos de
treinamento, ingressei na faculdade de um centro médico universitário. Onze
anos depois, mudei-me para o National Institute of Mental Health (Instituto
Nacional de Saúde Mental). Depois, voltei para um centro médico universitário.
Nesses mais de 40 anos, minhas áreas principais de pesquisa, de trabalhos
clínicos escritos e de atividade clínica foram sobre o TDAH e as Dificuldades
de Aprendizagem. Durante esses anos, o pêndulo gradualmente oscilou dos modelos
psicológicos para os biológicos para a compreensão do comportamento normal e da
psicopatologia. Hoje, o pêndulo está no centro, com atenção igual na disfunção
cerebral e nos desafios psicológicos e sociais.
Agora sabemos que uma deficiência de um neurotransmissor
específico em áreas específicas do cérebro explica as dificuldades encontradas
em uma criança ou um adulto com TDAH. Sabemos que certas medicações corrigem a
deficiência do neurotransmissor, resultando em uma redução ou na eliminação
dessas dificuldades. Também aprendemos que medicamentos isoladamente não são
suficientes. Uma pessoa diagnosticada com TDAH vive em uma família e precisa
funcionar em um mundo real, com todas suas expectativas e demandas. Não podemos
tratar somente a deficiência neuroquímica.
Ainda há médicos, incluindo alguns psiquiatras da
infância e da adolescência, que parecem ter se fixado em um só lado do
problema. Seu foco é muito intenso na medicação e muito fraco na exploração dos
possíveis desafios familiares e psicossociais.
Deixem-me lhes dar um exemplo. Um pai leva seu filho ao
médico de família. O pai diz: "O professor dele diz que ele não consegue
ficar sentado quieto e que não está prestando atenção à aula. Eu vejo as mesmas
coisas em casa." O médico escuta hiperatividade e desatenção e conclui que
é TDAH, e preenche a receita com um estimulante.
No que o médico errou? A inquietação e a desatenção podem ser o resultado de dificuldades com as tarefas acadêmicas, possivelmente devido a uma Dificuldade de Aprendizagem. Ou as dificuldades podem refletir o estresse na família por problemas entre os pais. A hiperatividade poderia ser o resultado de ansiedade, não de TDAH.
No que o médico errou? A inquietação e a desatenção podem ser o resultado de dificuldades com as tarefas acadêmicas, possivelmente devido a uma Dificuldade de Aprendizagem. Ou as dificuldades podem refletir o estresse na família por problemas entre os pais. A hiperatividade poderia ser o resultado de ansiedade, não de TDAH.
Os médicos e os pais devem se lembrar: Nem todos os
indivíduos que são hiperativos, desatentos e/ou impulsivos têm TDAH.
Os comportamentos vistos em crianças, adolescentes ou adultos que têm TDAH podem também ser vistos em indivíduos com outras doenças - depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, para citar algumas. Também é possível que tais comportamentos sejam o resultado da frustração do estudante na escola, por causa de uma Dificuldade de Aprendizagem, outro transtorno relacionado com o cérebro.
Os comportamentos vistos em crianças, adolescentes ou adultos que têm TDAH podem também ser vistos em indivíduos com outras doenças - depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, para citar algumas. Também é possível que tais comportamentos sejam o resultado da frustração do estudante na escola, por causa de uma Dificuldade de Aprendizagem, outro transtorno relacionado com o cérebro.
Precauções para todos nós
É importante determinar se os comportamentos são neurologicamente
ou psicologicamente baseados. Temos protocolos clínicos em nosso Manual de
Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais (DSM-V) para ajudar a distinguir
entre os dois.
Se a inquietação, desatenção, dificuldades de organização, ou impulsividade se iniciam em certa hora ou ocorrem somente em certas situações, é provavelmente um problema psicológico.
Se os comportamentos são crônicos (você os notou desde a infância) e invasivos (ocorrem em casa, na escola, no trabalho, com os colegas), provavelmente são um problema derivado do cérebro, tal como o TDAH.
Se a inquietação, desatenção, dificuldades de organização, ou impulsividade se iniciam em certa hora ou ocorrem somente em certas situações, é provavelmente um problema psicológico.
Se os comportamentos são crônicos (você os notou desde a infância) e invasivos (ocorrem em casa, na escola, no trabalho, com os colegas), provavelmente são um problema derivado do cérebro, tal como o TDAH.
Para seu médico fazer um diagnóstico de TDAH, ele deve
provar que esses problemas observados são o resultado de problemas relacionados
com o cérebro, não psicológicos, familiares ou derivados do estresse social.
Como isso é feito?
1- Documente quais comportamentos a criança ou o adulto
têm.
2- Mostre que esses comportamentos são crônicos.
3- Mostre que esses comportamentos são invasivos. Se os
comportamentos identificados começaram em certa época da vida ou se ocorrem
somente em certas situações, o TDAH não deve ser considerado.
Têm sido, para mim, 40 anos maravilhosos, fazer parte da
transição de um modelo psicológico de entendimento do comportamento para um
modelo que envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais. Em grande parte,
o estudo do TDAH me levou a essa jornada.
Larry Silver, M.D.
ADDitude
terça-feira, 5 de agosto de 2014
355- Como conquistar os aprendizes relutantes
Como conquistar os aprendizes relutantes
Por Nancy Barile
Umas das minhas coisas favoritas no Facebook é que ele
permite que eu me conecte com meus antigos alunos. entretanto, fui surpreendida
quando um aluno em particular, Eddie Scofield, me adicionou como amiga há 3
anos.
Eddie e eu tivemos um relacionamento muito conturbado
quando ele era meu aluno na classe de inglês avançado em 2008. Havia 35 alunos
naquela classe, muitos dos quais tinham uma
mistura de problemas acadêmicos e de comportamento. Eddie se distingui
quase que imediatamente como o líder na criação de problemas. Em algum dia ele
podia ser questionador, sarcástico, oposicionista, às vezes preguiçoso e
definitivamente maldoso.
Depois das duas primeiras semanas com Eddie, eu estava arrancando
meus cabelos. Eu imaginava meios de fazê-lo trocar de classe. Mas um par de
estratégias eficientes mudou nosso relacionamento - e eu não percebi isso até
que eu e Eddie nos encontramos em um recente projeto.
Pensando sobre o passado
Recentemente, convidei Eddie a passar em meu colégio. Eu
estava preparando um workshop para nosso distrito chamado "Motivando o
Aprendiz Relutante", e pensei que ele pudesse ser capaz de fornecer dicas importantes sobre esse assunto.
Ele acabou contando sua história pessoal no workshop, e
eu aprendi muito mais sobre ele, coisas que eu não sabia quando ele era meu
aluno. Por exemplo, eu não sabia que ele tinha sido por uns tempos um sem casa,
durante o colegial, que seu padrasto tinha sido convocado depois do 11 de
setembro, ou que sua mãe era uma viciada em drogas. Eu não imaginava que tivesse
tido um enorme impacto sobre Eddie - e que minha classe tivesse mudado sua
vida.
Quando Eddie acabou de falar naquele dia, eu tinha
aprendido muito sobre meu antigo aluno. Mas essa não foi a melhor parte: ao
final da apresentação, ele deu dez dicas de motivação para os aprendizes
relutantes. Espero que vocês as achem valiosas, como eu e meus colegas achamos.
As dez dicas de Eddie para motivar os aprendizes
relutantes
1- Seja entusiasmado com o seu trabalho. Os alunos não
podem ficar excitados para aprender se o professor for claramente desinteressado.
2- Não suponha. Um aluno pode parecer ser um problema ou
ter uma reputação na escola. Você pode ter tido um contato com ele ou saber
dele por um irmão. Entretanto, a verdade é que você nunca saberá como um aluno vai
agir ou desempenhar em sua classe. É melhor começar com uma lousa limpa - e
imaginar que ele esteja pronto e querendo trabalhar com afinco.
3- Relutância e ignorância não são sempre mutuamente
inclusivas. Eddie ressaltou que os aprendizes relutantes não são
necessariamente aprendizes incapazes. Se você fizer essas pressuposições sobre
um aluno, tenha certeza de que ele irá definitivamente se tornar um relutante.
Eddie me lembrou de um incidente quando ele deveria
escrever um trabalho mas não queria assumir a tarefa. Eddie gastou a maior
parte da aula embromando, jurando que ele podia escrever um trabalho que
tirasse nota A+ nos últimos 20 minutos da aula. Então, eu aceitei o desafio
dele. É claro que ele escreveu um trabalho brilhante em 20 minutos,
principalmente porque ele apreciou o fato de eu ter lhe dado autonomia para
usar o tempo eficientemente.
4- Comunique-se com os outros educadores. Lá atrás,
quando eu estava arrancando meus cabelos por causa do Eddie, fui falar com sua
professora anterior de inglês. Fiquei surpresa quando ela começou a falar emocionada sobre ele. Ela me
contou que ele tinha tido uma vida difícil em casa e que eu precisava dar a ele
uma chance. Então, eu ouvi e mudei minha abordagem. Eddie disse que gostou do
modo pelo qual sua primeira professora o defendeu e forneceu informação sobre
sua situação, além do fato de que eu tinha tido o cuidado de dar a ele uma
segunda chance.
5- Faça perguntas e se importe. Eddie disse que quando
ele estava no colégio, frequentemente queria que um professor ou o
administrador lhe perguntassem o que estava errado. Ele disse que provavelmente
teria dado uma resposta, mas ele teria se sentido muito melhor se alguém tivesse
mostrado que se importasse o bastante para fazer a pergunta.
6- Utilize o tempo em classe para mais do que aulas. É
difícil acreditar que ainda existem professores que ensinam sem parar, mas isso
acontece. Atualmente, há poucas razões para não variar a instrução e para
envolver mais os alunos em seu aprendizado.
7- Desafie os alunos respeitosamente. Todos nós sabemos
quando um aluno está sendo deliberadamente criador de caso e querendo nos tirar
do sério. Mas é importante ser respeitoso quando desafiar os alunos - não cause
embaraço, não humilhe, não faça gozação com eles. Em vez disso, encoraje-os e
reúna-se privadamente para discutir suas preocupações.
Descubra o que está por
trás do seu mau comportamento ou desinteresse em fazer a tarefa. Eddie me
contou que uma das coisas que o fisgou na minha classe foi meu senso de humor e
o fato de que eu podia contestá-lo ponto a ponto em sarcasmo, não maldade ou
ataques pessoais, mas sarcasmo espirituoso e brincalhão. Isso o ajudou a
construir uma ligação comigo, como professora.
8- Seja justo e vigilante no apoio das regras
estabelecidas em classe. Não dê um privilégio a um aluno e recuse-o a outro.
Alunos são superconscientes dessa dinâmica e sabem exatamente o que acontece na
classe.
9- Puna imediatamente as infrações graves. Eddie tornou
claro que os professores precisam usar disciplina imediata para comportamento
que esteja fora de propósito. Mas ele sugeriu que infrações menores sejam
manejadas de maneira sem confrontação, talvez depois da aula ou em uma conversa
privada, para não humilhar ou envergonhar os estudantes. Por exemplo, Eddie
nunca se esqueceu do professor que ligou para sua mãe em frente de toda a
classe.
10- Estabeleça conexões pessoais. Estabelecer fortes
relações com seus alunos e criar um ambiente no qual você e os alunos estejam
trabalhando na direção de um objetivo comum, é provavelmente a única coisa mai
poderosa que você pode fazer para motivar um aprendiz relutante. Pergunte a um
jogador de futebol se ele viu o jogo do time dele na noite anterior. Faça um
comentário sobre uma camiseta interessante que um aluno esteja vestindo.
Reconheça o sucesso de um aluno no campo dos esportes ou em um jogo escolar.
Prestar atenção nos aprendizes relutantes é um longo caminho na motivação
deles.
As dicas de Eddie são simples e intuitivas. Mas mesmo sendo
uma professora veterana com 19 anos de prática no ensino eu me sinto renovada
após revê-lo. Penso que podemos todos nos beneficiar voltando atrás e
reavaliando as maneiras com que lidamos com os aprendizes relutantes.
Então, você deve estar se perguntando - o que faz o Eddie
atualmente? Tenho o maior prazer em ouvir que ele é um calouro na Salem State
University. Mas fiquei chocada quando ele revelou sua escolha de carreira: ele
planeja ser um professor colegial de Inglês. Ele até está fazendo seus alunos
estudar comigo no outono!
Como sua antiga professora - e futura colega - eu não
poderia estar mais orgulhosa.
Nancy Barile
Nancy Barile (@nancybarile), a National
Board Certified Teacher, has taught English language arts at Revere High School
in Revere, Mass., for 19 years. She advises the Culture Club and Future
Teachers Club and is an adjunct professor at Emmanuel College. A CTQ Collaboratory member, Nancy won The Kennedy Center/Stephen Sondheim
Inspirational Teacher Award in 2013 and serves on the College Board New England
Regional Council.
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
354- A ESCOLA IDEAL: UM CONCEITO EM CONSTANTE DESENVOLVIMENTO
Dr.
Mauro de Almeida
A inclusão
só será completa no dia em que deixar de existir.
Essa frase resume o propósito deste
trabalho.
Quando, em 2.008, no ”Congresso
Aprender Criança” começamos a falar em inclusão, não tínhamos ideia do que isso
representaria para a nossa Comunidade depois de seis anos.
Apresentamos, naquela oportunidade, o
que chamamos de “Manifesto Vinícius”, uma abordagem de questionamento à forma
em que a inclusão é feita em nosso país, dando a todas as crianças e
adolescentes o direito de frequentar a escola normal, mas sem estratégias para
lidar com as diferenças. A base daquela apresentação mostrava um relatório de
aproveitamento expedido pela escola para um aluno com diagnóstico de TDAH
idêntico ao documento de outro aluno com baixo aproveitamento advindo de
problemas familiares e ambiente hostil.
Hoje, temos a certeza da necessidade
de trabalhar o tema da inclusão escolar de forma ampla, total e irrestrita,
mesmo que isso gere – e gerará – uma série de polêmicas entre acadêmicos,
legisladores, autoridades científicas e educacionais.
Não se tem notícia de nada parecido
como esta cartilha NO MUNDO INTEIRO. Então, pelo ineditismo, pela coragem e
pela revolução nos hábitos e costumes, somos, todos nós, desbravadores em pleno
Século XXI, de um dos temas mais antigos da Humanidade: as diferenças entre as
pessoas e o respeito à individualidade.
O tema do Aprender Criança 2.012 foi,
justamente, a inclusão escolar.
Tivemos a grande oportunidade de ver
e ouvir grandes especialistas que, além de palestras memoráveis, colaboraram
conosco na elaboração de proposições para aplicação nas escolas e salas de
aula.
A nosso pedido, essas proposições não
foram limitadas a essa ou àquela dificuldade econômica, arquitetônica,
profissional ou instrumental que uma localidade qualquer possa ter e –
evidentemente – todas têm. Por que? Para que pensemos em soluções amplas, em
consecução de ideais de preparação dos profissionais, em captação de recursos,
em crescimento contínuo. Incluir requer esforços de mudança de paradigmas, a
começar por limitações já culturais do tipo “isso é utópico”, “minha escola não
tem nem giz”, “vocês estão loucos”, etc e tal. Em nossa primeira cartilha, o
Projeto Atenção Brasil, falamos muito sobre a questão da RESILIÊNCIA:
precisamos adotar esse conceito como prioridade em nossa caminhada. Lembrem-se
disso a cada dificuldade, a cada barreira.
Afinal: a escola ideal existe?
Não, não existe. Mas podemos nos
aproximar de algo melhor a cada dia.
Basta observar nossa proposta número
7: “Incluir alunos com NEE em classe regular envolve mudanças pedagógicas e na
estrutura curricular que devem ser individualizadas dentro de um projeto
escolar que atenda às demandas de singularidade frente às limitações do
pensamento (concretude); além do desenvolvimento de habilidades frente às
limitações de participação e atividade, dada a diversidade dos alunos
incluídos.”
Uma vez atendida em sua plenitude,
essa proposta resume o conceito atual de “escola ideal”. Mas será que, de
fato, estamos construindo uma escola que se aproxime disso?
Propusemos uma discussão entre especialistas
em educação com formações diferentes e atividades diversas.
A Professora Camila Pestana (atuando
em escola particular), a Psicopedagoga Mirella Jorge (de instituição para
alunos com necessidades especiais de aprendizagem), a Psicóloga Paula Stipp (de
uma instituição voltada para deficientes mentais) e a profissional de
sustentabilidade e responsabilidade socioambiental Giuliana Preziosi.
As quatro são unânimes ao aprovar a
proposta número 7 desta cartilha. O que elas dizem: para Giuliana, “precisamos
extrapolar a barreira física, que é premissa, e pensar na metodologia, com
raízes sistêmicas onde tudo deve estar conectado. A escola ideal é pautada no
respeito e na empatia. É uma escola que acompanha as mudanças do mundo e
constrói soluções em conjunto para lidar com suas adversidades”.
Para Mirella, “a escola ideal é a que
acolhe todas as crianças diante de suas diversidades, respeitando
particularidades, medos e anseios, com a ampla visão que o professor pode ser o
sujeito a fazer toda a diferença na vida escolar de cada criança, juntamente
com uma equipe disposta a incluir e a ter um olhar de respeito e afeto.
Oferecendo meios significativos de aprendizagem real a todos”.
Paula afirma que “a escola ideal é a
que proporciona uma educação de qualidade para todos, analisando dificuldades e
potencialidades de cada aluno de forma a atender necessidades individuais. Deve
ter, acima de tudo, o objetivo de formar cidadãos solidários e valorizar as
diferenças”.
Camila acredita que “a escola ideal
não deveria ser inclusiva, pois a escola é para todos. Educar não é tarefa
fácil e lidar com diferenças, menos ainda. O espaço escolar é o ambiente mais
rico para se trabalhar as relações sociais e de saberes. Hoje, as escolas
pretendem que os alunos se adaptem a ela, ao invés de mudar seus procedimentos
e atender as necessidades de cada aluno. O nosso desafio em quebrar esses
paradigmas, se inicia em nossa formação enquanto educadores e se reflete em
nossa prática. Incluir um aluno em educação formal é fazê-lo pertencer àquilo
que tem por direito”.
Mas, como transformar esses conceitos
em práticas?
Giuliana diz que “Além de capacitação
e treinamentos adequados, o professor aprende junto com os alunos a superar
dificuldades. As aulas, além de conteúdo, ganham vivências e experiências
compartilhadas”.
Para Mirella, “é preciso priorizar a
criança na escola comum, mas os que apresentam NEE devem ser acompanhados por
uma equipe multiprofissional, seja na própria escola ou numa instituição em
período oposto, desde que haja troca entre educadores e especialistas”.
Para Paula, “a complementação para os
que apresentam NEE deve ser feita numa escola especial, auxiliando com
procedimentos especializados, terapias diversas, estimulação precoce e
preparação para o mercado de trabalho”.
Camila afirma que “há necessidade de
formar professores com excelência, com rotinas e currículo escolar muito bem
planejados e reais ao grupo pertencente, com práticas sociais como assembleias
e parceria com a família.”
Essas profissionais são pessoas
ideais para embasar essa proposta porque são educadores do dia a dia, gente que
enfrenta as dificuldades reais da educação voltada para o direito de todos.
A essas afirmações acrescentamos a
visão de que estamos em pleno processo de mudança, de que a escola não é algo
estático e de que, a cada momento, nos deparamos com situações novas e
inesperadas.
É fato que, quanto mais o
planejamento for eficaz, menor a chance de errar, mas isso não nos garante uma
fórmula imutável de sucesso.
O objetivo desta cartilha, seus
indicadores de desempenho e a avaliação constante dos progressos obtidos em
cada escola participante nos dão a certeza de que nos aproximaremos SEMPRE de
algo melhor.
É assim que iremos construir a
“escola ideal”, com adaptações e aperfeiçoamento constantes, com participação
de todos os agentes envolvidos e contando com a participação efetiva de
profissionais de saúde engajados nas rotinas pedagógicas.
COMUNIDADE
APRENDER CRIANÇA - Dr. Marco Antônio Arruda
Diretor do Instituto Glia
Diretor do Instituto Glia
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